Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

2009

Depois de um Natal no Minho ...
sonhando, ao longe, as Islas Cies,
um café em Baiona!
Encontro de Mundos

Baiona.org

***
MAL NOS CONHECEMOS
***
Mal nos conhecemos

Inauguramos a palavra amigo!
Amigo é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo.
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
Amigo recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?
Amigo é o contrário de inimigo!
Amigo é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado.
É a verdade partilhada, praticada.
Amigo é a solidão derrotada!
Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa!
Alexandre O'Neill

FELIZ E SAUDÁVEL 2009!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

PARA TI

Picasso, Pequenas flores

Boas Festas

Ana

domingo, 21 de dezembro de 2008

Eis-nos aqui

Bruno Baumann, Lotus
Eis-nos aqui, sentados à lareira
Do desespero.
O borralho ideal vai-se apagando,
Enquanto o vento da realidade
Sopra lá fora.
É esta a nossa hora
De amor
Ou de traição?
Porque fechamos todas as portas
Do coração,
Entanguidos de frio e de terror?
Se o temporal entrasse,
Talvez a labareda se ateasse
E nos desse calor...
Miguel TORGA, Cântico do Homem

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Amo


René Magritte, Le Blanc Seing




Eu amo planuras imensas
E gestos de linguagem muda!
Amo silêncios intensos
Onde o ser, às vezes, se transmuda.
Amo-te, porque te amo,
Em definições extensas de dar
E sinto-te quando te chamo
Dentro de mim ao despertar!
*
Eu quero colinas e montes
Plenos de canduras viçosas!
Amo regatos e fontes,
Doces meios-dias,
Manhãs brumosas.
Quero intensos Verões
E frémitos escaldantes,
Doçuras de serões
Em noites aconchegantes.
Quero a tua voz poderosa
Sobre a minha rebeldia!
Amo a tensão amorosa
De um puro dia-a-dia!

Ana

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Avaliação do 1.º período

Maxfield Parrish, sunrise, 1931

«Aprender sem pensar é tempo perdido»

Confúcio

domingo, 14 de dezembro de 2008

Realidade(s)


RIO DE JANEIRO -

Foto: Bruno Domingos/Reuters

« A ONG brasileira Rio de Paz colocou hoje 16.000 cocos verdes BA areia da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, que representam o mesmo número de mortes violentas ocorridas na cidade nos últimos anos». in Estadão

sábado, 13 de dezembro de 2008

Delirante Outono


Outono
José Malhoa, 1919



Aconteceu o Outono
Aconteceu a viragem
Numa rota longínqua
Vislumbrei tua imagem.

Sonhei a dureza
De um dia por vir.
Foi tão grande a fraqueza
À tua passagem...

Amadureceram os frutos,
Tombaram, a teus pés, as folhas.
Amadureceram os dias
Do tempo que desfolhas.

Tornou-se imperioso seguir
O caminho que, estático, olhas.
E, negar o eterno fluir...
Da seiva que, poderosa, se renova!


Ana



quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Rosalía de Castro, Cantares Gallegos

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/ab/Spain.Santiago.de.Compostela.Rua.do.Villar.jpg

wikimedia.org Santiago de Compostela


XIV

Acolá enriba
Na fresca montaña
Qu'alegre se cobre
De verde retama,
Meniña morena
De branco vestida,
Nubiña parece
No monte perdida.
Que xira, que corre,
Que torna, que pasa,
Que rola, e mainiña
Serena se para.

[...]


Rosalía de CASTRO (1837 - 1885)

http://www.vidaslusofonas.pt/rosalia_de_castro.htm

http://www.rosaliadecastro.org/


http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/7d/Santiago.de.Compostela.Catedral.Noche.jpg
wikimedia.org Santiago de Compostela



Hoje tenho saudades da Galiza ...

