sábado, 18 de julho de 2009

Gibran Khallil Gibran



Baalbek, Líbano.org

Corro, com os meus pensamentos sob este sol inclemente. Sou deste lugar. Conheço o som das cigarras e sei daquele barulho abafado de aves de rapina que tentam voar, dolentes, ao calor do meio - dia.
Contraditória natureza. O cheiro quente do sobro, o estalar dos meus passos, as ervas secas que quebram, a luz aguda a cegar os meus olhos pardos, de felino habituado a décadas deste desafio de dias suados...contraditória natureza! Aquela sombra minúscula de sol a pique que me segue, duplo daquilo que sou, espelho da burocracia infindável que me persegue, traz-me, de súbito, a memória de um velho poeta fenício/libanês - Gibran Khallil.
Pedaços de texto, nuas verdades e subtilezas... barcos de outrora que planam sobre a realidade e o cedro do velho e belo Líbano aponta-me a direcção próxima da minha casa.
«Moras aqui!», dizem os que me conhecem de outros lugares e se deparam com o esguio cedro. O meu amor, sangue de remotos mediterrânicos, exala em redor.
Ana

O louco
«Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim:

Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”

Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.

E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: “É um louco!” Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua.

Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: “Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!”

Assim me tornei louco.

E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.»

7 comentários:

  1. Outro dia fui lá à escola e vi que teve muito bons resultados dos seus alunos de 11º. Parabens!
    Beijinhos

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  2. Querida Ana!

    Feliz Dia do Amigo! (Já que se tem a data especial, apesar de a considerar 365 dias do ano!)

    Obrigada pelo vídeo! Adorei! Levei-o ao site de hospedagem e salvei-o. Veja em meu blog do Eternas.

    Deixo o link do vídeo, caso queira.

    http://s485.photobucket.com/albums/rr220/dreams2008_fantasy/JULHO2009/?action=view&current=BesamaMucho.flv

    Meu abraço e um beijo amigo,

    Helô

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  3. Os livres são incompreendidos e por isso chamados de loucos, rebeldes, marginais e tantos outros adjetivos. O sol, a consciência que compreende, mas não aceita a normalidade. Boa semana! Beijus

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  4. Ainda não li o teu post mas venho retribuir o beijinho de boa noite.
    As minhas arrumações estão quase...quase prontas.
    O meu post hoje também é a correr, mas voltarei com mais tempo.
    Boa noite amiga. Bom descanso.
    Beijinhos.

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  5. O teu texto é muito bonito.É um sentir tão profundo. Gosto de sentir o Alentejo através da tua escrita.
    Mais um beijinho e boa noite, amiga.

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  6. Ana, lindo o teu texto, e como se entrelaça bem com o de Gibran!
    Sei que andas cansada de trabalho, e passei aqui também para lhe deixar um abraço solidário.

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