quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Aparências

 «O esperado», Ferdinand Georg Waldmüller

O aparente e o verdadeiro lutam para uma confusão constante. A sociedade ocidental formatou, há muito, o nosso olhar. Um universo de aparências povoa os dias e a autenticidade perde-se num mundo de máscaras hipócritas.  Até quando, alimentaremos teias de ignorância? Até quando, pactuaremos com o hedonismo irresponsável? 
O aparente e o verdadeiro confundem contextos e ideais. Banalidades fúteis e lutas necessárias pelo aperfeiçoamento pessoal e social rivalizam em ambientes improváveis. 
Exigências íntimas sabem que o verdadeiro nem sempre é o óbvio, tal como o nosso olhar não pode observar nenhum smarphone no quadro o «Esperado» do pintor escocês do século XIX - mesmo se, observando a menina, formos tentados a criar analogias.
Existem contextos, da nossa época, que crescem num hediondo e perigoso rumo de confusões. 
O anacronismo instala-se...também nas escolas.


Ana

23 comentários:

  1. Tens toda a razão
    Teu texto faz-me lembrar quando há anos, em Cahora Bassa, ia eu passando num carro cedido pela empresa gestora da barragem e vi, ao longe (depois mais perto dela) uma mulher negra, esbelta e bela, que parecia ter encostado ao ouvido um sofisticado artigo...

    Mais perto, percebi que apenas coçava o dito.

    No meu do mato,
    ouvi "tu és é parvo"

    Era a Minha Alma, a quem nada lhe escapa!


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  2. Aparências, muitas vezes enganam _ como é o caso!

    Apraz-me regressar a este espaço virtual que comecei a seguir espontaneamente, devido à classe, substância, riqueza e não raro beleza cultural que por aqui se pode desfrutar.

    Obrigado, parabéns e continuação de excelente 2018

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  3. Vivemos rodeados de banalidades fúteis, na verdade.
    Magnífico texto, para ler, reler e reflectir. Parabéns.
    Amiga Ana, um bom fim de semana.
    Beijo.

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  4. O caos parece instalar-se, em sentido crescente, como se, de repente, nos faltassem as referências e as memórias. Quem decide sabe isso muito bem, e tenta aproveitar-se. O circo está instalado, duma forma muito mais eficaz que a praticada pelos Romanos. A turba brada, ó se brada...!

    Bem lembrado, Ana.

    Um abraço :)

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  5. Olá, a sociedade é divida, num lá estão os denominadores que é uma pequenina minoria, no outro lado estão os dominados que felizmente ainda podem ter a liberdade de pensamento, o dinheiro domina o mundo, mais que possamos reclamar, os submissos dos dominadores estão em campo a publicitar a democracia, o que chamam de justiça condena o crime económico dos tostões e inocenta os dos milhões,
    em Janeiro de 2013 morreram setecentos portugueses com gripe por falta de medicação nos hospital, o responsável na altura é elogiado, recebe medalhas para os submissos baterem palmas, de seguida, assume a presidência de um banco, bem....outras coisas mais poderia escrever durante uma semana seguida.

    Ana! do que acima escrevo, e o que segue em outro comentário, acha que vivemos num mundo de banalidades fúteis?

    A arte do Ferdinand Waldmüller é cativante

    Bom ano,
    AG

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  6. seguimento do primeiro comentário

    entre muitos inocentados está o crime do BPN com o processo arquivado do Dias Loureiro, outros governantes com reformas de 10 mil Euros (coisa pouca) não foram parar à justiça,Parece anedota, mas é autêntico:

    Um homem armado assaltou a dependência do Banco Português de Negócios, ou simplesmente BPN, na Portela de Sintra, arredores de Lisboa e levou 22 mil euros.

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  7. seguimento do segundo comentário:

    Dias Loureiro: temos de ler isto em jornais franceses???Mas quando é artigo de jornal estrangeiro o impacto é ainda maior.
    Et voilá:
    http://finances.orange.fr/economie/pointdevue/scandale-bancaire-portugais-les-vacances-a-rio-de-dias-loureiro-266980.html


    Este número é demasiado grande para caber nos jornais (9.710.600.000,00€) !!!

    Além disso, reparem bem, nos nomes dos protagonistas!!! Tudo “gente
    fina”, bem posicionada e intocáveis!!!

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  8. seguimento

    O diretor do DN conclui afirmando que este escândalo “é o exemplo
    máximo da promiscuidade dos decisores políticos e económicos
    portugueses nos últimos 20 anos e o emblema maior deste terceiro
    auxílio financeiro internacional em 35 anos de democracia. Justifica
    plenamente a pergunta que muitos portugueses fazem: se isto é assim à
    vista de todos, o que não irá por aí?”

    O BPN foi criado em 1993 com a fusão das sociedades financeiras
    Soserfin e Norcrédito e era pertença da Sociedade Lusa de Negócios
    (SLN), que compreendia um universo de empresas transparentes e
    respeitando todos os requisitos legais, e mais de 90 nebulosas
    sociedades offshores sediadas em distantes paraísos fiscais como o BPN
    Cayman, que possibilitava fuga aos impostos e negociatas.

