quinta-feira, 13 de maio de 2010

Fé e Esperança

José Alves, Roma/09


O Vaticano é um ovo dentro da Cidade.
Quando chegámos, há mais de vinte anos, éramos meninos ainda. A Civitas tão bela, eterna, plácida para as nossas aventuras de jovens apaixonados...Leves, percorríamos as noites, que nos disseram ser perigosas, com Brigadas Vermelhas pelas esquinas. Eu inquietava-me, mas o teu abraço protegia-me de imperadores do mal e até daqueles que, nos bastidores - dizia-se - ,tinham planeado a morte do Papa que sorria. Lêramos tudo sobre o assunto, com paixão e procura, e riamos do número de liras que o postal de Albino Luciani custara. Ainda o temos.
De fé e esperanças se vestia o nosso futuro de recém casados. Os teus estudos clássicos liam-me cada pedra de Roma e o meu Latim recente e fresco, saído das caves da Clássica, ainda acompanhava os casos. Riamos alto e a nossa luz magnetizou velhas senhoras que nos que nos encheram de simpatia e de mimos.
Apaixonei-me por Roma, apaixonada por ti, eternamente.
Eternamente.




José Alves, Roma/09

A Praça tinha atiradores atrás das colunas. Tive medo. Entrámos e o fascínio, a maravilha, foram arquitectónicos. Revoltei-me. A Pietá impressionou-me no agónico da sua dor, na perfeição das suas formas. Marido, não quero uma religião agónica. O meu catolicismo fica aqui. Hoje!
Talvez por isso eu volte a Roma. Talvez, por isso, volte ... circularmente. Busca incessante do que aqui se foi esvaziando.

Hoje, o Papa já não ri, sorri mansamente, ancião e sábio de filosofias e lógicas que fui lendo sem entusiasmo. O Papa é culto e sabe que, ali, no belo cenário do nosso rectângulo, sob a luz clara, encostado ao cais das Descobertas, ocupa o espaço dos velhos Autos de Fé. O Papa, Bispo Inquisidor, preside ao ritual.
A turba aplaude.
Busca de Fé e de Esperança.
Eternamente.




José Alves, Roma/09


«O papa eleito será traído pelos seus eleitores,
Esta pessoa prudente será reduzida ao silêncio.
Eles o matarão porque ele era muito bondoso,
Atacados pelo medo, eles conduzirão sua morte à noite
Nostradamus, Centúrias, 10, Quadrante 12



Ioannes Paulus PP. I

Albino Luciani

26.VIII.1978
-
28.IX.1978


Ana

7 comentários:

  1. Sem dúvida, Grandiosa!
    Conseguiste "transcrever" essa grandiosidade através das tuas fotos;)
    Beijinhos e bom fim de semana querida!

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  2. Querida Aninha
    Um testemunho elevado pelo amor.Pode lá haver coisa mais bonita.
    Roma vista assim por uns olhos apaixonados é ainda mais bela.
    Segui com muito interesse a visita do Papa. Achei-o inteligente e sorridente contra todas as expectativas.
    Bom fim de semana com muito amor.
    Beiinhos.
    Isabel

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  3. Excelente texto, Ana. E que fotos o José Alves faz: belíssimas!

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  4. Haja fé que Roma é eterna.

    beijinhos

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  5. Olá Ana

    Estive uma vez em Roma, duas em Itália.

    Roma é uma cidade surpreendente pela estranheza que impõe às pessoas, sobretudo, através do trânsito caótico.

    Gostei muito de Roma.

    Ficámos num hotel próximo do Vaticano e a partir dele visitámos o que foi possível.

    Há quem diga que Roma é a cidade que mais luz tem; que a luz que exibe é especial.
    Mas de Lisboa é dito à mesma coisa.

    Belíssima edição a tua.

    Beijinho e bom fim de semana.

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  6. Olá, querida!

    Hoje vim matar as saudades...

    Peço desculpas pela ausência durante a semana, mas os dias têm sido muito corridos. Sinto falta de poder passar pelos blogs amigos e ler as postagens diárias e manter este contato e interatividade tão gratificantes que a blogosfera nos proporciona...

    Desejo a você uma semana cheia de paz!

    Com o meu carinho.

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