Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165
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terça-feira, 3 de novembro de 2015

Ajuda (BA)

«site» oficial, BA

Olho as mesmas paredes, róseas das eras e de luxos antigos. A Teresa já não está por ali, talvez pode as suas roseiras na casa solitária e bela que ergueu para a aposentação. Sem filhos, mulher dos livros raros, cordial e vinda de África, imagino-a de sorriso aberto e ar despachado, magra e de saquinho enfiado no braço - como só um certo tipo de donas consegue fazer - a olhar para este friso de não académicos, senhores de enfatuado vazio e esgares de conveniência.
Andei por ali nos anos noventa, peito cheio de esperança, mas visão clara da circunstância em que aquelas portas se me abriram. Sentia-me como no interior de um templo de rara imponência, habitado por criaturas vagas e sábias que se deixavam vislumbrar em salas que nunca pisei. Uma paz de crente que poderia ter sido, mas sempre os imperfeitos humanos me fizeram um apelo inegável. Dizer «não» pode ser um desígnio.

Olho, chocada, este friso de homens e de mulheres que, parece, irão governar o que resta do meu país...que fazem, neste lugar?

Lá atrás, a Teresa traz-me a tradução manuscrita do meu homem do século XVII e esgueiro-me no tempo.
O templo foi profanado.

Ana