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  9. O BPN tornou-se conhecido como banco do PSD, proporcionando
    "colocações" para ex-ministros e secretários de Estado
    sociais-democratas. O homem forte do banco era José de Oliveira e
    Costa, que Cavaco Silva foi buscar em 1985 ao Banco de Portugal para
    ser secretário de Estado dos Assuntos Fiscais e assumiu a presidência
    do BPN em 1998, depois de uma passagem pelo Banco Europeu de
    Investimentos e pelo Finibanco.

    O braço direito de Oliveira e Costa era Manuel Dias Loureiro, ministro
    dos Assuntos Parlamentares e Administração Interna nos dois últimos
    governos de Cavaco Silva e que deve ser mesmo bom (até para fazer
    falcatruas é preciso talento!), entrou na política em 1992 com
    quarenta contos e agora tem mais de 400 milhões de euros.

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  10. O BPN tornou-se conhecido como banco do PSD, proporcionando
    "colocações" para ex-ministros e secretários de Estado
    sociais-democratas. O homem forte do banco era José de Oliveira e
    Costa, que Cavaco Silva foi buscar em 1985 ao Banco de Portugal para
    ser secretário de Estado dos Assuntos Fiscais e assumiu a presidência
    do BPN em 1998, depois de uma passagem pelo Banco Europeu de
    Investimentos e pelo Finibanco.

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  11. O braço direito de Oliveira e Costa era Manuel Dias Loureiro, ministro
    dos Assuntos Parlamentares e Administração Interna nos dois últimos
    governos de Cavaco Silva e que deve ser mesmo bom (até para fazer
    falcatruas é preciso talento!), entrou na política em 1992 com
    quarenta contos e agora tem mais de 400 milhões de euros.

    Vêm depois os nomes de Daniel Sanches, outro ex-ministro da
    Administração Interna (no tempo de Santana Lopes) e que foi para o BPN
    pela mão de Dias Loureiro; de Rui Machete, presidente do Congresso do
    PSD e dos ex-ministros Amílcar Theias e Arlindo Carvalho.

    Apesar desta constelação de bem pagos gestores, o BPN faliu. Em 2008,
    quando as coisas já cheiravam a esturro, Oliveira e Costa deixou a
    presidência alegando motivos de saúde, foi substituido por Miguel
    Cadilhe, ministro das Finanças do XI Governo de Cavaco Silva e que
    denunciou os crimes financeiros cometidos pelas gestões anteriores.

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  12. O resto da história é mais ou menos conhecido e terminou com o colapso
    do BPN, sua posterior nacionalização e descoberta de um prejuízo de
    1,8 mil milhões de euros, que os contribuintes tiveram que suportar.

    Que aconteceu ao dinheiro do BPN? Foi aplicado em bons e em maus
    negócios, multiplicou-se em muitas operações “suspeitas” que geraram
    lucros e que Oliveira e Costa dividiu generosamente pelos seus homens
    de confiança em prémios, ordenados, comissões e empréstimos bancários.

    Não seria o primeiro nem o último banco a falir, mas o governo de
    Sócrates decidiu intervir e o BPN passou a fazer parte da Caixa Geral
    de Depósitos, um banco estatal liderado por Faria de Oliveira, outro
    ex-ministro de Cavaco e membro da comissão de honra da sua
    recandidatura presidencial, lado a lado com Norberto Rosa,
    ex-secretário de estado de Cavaco e também hoje na CGD.

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  13. Outro social-democrata com ligações ao banco é Duarte Lima, ex-líder
    parlamentar do PSD, que se mantém em prisão preventiva por
    envolvimento fraudulento com o BPN e também está acusado pela polícia
    brasileira do assassinato de Rosalina Ribeiro, companheira e uma das
    herdeiras do milionário Tomé Feteira. Em 2001 comprou a EMKA, uma das
    offshores do banco por três milhões de euros, tornando-se também
    accionista do BPN.

    Em 31 de julho, o ministério das Finanças anunciou a venda do BPN, por
    40 milhões de euros, ao BIC, banco angolano de Isabel dos Santos,
    filha do presidente José Eduardo dos Santos, e de Américo Amorim, que
    tinha sido o primeiro grande accionista do BPN.

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  14. O BIC é dirigido por Mira Amaral, que foi ministro nos três governos
    liderados por Cavaco Silva e é o mais famoso pensionista de Portugal
    devido à reforma de 18.156 euros por mês que recebe desde 2004, aos 56
    anos, apenas por 18 meses como administrador da CGD.