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Florbela Espanca


João Cutileiro ( da parede da minha sala para vós)
Florbela Espanca



A NOITE DESCE
*
Como pálpebras roxas que tombassem
Sobre uns olhos cansados, carinhosas,
A noite desce...Ah! doces mãos piedosas
Que os meus olhos tristíssimos fechassem!
+
Assim mãos de bondade me embalassem!
Assim me adormecessem, caridosas,
E em braçadas de lírios e mimosas,
No crepúsculo que me enterrassem!
+
A noite em sombra e fumo se desfaz...
Perfume de baunilha ou de lilás,
A noite põe-me embriagada, louca!
+
E a noite vai descendo, muda e calma...
Meu doce Amor, tu beijas a minh'alma
Beijando nesta hora a minha boca!

Florbela ESPANCA, SONETOS



Charneca em Flor

sábado, 6 de dezembro de 2008

100 anos de Manoel de Oliveira - parabéns!

Manoel de Oliveira

Lisboa, 06 Dez (Lusa) - A comemoração dos cem anos do realizador Manoel de Oliveira está a ser acompanhada por uma televisão privada japonesa para um documentário a estrear no Japão em Março, disse hoje à Lusa o realizador Mitabi Kobayashi.

Uma equipa da estação de televisão japonesa Wowow chegou hoje a Portugal para acompanhar o realizador português nos dias que antecedem a celebração do seu centésimo aniversário, marcado para 11 de Dezembro.

"Queríamos fazer um documentário sobre os cem anos de Manoel de Oliveira, porque os japoneses conhecem bem o seu cinema, assim como o do Paulo Rocha", disse o realizador japonês.

A estação de televisão japonesa marcou presença na conferência de imprensa de Manoel de Oliveira, hoje em Lisboa, onde estiveram dezenas de jornalistas portugueses e estrangeiros, entre os quais representantes da BBC, TVE, agências EFE, Ansa, Reuters, Associated Press e France Press.

Os repórteres do canal privado nipónico vão estar em Portugal até ao dia 16, seguindo os passos de Manoel de Oliveira, que está actualmente a rodar o filme "Singularidades de uma rapariga loura", a partir de um conto de Eça de Queirós.

SS.

© 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.
2008-12-06 15:15:04



Vale a pena citar.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Quarto Crescente

Moira
que te escondes
de mansinho
sob a alma
e o perfume
do azinho
e não respondes
quando a lua
em crescente
jura que o profeta
já não volta
da caverna.
Será eterna
a serpente
que o teu ventre
trespassou?
O teu silêncio
percorre o campo.
Olha o suão
que vem e vai
sem te encontrar
e, lá ao longe,
.......................
Há África
e terra
e mar
........
E o deserto.
(José Tapadas)

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Arraiolos - Ilhas

(Ilhas, Arraiolos)
Maluda

(Ilhas, Arraiolos)
Maluda
Caminhando de Arraiolos para Évora existe, ancorado na Planície, um pequeno povoado encantador - Ilhas.
Assim, distante do oceano, mas no plano mar da terra alentejana, atrai e cativa o viajante mais distraído.

Ali passei, uma vez mais ...e recordei como gostavas deste lugar, amigo Francisco. Não eras o único. O olhar atento de Maluda captou-lhe a geometria e plasmou na tela a luz invulgar daquelas Ilhas.



Arraiolos ( Ordem dos Arquitectos)

http://maludablogumnomundo.eu

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

HIPATIA, A BIBLIOTECÁRIA

Hipatia de Alexandria
Bibliotecária da lendária Biblioteca de Alexandria (Rafael)

