Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

sábado, 27 de junho de 2015

Dies Irae

Alto Alentejo, José Alves


"A não-violência não consiste em renunciar a toda luta real contra o mal. A não-violência, tal como eu a concebo, empreende uma campanha mais activa contra o mal que a Lei de Talião, cuja natureza mesma traz como resultado o desenvolvimento da perversidade. Eu levanto, frente ao imoral, uma oposição mental e, por conseguinte, moral. Trato de amolecer a espada do tirano, não cruzando-a com um aço mais afiado, mas defraudando a sua esperança ao não oferecer resistência física alguma. Ele encontrará em mim uma resistência da alma, que escapará do seu assalto. Essa resistência primeiramente o cegará e em seguida o obrigará a dobrar-se. E o facto de dobrar-se não humilhará o agressor, mas o dignificará... ", M. GANDHI


Mediterrâneo, José Alves



Apetece cantar, mas ninguém canta.
Apetece chorar, mas ninguém chora.
Um fantasma levanta
A mão do medo sobre a nossa hora.

Apetece gritar, mas ninguém grita.
Apetece fugir, mas ninguém foge.
Um fantasma limita
Todo o futuro a este dia de hoje.

Apetece morrer, mas ninguém morre.
Apetece matar, mas ninguém mata.
Um fantasma percorre
Os motins onde a alma se arrebata.

Oh! maldição do tempo em que vivemos,
Sepultura de grades cinzeladas,
Que deixam ver a vida que não temos
E as angústias paradas!

Miguel Torga, in Cântico do Homem





quinta-feira, 18 de junho de 2015

Exames...


Jose Luís Cano

BACH SEGÓVIA GUITARRA

A música do ser
Povoa este deserto
Com sua guitarra
Ou com harpas de areia

Palavras silabadas
Vêm uma a uma
Na voz da guitarra

A música do ser
Interior ao silêncio
Cria seu próprio tempo
Que me dá morada

Palavras silabadas
Unidas uma a uma
Às paredes da casa

Por companheira tenho
A voz da guitarra

E no silêncio ouvinte
O canto me reúne
De muito longe venho
Pelo canto chamada

E agora de mim
Não me separa nada
Quando oiço cantar
A música do ser
Nostalgia ordenada
Num silêncio de areia
Que não foi pisada


Sophia de Mello Breyner Andresen, in Geografia





Leio Sophia. Quieto aconchego da alma. A quietude de laborar na Literatura.

(Belo poema, num exame de Português.)


sábado, 6 de junho de 2015

Certidão


Pál Szinyei Merse


É deste quente ar macilento
Que se soltam as novas
É no infindável quebranto
Que a vida renovas
Além do silêncio tão lento
Inefável solidão do pranto
Se ergue a neblina
Se estende teu manto
Dura certidão das provas
Madura  voz sibilina

Ana