domingo, 27 de abril de 2014

Espaço interior

Florença - José Alves

quando o poema 
são restos do naufrágio 
do espaço interior 
numa furtiva luz 
desesperada, 

resvalando até 
à superfície, 
lisa, firme, compacta, 
das coisas que todos 
os dias agarramos, 

quando 
o poema as envolve 
numa aura verbal 
e se incorpora nelas, 
ou são elas a impor-lhe 

a sua metafísica 
e o espaço exterior 
que povoam de 
temporalidades eriçadas, 
luzes cruas, sons ínfimos, poeiras. 

Vasco Graça Moura, in Antologia dos Sessenta Anos
(Duas coisas me uniram a V. Graça Moura: o interesse pelo Renascimento e a profunda discordância na aplicação forçada de um AO que destrói a Língua e a sua evolução histórica. Que descanse em paz!)

3 comentários:

  1. Vasco da Graça Moura,
    Que descanse em paz
    Grande poeta português
    Tudo o que fez foi capaz
    Com sabedoria e altivez.

    Tenha uma boa noite,
    amiga Ana Tapadas, um beijo.
    Eduardo.

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  2. Falou-se de VGM lá na minha esplanada... faltou-me fazer o link ao que li aqui. Mas vou a tempo!

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  3. Que descanse em paz, sim. Vai fazer-nos falta mais esta voz da cultura.
    Obrigada por partilhares o poema.
    Um beijo.

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