sábado, 9 de março de 2024

Nunca

 

Care.org - Sudão


Um pardal com saudades de seu lar,
Empoleira-se na janela do coração;
seus olhos têm anseio,
Ele se estica para olhar as casas,
Nos céus distantes,
Esperando por uma manhã alegre,
Carregada de promessas,
Para pousar como um turbante,
Nos ombros de sua pátria.

Com cada golpe nós mergulhamos em um abismo escuro,
A junta de pés pesados ​​sitia nossas canções,
Agitam nosso tinteiro, confiscam sua paz interior.

Eles envenenam nossa alegre primavera,
E colocam seus focinhos em tudo.

Mais um sonho agradável eles desfiguram,
Aos olhos de cada mãe.
Mas eles não conseguem nos silenciar.

Nunca.

Em suas celas bebemos,
o xarope da perseverança,
Para permanecermos,
firmes e corajosos.

Ó meus tempos de prisão,
Ó minhas dores,
de saudade
e de tormento,
Se eu perder o contato com você,
Quem, neste tempo de coerção, eu seria?

Se eu perder contato com você eu vou trair,
Os pequeninos que ainda estão por vir,
Se eu perder o contato com você,
Vaidoso e egocêntrico eu me tornarei.

Enquanto eu tiver uma voz em meus acordes,
Que prisão — ou mesmo a morte — pode me silenciar?

Não.
Jamais sucumbiremos.

Eles não têm nada a dizer
Quanto ao nosso destino.

Não, eles não têm!
Somos nós que trazemos a vida
Aos poros mortos da dormência.

Minha querida,
minha companheira de vida,
No mais alto respeito, sempre te manterei.

Ó minhas amadas filhas,
Aninhadas à sombra das pessoas gentis.

Ó espaço luminoso ainda ao alcance dos olhos:
Aqueça-me com suas saudações pacíficas,
Com suas cartas.

Dê minhas saudações aos meus pares;
Dê minhas saudações às nuvens;
Dê minhas saudações à terra;
Dê minhas saudações à multidão;
E às palavras de romance,
Nos cadernos da juventude.


Mahjoub Sharif, poeta do Sudão (tradução de Raad Abdullah Ferreira)



ONU








13 comentários:

  1. Triste situação vive o Sudão e seu povo.Bela poesia! beijos, lindo domingo! chica

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  2. Hermoso y profundo poema. A veces olvidamos a otras mujeres y otras realidades que sufren la guerra y el hambre. Te mando un beso.

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  3. Olá, querida amiga Ana!
    "Minhas amadas filhas,
    Aninhadas à sombra das pessoas gentis."
    Convite muito sábio...
    Assim devemos nos comportar todos.
    A gentileza nos faz muito bem, torna a vida menos dura.
    O mundo precisa de delicadezas.
    Tenha um domingo abençoado!
    Beijinhos com carinho fraterno

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  4. Great article and good blog. Have a nice weekend ok

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  5. Tenho por regra
    nunca dizer nunca
    mas este poema
    faz-me mudar tal figura

    este Mundo
    está a transformar-se num Sudão

    Beijo atormentado

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  6. Um poema cheio de força e perseverança.
    Tenhamos esperança na melhoria da Humanidade. O poeta sabe o que diz.
    Beijinhos, Ana!

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  7. Hoje e a esta hora, receio ver o mundo transformado num imenso Sudão, tal como o Rogério.

    Um beijo, Ana!

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  8. Um manifesto este poema, querida Ana.
    O que poderá silenciar um poeta, perante
    o horror da guerra? Caminhamos todos
    para o abismo, não vejo forma de isso ser
    parado.

    Grata por nos teres prazido essa realidade
    trágica que o Sudão vive.

    Beijinhos
    Olinda

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  9. Este poema é um manifesto e um grito contra o que se passa no Sudão e que o Ocidente ignora, ou melhor, que os políticos e a comunicação social ocidentais ignoram.
    Obrigado pela partilha.
    Boa semana.
    Beijo.

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  10. Um poema de resistência que se me pegou à pele. Obrigada, Ana, por partilhar.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  11. Pobre povo que tanto tem sofrido e continua a sofrer horrores!

    Tal como as palavras do poeta, que as gentes nunca percam a Esperança!

    Beijinhos.

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  12. Um grito.
    Uma mensagem.
    Um horror.
    O Sudão mergulhado em dor.
    Comovente.

    Boa semana.
    Um beijo
    :)

    ResponderEliminar
  13. Um grito.
    Uma mensagem.
    Um horror.
    O Sudão mergulhado em dor.
    Comovente.

    Boa semana.
    Um beijo
    :)

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