Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

sábado, 13 de novembro de 2010

Protegida

Belmonte, José Alves
NOTA PRÉVIA PARA OS MAIS INCAUTOS: não há coincidência entre o real aparente e o imaginário. As minhas palavras não são autobiográficas e não se destinam a ninguém. São palavras e eu gosto de as juntar. Talvez nasçam de algum dia cansativo de trabalho, do voo de  uma ave, da luz do amanhecer, de alguma fugitiva nostalgia...
Poderia dissertar sobre teorias literárias, mas este não é o meu espaço de trabalho e não considero plenamente literário aquilo que escrevo. Assim me sinto desculpada.
Preciso desta nota, para responder a algumas pessoas que me têm questionado sobre o assunto.



Não devia, sem dar, fazer nascer o repartir,
Não devia vir onde me afasta o meu ir...
Este encontro nascido do regresso,
Esta alma nua a virar almas do avesso!

Não queria ser suave e ser ferro;
Não poderia ser o gérmen do erro.
Não queria fazer vergar se estou a vacilar,
Não podia partir no meu sentido ficar!

Meu Deus, isto que lanço, isto que invento,
Isto que é um aproximar, um pressentir,
Jamais veio de mim ou do meu intento!

Senhor, por que sou um não sei quê que faz sentir
Um desencontro de protegida dormindo ao relento?
Por que sou a perturbação de quem me pede p'ra sorrir?


 Ana

14 comentários:

Andradarte disse...

Depois da prévia.....não vou dar palpite, simplesmente que adorei
este soneto...
Beijo

Gerana disse...

Bravo! Bravíssimo!

Cristina disse...

Lindo fotografia...
Beijinhos, Ana.

MARU disse...

Razáo de mais para apreciar a tuas palavras...
Tudo o que nace direitamente de un coraçäo, de um estadio da alma, duns sentimientos que queres compartir, säo un presente que nos ofreces, desprovisto de intereses e de preço.

Assim, que con mais motivo:
Obrigada, querida amiga.
Um beijinho

ETERNA APAIXONADA disse...

Minha querida amiga

Todo poeta é um fingidor... Escreve o que vai n'alma... E nem sempre representa a realidade...
Lindo o que escreve!
Mais uma vez chego em postagem que revela sua sensibilidade linda!
Tenha uma tranquila semana.
Muitos beijos.

Unknown disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Nilson Barcelli disse...

A confusão entre o sujeito poético e a pessoa do autor é frequente.

Mas não há confusão no teu poema: é excelente.

Querida amiga, boa semana.
Beijos.

Fernando Santos (Chana) disse...

Olá Ana, bela fotografia e soneto...Espectacular....
Cumprimentos

Flor de sal disse...

Ei Ana!

quanta suavidade , eu também
"sou um não sei quê que faz sentir..."

Beijos flor!

Bípede Implume disse...

Querida Aninha
O que nos fica é o acto criador e esse só a arte explica.
Os "banners" mudam com tanta frequência e cada um mais bonito.
Boa semana,amiga.
Beijinhos
Isabel

ADRIANO NUNES disse...

Amada Ana,


Bravo!


Abraço fraterno,
Adriano Nunes.

Laura disse...

Lindo, lindo, escreve sempre tao bem. Beijinho saudoso

Fê blue bird disse...

Um soneto em forma de lamento, de queixume.
A faceta sensível de uma alma à procura de um caminho.
Gostei bastante porque o senti.

Beijinhos

Janaina Amado disse...

Ana, um beijo e um abraço. Cheguei de viagem, segui tuas sugestões em Málaga, gostei tanto da cidade!
Este yru poema é particularmente belo, li-o algumas vezes. Lembrou-me este abaixo da Hilda Hilst que, embora diferente, me pareceu ter algo a ver, talvez o sofrimento da ambiguidade. Um beijo e saudade.

"Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela/
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.

Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)

Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel

Não saber se se ausenta ou se te espera./
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra./"
Hilda Hilst