quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A fuga

Escola 
Oito horas. Céu límpido de Outono. Luz dura nos meus olhos cansados. Pureza linear de um minimalismo criador. 
Entre mim e a Escola duzentos metros de parque. Sobreiros ancestrais mantiveram o porte altivo. São desta terra, donos deste lugar, discretos e harmoniosos. Tê-los por companhia matinal suaviza um dia duro e longo.

Outono
E chego...
Vida, rodopio, campainha, tecla, vídeo, folha, livro, olhos e olhos e olhos...ávidos de saber e de ser...
Intervalo. Café, café, fala, cala, fala...
Cores tão estranhas para olhares alentejanos: a escola.

remodelada
Quem fez isto? Quem maquilhou assim o mármore inicial e branco, quem arrancou a cortiça dos tectos? Quem juntou estas surpresas visuais sobre o branco antigo? Quem fustiga assim os olhos habituados à pureza linear dos horizontes alentejanos?

Castelo de Vide

Tira-me daqui. Vamos em mais uma fuga atrás do horizonte. Foi longo o dia. Foi longa a verborreia. Leva-me a um lugar sem vozes.


Marvão

Leva-me contigo a um lugar sem ruído. Cacografias estilhaçam-me e eu quero, no rumor da Língua, o subtexto dos afectos.
Chegámos. Faz frio. Aqui, o Grande Arquitecto traçou ângulos perfeitos no silêncio.

Marvão

Amanhã regressaremos pela manhã ao lugar onde a Língua se estilhaça e os outros, nossos pares, discutirão em cada intervalo, envoltos nas cores antagónicas deste sítio do Sul, o artificialismo já velho, já gasto de um qualquer romper, de um vizinho quebrar, daquele antigo e já habitual, fútil, tabu.
  
                                                                                                               Ana


google
*NOTA: no meu país chama-se «tabu» a um assunto sobre o qual não se admite falar.



FOTOGRAFIAS DE JOSÉ ALVES

10 comentários:

  1. Que série interessante: imagens e palavras. Acompanhei como quem está ao lado.

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  2. Parabéns pelas palavras perfeitamente adequadas às belíssimas fotografias.
    Fiquei com imensa vontade de visitar esses belíssimos horizontes alentejanos que não conheço.
    Quem sabe se as suas inspiradas palavras não vou ser motivo para um passeio de fim de semana.

    Beijinhos

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  3. Compensações, contraditórias e opostas, mas tudo singularmente belo. Dias duros e dias de indolências, dias de falação e dias de quietude, cores estranhas ou minimalistas, mas os horizontes... existem dois iguais?

    Beijus,

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  4. Que fábula, Ana. Um dia mágico de outono, silêncio em ótima companhia (suponho), no subtexto dos afectos. Sorte tua querida. E que fotos tocantes!

    bj.

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  5. Belíssima edição, Ana.

    Andamos neste diz-que-disse como se houvesse tempo para tanto disparate e o orçamento -- Uma vez aprovado -- fizesse baixar os juros sobre a dívida soberana para um nível que nos fosse favorável e a solução dos problemas fosse vislumbrável.

    Lamentavelmente, não!

    Bjs

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  6. Querida Aninha
    Conheço Castelo de Vide e Marvão, mas vindo aqui e com a tuas palavras, é como se fosse um outro olhar. É de certo um outro olhar, mas que enriquece essas paisagens.Gosto tanto do que tu escreves.
    Beijinho e excelente fim de semana, abelhinha obreira.
    Isabel

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  7. Morreremos sempre cegos e no falso equilíbrio, jamais em pé como a bela paisagem apresentada - gostei do contraste! Bom fim-de-semana :)

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  8. Adoro esses trechos de um diário artístico, Ana, e complementado com lindas fotos. Grande abraço.

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