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Serra de São Mamede, Portalegre - 2025 |
Corro na paisagem e no tempo húmido desta inefável respiração da Terra, corro nos dias de Março. Já foi "dia das mulheres" e eu, por aí, vou pensando em como me viram...ou me imaginam. Foi-me concedida a afirmação social, pela qual outras mulheres tanto lutaram.
Não serei sempre inefável, especialmente como agora, deslizando por este Alentejo brumoso. Serei engendrada dessa diferença granítica que se esconde e às vezes se assoma na paisagem, ao redor. Com atenção redobrada, vou guiando sem gosto - sob a chuva ameaçadora - veículo avantajado, cabelos desgrenhados e botas pesadas. Alentejana sou.
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Ana Maria, 2025 |
Na telefonia, vou ouvindo notícias do mundo que, nos confins da planície, me parecem distantes e estranhas...guerras, conflitos, ruínas civilizacionais, líderes ocos de humanidade, deuses económicos...um futuro estranho para ser legado aos vindouros e, muito especialmente, às vindouras!
Penso que bastará um decreto de Lei para que as mulheres futuras regressem aos seus lugares silenciosos. Como se não nos bastassem os populismos, os ditadores, as religiões, temos agora em grande expansão (especialmente na desenvolvida Suécia) o movimento das "soft girls".
Vou escutando notícias e penso naquilo que nos está a desconstruir o caminho que percorremos. E penso na condição das mulheres e na regressão que vivem no presente. Com extremismo religioso, ou com retrocessos civilizacionais, interrogo-me: para onde caminhamos?
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Irão, 2025 - BBC |
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Irão/Pérsia, anos 80 - BBC |
Vivi os meus vinte anos na década de oitenta e não posso deixar de pensar nas palavras de um velho livro, muito em voga na época, aqui fica a sugestão de leitura, especialmente para as mais jovens.
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ESCUTA A MINHA DIFERENÇA |
Mariella Righini: "De ma féminité," dit-elle, " je n'ai jamais fait de complexes. Ni d'infériorité, ni de supériorité. Surtout pas d'égalité."
("Sobre a minha feminilidade”, disse ela, “nunca tive complexos nem inferioridade nem superioridade. E muito menos de igualdade.")