"Havia em Alexandria uma mulher chamada Hipátia, filha do filósofo Theon, que fez tantas realizações em literatura e ciência que ultrapassou todos os filósofos de seu tempo. Tendo progredido na escola de Platão e Plotino, ela explicava os princípios da filosofia a quem a ouvisse, e muitos vinham de longe receber seus ensinamentos."
A Vida de Hipátia
Sócrates, o Escolástico, História Eclesiástica
***
Era tão bela como sábia Hipatia de Alexandria. Sempre admirei esta figura feminina que caminhava, com passo firme pelos corredores reluzentes da sabedoria antiga, entre a Matemática e a Filosofia. Quando, na minha aldeia natal, ainda menina, lia furiosamente autores Antigos refugiada do sol flamejante da planície, imaginava-me a viver a vida dela. Alexandria ainda me fascina...
Hoje recordei Hipatia perante uma fútil conversa que ouvi, de relance, entre colegas...e conclui que é bem verdade que «Hay que passar por los infiernos de la vida para llegar a escuchar los números de la própria alma», como diria Maria Zambrano ( Delirio y Destino).

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Ilhas Vagas

Victor Vasarely
*
O arquitecto traçou a linha

O obreiro fraterno

Ergueu o Templo.

*

A caricatura ficou clara

Na manhã secreta...

Dos homens.

Copistas do Reino

Claramente evasivos,

Subversivos, portanto...

*

Não navegaremos

Sentados que estamos

Imóveis no tempo

Náufragos na memória!

*

Uma sonolência vaga

Sobrevoou...

Sobre o delírio geral.

*

A ironia, arma branca,

Aflora veladamente...

O sono dos justos.

Os interesses, humanamente

Interessados, interessantes.

*

E, os homens

Aportaram, então,

Num cais longínquo

Onde o mundo recomeçava

Límpido, na madrugada.

Junho/1991

Recordas este texto?
Estávamos sentadas há horas na sala do Conselho Pedagógico...eu, tão jovem como rebelde, e tu, como sempre, exalando uma vitalidade e alegria que, os que conheciam a tua vida sinuosa e difícil, tinham que considerar paradoxal. Ouvíamos uma outra Reforma, com os mesmos actores, na mesma Escola e ríamos de conversas laterais.
Já ninguém estuda, ali, o Alemão que te encantava. Já ninguém ri nas reuniões que se prolongam na sua extensa inutilidade. Já não nos ocorre dizer «a nossa Escola» - agora dizemos de forma asséptica, «a escola»...
Saíste há três anos roída pelo teu sonho de menina coimbrã e burguesa - falavas com tanto orgulho do teu pai médico! Saíste minada pela doença e pela tua caminhada frágil.
Oxalá aportes, hoje, no tal «cais longínquo», após as tuas seis décadas de vida, e possas retomar o orvalho de uma primavera distante que, lamento dizer, não sei se existe...
Adeus - ou em Deus - Fernanda.
Ana

sábado, 15 de novembro de 2008

Enigma

Esteva, Alentejo

*
Os sonhos eram ainda manhã,

Os frutos amadureciam...
E as lágrimas eram bagos de romã,
Gotas de sangue que tingiam!
Ontem, as crianças tinham
Sorrisos dentro da manhã!
E a força daqueles que caminham
Era ainda febril e afã...
*
Ontem os campos molhados
Desenhavam os teus passos
E, havia desejos perturbados,
A gritarem nos teus braços!
Ontem havia orquestras e compassos,
Ritmos estranhos e marcados...
Havia nós e existiam laços
No sol que beijava os terraços!

*
Ontem, o agora estava em ti
E tu eras aquilo que permanece,
Que fica e modifica tudo o que vi
Ao ritmo do encanto que embevece!

Ana

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Onde nascem as estrelas

A um ano luz,
pelo olhar do Hubble,
seríamos felizes
contemplando...
do «Olho do Gato»

este pequeno país!

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Ostinato Sul

Sung KIM
*
Hoje é o meu dia
de encontrar
aquela música tão doce
e tão pura
que neste momento escuto...
Voo alto,
tão alto como esta melodia
que me enche a alma,
o ser...
Subo!
Não posso mais suster
aquele grito
que as teclas prendem
neste cérebro sem raciocínio...
Que paz encontro
no meio da revolta,
nos acordes que inspiram
este papel em que escrevo...
Que feitiçaria suave
me toca o entendimento
que não consigo
expressar
o que ouço
pois são tão limitados
estes signos
para transcender o que sinto
e quero desenhar...
......................................
E o vento soprou
do Sul...

sábado, 8 de novembro de 2008

Resiliência

Odilon REDON, Orpheus, 1903

« A luz é o fogo ávido por cima da vela.

