terça-feira, 9 de julho de 2013

Inclemência...

Willem Haenraets

Conheço o levante e o suão. Convivi com nortadas. Não é o clima que me conduz...caminho, sempre pelo mesmo parque, e é este o trilho que me leva do ninho ao labor. O suão afaga as minhas costas e eu sei que é ele e que rumo a nordeste. O sol incendiado declina e queima e o meu lugar é este. Nele habito os sonhos que vou tecendo e que burilo na rudeza ingrata do desfiar destes dias. No meu pátio ardem os gerânios, criaturas que, como eu, resistem de pé à inclemência dos idos. Só o suão nos abraça neste afago inclemente, no suor dos dias, no calor indolente...

O meu mundo navega sem rumo, porque a elite do lixo não conhece sequer o rumor das marés. Navega à vista e embate nas rochas. Sorri sem nexo e ensaia esgares de sobrevivência. Na praça deserta aves refugiam-se do ar pesado e morno. Todos desertam...
Onde se esconderam os homens deste lugar?

Ana


15 comentários:

  1. Um vendaval no clima das emoções...

    Beijo

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  2. Minha querida Ana

    Pobre planície dourada...tão esquecida como esquecidos estão os nossos sonhos.
    Lindo sempre ler-te.


    Um beijinho com carinho
    Sonhadora

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  3. Minha nossa!
    Que bem que fi em vier aqui te ler. Já estava com saudades de tuas inquietantes proposições. Amo demais Ana!

    Beijos pra ti!

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  4. ...há que resistir, mesmo neste calor
    inclemente...
    Beijo

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  5. Querida Aninha
    Fizeste-me lembrar aquela canção dos Aguaviva.
    "Qué cantan los poetas andaluces de ahora?

    Cantan com voz de hombres.
    Peró, donde los hombres?..."

    Porque estes são unicamente amanuenses, mangas de alpaca, servidores de outros senhores.
    Que tristeza.
    Hoje, por aqui, já corre uma aragem. Menos mal.
    Beijinho
    Isabel

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  6. Será que ainda há Homens, minha amiga?

    Começo a duvidar, infelizmente.

    Abraço fraterno

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  7. Gostei de ler esta história ficcionada e emocionada, misturada com partes de realidade.
    Homens de desafios
    não navegam à vista,
    não encalham...
    Tanto navegam no mar
    como nos rios...

    Um abraço, amiga Ana.

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  8. Alguns são expulsos

    nas galerias da Assembleia da República

    Bem-vinda ao meu mar

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  9. Tenha fé nos Homens querida professora... tenha fé.

    Beijinhos grandes!

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  10. « Onde se esconderam os homens deste lugar? »
    Um pergunta pertinente minha amiga.


    «...porque a elite do lixo não conhece sequer o rumor das marés»

    Infelizmente nunca conhecerá.

    beijinho e boa semana

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  11. Querida Aninha
    Beijinho e boa semana
    Isabel

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  12. Gosto de gerânios.

    Apesar... dos pesares, que sempre se teçam sonhos.

    Bjinhs, amiga, boa semana!

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  13. Ana,

    Tempos bárbaros,
    cruéis,
    desumanos...
    Que carga sobre os ombros!

    Valha-nos a Poesia!
    O teu poema
    retempera as forças
    para a jornada!

    Boa semana
    Um abraço de amizade

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  14. "...
    porque a elite do lixo não conhece sequer o rumor das marés. Navega à vista e embate nas rochas. Sorri sem nexo e ensaia esgares de sobrevivência.
    ..."

    Adorei ler estas inquietações porque são minhas também!

    Um grande abraço

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  15. A primeira parte do texto é linda, ainda que tenha sido pensada com o calor à costas...
    A segunda parte é ainda mais realista e retrata na perfeição a incompetência e a mediocridade políticas em curso.
    Tudo junto, foste execelente com as tuas palavras.
    Ana, querida amiga, tem um bom resto de semana.
    Beijinhos.

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