quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Memória histórica


Regressamos de Lisboa por um túnel de chuva cinzenta e triste. O rádio do carro informa-nos que morreu hoje, aos 105 anos, a viúva do General Humberto Delgado. Paz à sua vida.

Regresso pelo túnel de chuva cinzenta à menina que fui. 
Regressados do monte, os homens refugiam-se na casa, no quarto. Eu e o meu primo, miúdos de sete anos, jogamos cartas sentados no chão sobre uma manta. As vozes ecoam-me de um tempo remoto:
- Foram uns caçadores, ali na fronteira, que encontraram os corpos. Um cão farejou os restos...
Hei-de ter pesadelos nessa noite e noutras seguidas. 

Regresso pelo túnel de chuva a um tempo ao qual o meu país parece querer regressar. Ainda tenho pesadelos, mas já não encontro a criança que fui...

Regressos.



8 comentários:

  1. Hoje nem é preciso mandar assassinar, basta a omissão dos média, os cães não farejam nada e em réstias de informação é-lhes facultada a prova de vida...
    para memória futura
    esta é outra forma de ditadura

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  2. Com ideias nasceram!
    Verdes permanecem
    De todo não morram
    Delas não se esquecem
    Às do ditador arraigadas
    Cujas raízes eles querem
    Contra o povo envenenadas!

    Continuação de bom ano.
    um beijo
    Eduardo.

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  3. Gosto dos túneis que nos levam a outros tempos... mas terão eles mesmo de morrer para sempre?

    Beijinho amigo

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  4. Quer dizer a senhora morre no dia em que se comemora o assalto ao quartel de Beja em que o seu assassinado marido esteve envolvido , ainda em plena ditadura...

    Paz a ambos!

    Misericórdia para nós, que estamos recuando na História.

    Bom ano para ti e para os teus, Aninhas

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  5. Querida Aninha
    Eu lembro-me dele em vida.
    Morava perto do Liceu Camões, onde ele esteve em campanha eleitoral.Eu vi-o. Guardo agora, às claras, mas antes escondidos, todos os seus discursos.
    Naquela época era o fascismo puro e duro, sabíamos com o que contávamos. Actualmente sob a capa da democracia é o que sabemos.
    Andamos todos adormecidos.
    Beijinho e votos de Bom Ano.
    Isabel

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  6. A vida sempre a caminhar levada no/pelo tempo.

    Beijinhos

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  7. Há pesadelos que permanecem, alguns tendem mesmo a acentuar-se. Como todos os membros da casa dos medos, só há uma solução: enfrentá-los!

    Beijo :)

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