Ao consumi-la, ela consome-se a si própria.»

Leonardo da VINCI, 1452 - 1519

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Real?


el vendedor de alcatraces

Este sonho perturbado
Agitando o reflexo,
Filtrando a imagem...
Esta doçura e medo
De uma súbita viragem.
Os objectos primários
Que não enchem a alma,
Mas destroem uma íntima paisagem...
A espreitar o quente desejo,
Recomeçando.
Procuro e encontro
Na ideologia humana
O eco profano que não ressoa.

Ana

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Tradições

(google)
Vestíamos roupa nova e corríamos pelas ruas calcetadas de granito cinzento. Íamos de porta em porta receber os «bolinhos» e o saco branquinho, de renda, ficava cheio de doces - bolos e rebuçados.
A lareira crepitava...
As mães tinham feito broas de mel e a cozinha cheirava a uma doçura intensa.
A avó fervera café e o avô dava-nos, escondida, uma colherada de bagos de romã com vinho do Porto e açúcar.
Era doce, aromática e quente a tradição alentejana.
Ana

ibi.com

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Oração Breve

Ivo STOYANOV, Enlightenment

Ensina-me a conjugar o verbo mais puro:

Perdoar!

Ensina-me a ir no tempo mais duro:

Recusar!

Ensina-me a ter, a dar, a estar...

Quero responder: «presente!»

Se abruptamente, entre o caos e o mar

De um tempo omnipresente,

Alguém conjugar o verbo mais forte,

Mais quente:

Amar.

Ana

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Brecha na muralha

Kustav Klimt, The Maiden, 1912-13
Pegaste-lhe na mão com a ternura serena que, naquele momento, te incendiou o peito.
Amanhã interrogar-te-às porque beijaste aqueles dedos frios de uma manhã de Novembro.
Eram quentes os teus lábios.
Do contraste das ideias e das coisas desprende-se, sempre, o reflexo que se projecta para a dimensão côncava do espírito.
A sensação do real, da tua própria existência...tiveste necessidade de afirmá-la, no momento em que te esvaziavas de ti!
O gesto...
Amanhã será Dezembro e o gelo penetrará na sombra da noite.
Os teus olhos vão embaciar-se no nevoeiro da madrugada.
Anónimo...
Ana

sábado, 18 de outubro de 2008

Estela do Guerreiro


Fotos: Elizabete Rodrigues

Assim se escrevia na velha Ibéria, aqui pelos lados do Alentejo. Bela escrita tartéssica, vulgarmente designada por «escrita do sudoeste».
Vale a pena visitar o Museu da Escrita em Almodôvar, no Alentejo, e olhar de frente o enigma.
Um dia saberemos o que escreveram os meus velhos ancestrais, aí pelo séc. VII A.C. ...

Ana

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Dá que pensar...

«O Governo suíço e o banco central do país anunciaram hoje uma série de medidas que visam estabilizar o sistema financeiro do país»,
in Diário Económico, 16/10/2008
***
ONU anuncia que temos no planeta 920.000.000 de pobres.
***
Qual o rumo?

sábado, 11 de outubro de 2008

Homem Social

Donato GIANCOLA, Daily Bread
Que o homem desça ao fundo do Homem;
Que filtre com clareza a sinceridade;
Que sorria sem esgar de mediocridade;
Que o homem seja o próprio Homem!
E corra atrás do sonho e o faça realidade;
E agarre a fúria e teça a suavidade!
Homem! Intelecto e negação...
Não temas encontrar o Homem!
Social, social, socialis...
Eu, rainha sem reino e sem domínio,
Quero segurar a verdade em declínio!
Ana

