domingo, 7 de abril de 2013

Sem submissão...

FLOWN WITH THE WIND
Vladimir Kush

Ninguém nos poderá delapidar esta tarde rósea em que somos a brisa morna da planície. Fremente, a floração aguarda só mais um dia de sol. É essa liberdade de águias que nos crava no peito a esperança, mesmo quando todos imploram e sibilam a pobreza futura. É o velho orgulho da mestiçagem destes sangues, tão mesclados, que nos adoçou a voz e a tolerância sem submissão. Percorro contigo a vastidão destes lugares, sentindo a energia renovar o meu ser de criatura do Sul e, subitamente, um poema de Nemésio ajusta-se ao momento. Em surdina, habita-me o instante:

*****
Cruel como os Assírios,
Lânguido como os Persas,
Entre estrelas e círios
Cristão só nas conversas.
Árabe no sossego,
Africano no ardor;
No corpo, Grego, Grego!
Homem, seja onde for.
Romano na ambição,
Oriental no ardil
Latino na paixão,
Europeu por subtil:
Homem sou, homem só
(Pascal: "nem anjo nem bruto"):
Cristãmente, do pó
Me levante impoluto.

Vitorino Nemésio


12 comentários:


  1. Boa noite, Ana

    Uma viagem ao nosso íntimo feito de História e histórias várias, mestiçagem do corpo, mestiçagem do espírito, mestiçagem cultural. Seres que habitam o instante de todos os tempos.

    Bjs
    Olinda

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  2. Todos ficaram sensibilizados e calados
    minha alma lusa
    meu coração celta
    meu sangue mouro

    Amanhã não será assim,
    "o velho orgulho da mestiçagem"
    torna a reacção insondável

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  3. Um dos poemas de que mais gosto de Nemésio e que enquadra na perfeição no nosso Alentejo.

    Senti-me ao ler-te na vastidão da planície...e te agradeço muito.

    Abraço fraterno, Aninhas.

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  4. Gostei deste enrolar de horas onde outras dimensoes se atravessam..

    beijinho amigo

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  5. Quem somos nós

    para domar o vento?

    Bjs

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  6. Querida Aninha
    Como sempre sou levada mais além pelas tuas palavras. Principalmente estas: "tolerância sem submissão".
    É um insulto deturparem a nossa tolerância.
    Imagens lindas.
    Beijinho e boa semana.
    Isabel
    PS Gosto muito desse poema do Vitorino Nemésio.

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  7. Que esta mistura de sangue e raça, nos traga a força da não submissão.

    Sempre oportunas e perfeitas as tuas escolhas minha amiga.

    beijinho

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  8. Profundo o Nemésio...mas sublimes as suas palavras..
    Beijo

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  9. vozes ao sul - lânguidas...

    belíssimo texto

    beijo

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  10. Benditas são as pessoas que ao nosso lado ofertam um sorriso,
    apontam, mesmo sem saber, um pedacinho do paraíso.
    Com muito carinho desejo
    uma linda noite.
    E dizer que seu blog esta em destaque
    com outras amigas,beijos no coração.
    Evanir..

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  11. Ana

    Saudades de ti eu tenho muitas...muitas que não posso tolerar, pois não me deixam respirar.

    Escreve-me só uma Palavras nos "7degraus" Ana, por exemplo...

    Nemésio e me lembro de não entender nada daquela pronuncia que ele tinha.

    Gostei de te encontrar Vitorino!
    Afinal, não morreste, estás aqui presente, como a criatura viva que sempre foste!

    Que bom eu sentir e ser assim...tão fora do comum...Foi-te dada a Eternidade, Vitorino, descansa e conversa por lá
    "Do assento etério onde subiste"

    Com saudade, Maria Luísa Adães

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  12. Gosto do sopro de brisas assim :)

    Beijinhos

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