segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

E...as festas acabaram.

 

De volta...

José


E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José?

e agora, você?

você que é sem nome,

que zomba dos outros,

você que faz versos,

que ama, protesta?

e agora, José?

 

Está sem mulher,

está sem discurso,

está sem carinho,

já não pode beber,

já não pode fumar,

cuspir já não pode,

a noite esfriou,

o dia não veio,

o bonde não veio,

o riso não veio,

não veio a utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, José?

 

E agora, José?

Sua doce palavra,

seu instante de febre,

sua gula e jejum,

sua biblioteca,

sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

sua incoerência,

seu ódio — e agora?

 

Com a chave na mão

quer abrir a porta,

não existe porta;

quer morrer no mar,

mas o mar secou;

quer ir para Minas,

Minas não há mais.

José, e agora?

 

Se você gritasse,

se você gemesse,

se você tocasse

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse...

Mas você não morre,

você é duro, José!

 

Sozinho no escuro

qual bicho-do-mato,

sem teogonia,

sem parede nua

para se encostar,

sem cavalo preto

que fuja a galope,

você marcha, José!

José, para onde?



Carlos Drummond de Andrade


23 comentários:

  1. Que bom te ver voltando!,Ana! Essa poesia é linda! E agora? Tudo vem por aí contigo? beijos, tudo de bom,chica

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  2. Obrigado por seus comentários em meu blog, espero que você visite meu blog regularmente

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  3. Um poema daqueles que surgem em momentos de grande inspiração.

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  4. Gosto tanto....

    Beijinho, Aninhas, boa semana e excelente votação

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  5. José obrigado por trazer a Ana de volta. Boa tarde minha querida amiga Ana.

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  6. para onde minha amiga, para onde ?

    Querida Ana, não podias ter escolhido melhor poema para este teu regresso.
    Um regresso por mim muito desejado.

    Cuida-te !

    beijinho

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  7. Que bom esse poema deCarlos Drummond de Andrade
    Abraço

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  8. E agora que a festa acabou,
    serão tudo coisas do destino
    ao confinamento nos obrigou
    por causa do virus ser malino!

    Só a inspiração do poeta,
    poderá circurar em liberdade
    no entanto, continuará alerta
    até a vida voltar à normalidade!

    Com saúde amiga Ana, continuação de boa semana. Beijinho.

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  9. Muito belo! Gostei muito. Não conhecia.

    Por vezes chegamos a pontos assim, ou parecidos. Há que dar a volta por cima enquanto é tempo.

    Beijinhos.

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  10. Um poema muito triste e que apresenta José como um sem-abrigo. A sua leitura não apresenta nenhuma saída airosa para tão triste fado desse cidadão.
    Abraço amigo.
    Juvenal Nunes

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  11. São Sebastião, livrai_me desta peste que se abateu sobre a humanidade. Livrai_me e livrai minha filha, minha família e toda a terra. Amém!

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  12. Agora?
    A luta continua até ser outro dia

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  13. É, e agora? - pergunta Ana.
    E, agora com a pandemia?
    E, agora que a vacina viria
    Salvar a espécie humana
    Dessa doença tão insana,
    Vindo um número pequeno,
    Apenas como um aceno
    Para dar ao vírus, fim.
    Será que a vida é assim?
    É remédio ou é veneno?

    Abraço cordial! Parabéns pela postagem! Laerte.

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  14. Um poema de que gosto muito.

    As festas acabaram. E para muitos de uma forma trágica. Pergunto-me: Valeu a pena, desafiar a sorte?
    Abraço e saúde

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  15. Querida Ana

    Fantástico este Poema de Drummond de Andrade.
    É para ler e reler. Adapta-se a todos os tempos,
    a todas as horas e em especial a estes momentos
    aflitivos que estamos a viver.

    "A festa acabou/A luz apagou..."

    Espero que consigamos reencontrar o equilíbrio.

    Beijinhos
    Olinda

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  16. Ana, me diga aonde as festas
    acabaram, porque aqui, no
    país tropical continua tudo
    do mesmo jeito, viu?
    Um beijo de máscara e bom dia.

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  17. uma escolha adequada para o momento.
    e para mim as festas nem chegaram a começar...
    grande Drummond!
    beijo, Ana.

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  18. Este poema do Drummond é brilhante.
    E ajusta-se aos tempos de pandemia que correm.
    Bom fim de semana, querida amiga Ana.
    Beijo.

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  19. E que Festas que só trouxeram o agudizar da Covid, em minha opinião.
    Já conhecia o poema, tão bem feito e até com humor. E agora o que fazemos todos nós?
    O José fez-te uma fotografia muito bonita, mas é pena estares de costas.

    Beijinhos, Ana e que a situação pandémica abrande.

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  20. Nada é eterno. E ainda bem que está de volta, Ana. Gostamos de a ter por cá.

    Gosto muito desse poema de Drummond de Andrade e até já me inspirei nele para oferecer uma réplica a um meu amigo (pretenso filósofo) que usa o 'pseudónimo' de «Zé da Troucha» numa alusão ao filósofo alemão Friedrich Nietzsche e ao seu livro «Assim Falou Zaratustra».

    Tivesse eu os meus postais mais e melhor organizados, com etiquetas mais facilmente acessíveis e indicar-lho-ia com gosto. :)

    Um beijinho, Ana e até breve.

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  21. É sempre excelente ler este poema de Carlos Drummond de Andrade. Gostei de o encontrar aqui.
    Uma boa semana com muita saúde.
    Um beijo.

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  22. Gostei muito do poema. A título de curiosidade, ao mesmo tempo que estava a ler, fui sempre a pensar "estou a gostar bastante, mas não me lembro de ver a Ana neste registo, com este ritmo" e arriscando ofender o poema/poeta (algo que não quero), menos "trabalhado", mais espontâneo (se ajudar a recuperar a eventual ofensa.

    Tudo isto para dizer, que gosto muito da forma como pintas através da escrita.

    Um beijinho para ti

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  23. Ana,
    Agora é aguardar
    o andamento da carruagem
    pedindo a Deus
    que nos ajude a ter
    paciência.
    Bjins
    CatiahoAlc.

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