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Instrumentos de Registo - Avaliação do Desempenho

Olho o anel que me deste, na ilha distante...e, eu, que gosto de lirismo em grandes pinceladas, largas e imprecisas, fico a olhar o dia que tomba sobre esta reunião interminável.
Estás na minha frente, meu amigo, dos velhos sonhos e cantares! Tens o olhar plasmado na projecção de mais um documento...instrumento de registo!
O registo dos nossos dias longos de verão está aqui - anel de labirinto - disseste, «para recordar Knossos».
Ah, colega, aqui estamos: avaliação de professores.
Um mundo surreal!
E tu sabes que sou louca por Dalí!
Porém, assim, é demais!
***
( Marido, colega, tira-me daqui!).
***

sábado, 4 de outubro de 2008

O Meu Sonho...


O' Keeffe - 1887/1986, Blue Morning Glories
Dá-me um beijo
E dá-me um sonho...
Quando me beijas!
Dá-me a tua mão
E o sonho...
O teu sonho
Quando me desejas!
Dá-me o teu perdão
Sem gratidão
E o teu sonho
Se o desejas...
Dá-me a tua dor
E o meu sonho
Do teu amor!
Ana

sábado, 27 de setembro de 2008

O olhar do mestre

Rembrandt, 1629, Cabeça de Jovem /auto-retrato


Faz vento
E eu sei...
O teu segredo!
A profusão de ideias,
O vegetar profundo
Dos teus lamentos
Adolescente...
Faz vento
E tu não sabes
A voz do sonho
E os dedos largos
Na confusão da brisa...
A tua viagem
Inconcebida, vaga...
Tu eras...
Infinitas ânsias
A germinar!
Tu ias...
No teu sonho
Marginal.
+++

Quando me olhas
Tens uma sede
Que não satisfaço.
Quando me sonhas
E me receias...
Vagueias suavemente
À procura de um fantasma.
Quando me agrides
Com as tuas palavras
No recreio das ideias,
Tu inventas o desejo!
E se te vejo e sorrio
Tu ficas à beira do abismo.
Sou a tua vertigem
Se me aproximo
E não digo
Naquele tom monótono e vário:
«Escrevam o Sumário...».
+++
* Aos meus novos alunos!

Ana




Escola de Atenas

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Cecília Meireles, Canção de Outono

Claude MONET, Il Viale del Gardino

Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.
***
De que serviu tecer flores
pelas areias do chão,
se havia gente dormindo
sobre o próprio coração?

***
E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza.
É que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando àqueles
que não se levantarão...

***
Tu és a folha de outono

voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
Certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...
Cecília Meireles

A minha homenagem à Primavera do outro lado do mar, com sabor a côco - diria Sophia de Mello B. Andresen - e à amiga que teve a gentileza de me enviar essa voz extraordinária da poesia brasileira:
http://hsp7.blogspot.com/

sábado, 20 de setembro de 2008

Fráguas Edénicas

Dante G. ROSSETTI, O Sonho, 1880
+
Aqueles que sonham
Ainda navegam
Nas águas
Pelas fráguas
Edénicas...
Aqueles que apenas pensam
São náufragos
Petrificados pelos esquemas,
São sistemas,
Máquinas bélicas!
Aqueles que choram
Mansamente imploram:
Mais sonhos!
Mais barcos!
Mais fráguas e águas
Para tecerem impérios
Mais...
Eternos arcos,
Imprecisos!
Aqueles que lutam
Amanhecem ainda,
Humanamente...
Ana

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Quadra em Quatro Ângulos Para um Mundo Esférico

Savador Dalí, Fantasias Diurnas, 1932
***
Tudo se resume no Absoluto.
As coisas diversas são iguais.
Só há alegria porque há luto.
Tudo forma o uno...e não mais!
Ana
*