Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

terça-feira, 21 de junho de 2016

No princípio...

Vladimir Kush, Symphony of The Sun


Chegaram os longos dias do futuro. São quentes e caminho entre tílias. Contra o peito aperto o sol e a esperança. 
Que importa se não te explico, em intimismos banais, a doçura serena dos passos rápidos? Este mundo que se agita à superfície e que parafraseia poetas de antanho, que li um dia, olhando o Mediterrâneo, não me inspira nem arrebata. Cultismos novos juntam palavras antigas, na emergência vazia dos dias que restam. Glórias narcísicas em solidões quietas. Entendo.
Trabalho. Trabalho sempre. Trabalho, no rumor dos que esperam um novo dia de olhar luminoso. Amarei hoje e no futuro esses jovens inquietos que se sentam em filas nervosas, desventrando a alma dos Textos. Eles sabem e eu sei: no princípio era o verbo
Recriemos, então, o Mundo, nos longos dias do futuro!

Ana




domingo, 19 de junho de 2016

Recordando...

Salvador Dalí, 1936 (O Grande Paranóico)

« Eis o espectáculo do mundo, meu poeta das amarguras serenas e do cepticismo elegante. Desfruta, goza, contempla, já que estar sentado é a tua sabedoria...», J. Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis



Sol




quarta-feira, 15 de junho de 2016

Trémulo azul



José Alves 

Trémulo azul
Inquieto infinito
Aberto na lava
Como ave
Como bruma
Soturna e luminosa
Como sonho
Como lume
Trémulo e azul
Desenho irreal
Traçado a gume
No humano granito


Ana




domingo, 12 de junho de 2016

De regresso a Portugal e ao tempo de Pessoa...









CXXXVI
I

Nunca persegui la gloria
ni dejar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles,
ingrávidos y gentiles
como pompas de jabón.
Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el cielo azul, temblar
súbitamente y quebararse.



(página, 174)




quinta-feira, 2 de junho de 2016

«Lamber as botas»

François de Nomé (1593 – 1620)/Monsú Desiderio

Acontece-me pensar na fragmentação enquanto forma de dissolução das sociedades. As fracturas são feridas que se instalam no seio dos pequenos grupos organizacionais e ilustram a decadência. Pseudoafinidades são jogos de interesses miudinhos e formam células de podridão que servem uma influência narcísica e frágil. Dúbias figuras transversais sobem nas hierarquias, como lesmas, na baba que segregam. Deslocam-se em todos os grupos sem qualquer sentido de pertença ou de Ideal - sem gnose e sem fé.

Cheguei a um tempo reflexivo. Observo e laboro com o mesmo afecto. Concluo da ausência das Humanidades e deste efeito catastrófico, desta futilidade vigente que tudo mistura, deste nulo em que se afundam as sociedades ocidentais, os seus grupos sociais, principalmente os profissionais...

Só quem não conhece o fundamento vão do absolutismo, ou não leu o seu mentor, poderá passar à margem do velho escrito civilizacional que, hoje,  no final de mais um ano lectivo, aqui vos deixo.

vanitas vanitatum et omnia vanitas

(Vaidade das vaidades, e tudo é vaidade.)

 Conclusão melancólica do Eclesiastes (XII, 8), sobre a pequenez das coisas deste mundo.


Ana