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Peeter Neeffs I - 1578-1660
Que passei anos a estudar o Barroco já não é por aqui novidade. Que levei horas a fio a ler processos inquisitoriais, menor novidade é ainda...foi tempo perdido? Não. Orgulho-me disso? Não, e o motivo é simples: a minha ideia de Deus escapou-se-me das catedrais para universo. Eu decidi fazê-lo por me sentir inquieta com tudo o que se oculta sob a camada superficial dos seres e das épocas. Sobre o referido período as camadas de ocultação tombaram em abundância. A fragilidade da sociedade portuguesa da época, que se deslumbrava com os modelos dos dominadores e expulsava os seus melhores filhos, tornou-se um paradigma daquilo que somos hoje - dependentes, pretendentes e obscuros.
Desses tempos guardo muitos pintores e autores a que retorno amiúde. Por estes dias, de muito trabalho e provações diversas em terrenos de armadilha e poeira, vou relendo Baltasar Gracián y Morales que sendo jesuíta - com tudo o que isso significou então - teve a lucidez necessária para perspectivar o seu tempo. A obra tem o sugestivo título: O Discreto. Num momento em que se fecham por aí governantes e pretendentes e na catedral se aplaudem políticos com estridentes palmas, enquanto seguranças de serviço vigiam as ruas, aqui vos deixo - com o sabor de antanho - um excerto daquilo que leio:
«Daqui nasce que esses tais, mui pagos de sua paradoxia, solicitam a ocasião e andam à caça de empenhos; vão à conversação como a contenda, levantam porfias, e, feitos harpias insofríveis do bom gosto, a tudo arranham com suas acções e a tudo dessazonam com suas palavras. [...] Se passam logo de bacharéis de presunção a licenciados de malícia monstros da impertinência.»(pág. 87).
Ana
O paradigma de hoje!
ResponderEliminarExcelente post....
ResponderEliminarCumprimentos
Eis um jesuíta lúcido num tempo escuro e que, infelizmente, se repete hoje.
ResponderEliminarAninhas, tens um desafio lá em casa e acho que nem te é complicado, rrss
Beijinhos, minha linda
Crónicas profundas....
ResponderEliminarMuito bonito o cabeçalho...
O palhaço do meu post....é a Amália..
Beijo
Olá Ana! Obrigada pela visita ao meu blogue. bom demais te ver por lá!
ResponderEliminarGostei do post. Sempre bom aprender um pouco mais!
Mil beijos pra ti!
Querida Aninha
ResponderEliminarO que é triste verificar é que afinal não se aprendeu nada.
Mas o texto é muito oportuno.
De férias não é assim? Que bom!
Aproveita bem.
A Sandra está quase a chegar, também
Beijinhos
Isabel
Ana,
ResponderEliminarEm poucas palavras
uma excelente análise
da sociedade actual:
jugos, vícios e defeitos
que se contagiam ao longo de séculos!
Fantástica leitura,
cuja divulgação muito lhe agradeço.
Bom Domingo
Grande abraço
O saber nunca ocupa lugar.
ResponderEliminarBeijo