    O Estado português queria inicialmente 180 milhões de euros pelo BPN,
    mas o BIC acaba por pagar 40 milhões (menos que a cláusula de rescisão
    de qualquer craque da bola) e os contribuintes portugueses vão meter
    ainda mais 550 milhões de euros no banco, além dos 2,4 mil milhões que
    já lá foram enterrados. O governo suportará também os encargos dos
    despedimentos de mais de metade dos actuais 1.580 trabalhadores (20
    milhões de euros

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  15. As relações de Cavaco Silva com antigos dirigentes do BPN foram muito
    criticadas pelos seus oponentes durante a última campanha das eleições
    presidenciais. Cavaco Silva defendeu-se dizendo que apenas tinha sido
    primeiro-ministro de um governo de que faziam parte alguns dos
    envolvidos neste escândalo. Mas os responsáveis pela maior fraude de
    sempre em Portugal não foram apenas colaboradores políticos do
    presidente, tiveram também negócios com ele.

    Cavaco Silva também beneficiou da especulativa e usurária burla que
    levou o BPN à falência.

    Em 2001, ele e a filha compraram (a 1 euro por acção, preço feito por
    Oliveira e Costa) 255.018 acções da SLN, o grupo detentor do BPN e, em
    2003, venderam as acções com um lucro de 140%, mais de 350 mil euros.

    Por outro lado, Cavaco Silva possui uma casa de férias na Aldeia da
    Coelha, Albufeira, onde é vizinho de Oliveira e Costa e alguns dos
    administradores que afundaram o BPN. O valor patrimonial da vivenda é
    de apenas 199. 469,69 euros e resultou de uma permuta efectuada em
    1999 com uma empresa de construção civil de Fernando Fantasia,
    accionista do BPN e também seu vizinho no aldeamento.

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  16. Para alguns portugueses são muitas coincidências e alguns mais
    divertidos consideram que Oliveira e Costa deve ser mesmo bom
    economista(!!!): Num ano fez as acções de Cavaco e da filha quase
    triplicarem de valor e, como tal, poderá ser o ministro das Finanças
    (!!??) certo para salvar Portugal na actual crise económica. Quem
    sabe, talvez Oliveira e Costa ainda venha a ser condecorado em vez de
    ir parar à prisão....ah,ah,ah.

    O julgamento do caso BPN já começou, mas os jornais pouco têm falado
    nisso. Há 15 arguidos, acusados dos crimes de burla qualificada,
    falsificação de documentos e fraude fiscal, mas nem sequer se sentam
    no banco dos réus.

    Os acusados pediram dispensa de estarem presentes em tribunal e o
    Ministério Público deferiu os pedidos. Se tivessem roubado 900 euros,
    o mais certo era estarem atrás das grades, deram descaminho a nove
    biliões e é um problema político.

    Nos EUA, Bernard Madoff, autor de uma fraude de 65 biliões de dólares,
    já está a cumprir 150 anos de prisão, mas os 15 responsáveis pela
    falência do BPN estão a ser julgados por juízes "condescendentes", vão
    apanhar talvez pena suspensa e ficam com o produto do roubo, já que
    puseram todos os bens em nome dos filhos e netos ou pertencentes a
    empresas sediadas em paraísos fiscais.

    Oliveira e Costa colocou as suas propriedades e contas bancárias em
    nome da mulher, de quem entretanto se divorciou após 42 anos de
    casamento. Se estivéssemos nos EUA, provavelmente a senhora teria de
    devolver o dinheiro que o marido ganhou em operações ilegais, mas no
    Portugal dos brandos costumes talvez isso não aconteça.

    Dias Loureiro também não tem bens em seu nome. Tem uma fortuna de 400
    milhões de euros e o valor máximo das suas contas bancárias são apenas
    cinco mil euros.

    Não há dúvida que os protagonistas da fraude do BPN foram meticulosos,
    preveniram eventuais consequências e seguiram a regra de Brecht:
    “Melhor do que roubar um banco é fundar um

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  17. Aparências. É o que mais se quer nestes tempos que correm... Um texto muito lúcido e para reflexão.
    Uma boa semana para ti, Ana.
    Um beijo.

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  18. Não, amigo Augusto, essas não são banalidades...mas são gigantescas teias que nos corroem...
    Abraço

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  19. Já desenhei um corpo no lugar vazio do amor
    Prisioneiro da inocência absurda do querer
    Já sonhei com barcos sem mar
    Já falei pelos olhos do ultimo sobrevivente
    Já percorri o dia do encontro dos desencantados
    Para te amar...
    Caminheiro, caminhante sobre a espuma
    Olhando por uma janela violentamente transparente
    Abrindo uma passagem secreta
    Para o universo das palavras simples
    Sopram os ventos
    Para içarmos velas
    No céu uma lua feiticeira
    Sabes?!
    És um Ser de amor e luz
    Até os teus olhos são feitos de luz
    “ As estrelas fizeram os teus olhos para se verem a si próprias”
    Escrevo na branca imensidão de uma folha branca o que Deus quiser
    Na simplicidade do sorriso de uma flor
    O teu nome

    O primeiro nome de uma mulher...

    doce beijo

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  20. Excelente crítica, Ana.

    O que parece um rosário e um missal nas mãos de uma camponesa,
    foi confundido por cabecinhas internautas perturbadas, com um
    'smartphone' do sec XIX...
    Afinal, trágico-cómico.

    Abraço grande Ana.
    ~~~~~~~~~

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