Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

terça-feira, 31 de março de 2009

A Arte do Suspenso


Tisanas -manuscrito



Realizou-se no dia 28 de Março, pelas 17h30, na Biblioteca Municipal de Ponte de Sôr, a inauguração da exposição “A Arte do Suspenso” de Ana Hatherly, seguida de conferência com o título “O Jogo ou a Arte do Suspenso”, pelo Dr. Paulo Pires do Vale, às 18h30, no mesmo local.

Esta actividade é organizada pela Câmara Municipal de Ponte de Sor, Fundação das Casas de Fronteira e Alorna, Galeria Ratton e A Loja do Lopes e estará patente ao público até dia 28 de Abril de 2009.

http://bibliotecapontesor.wordpress.com/2009/03/24/a-arte-do-suspenso-ana-hatherly/


Já aqui o afirmei. Ana Hatherly faz parte da minha vida. Com ela caminhei pelo Barroco e vislumbrei dimensões de Um Mundo como Labirinto (G.R.H.). Tem um discurso cáustico e, paradoxalmente, sedutor. É exigente e meiga. Plurifacetada e nobre.

Na pequena sala da Universidade Nova - edifício velho - tínhamos encontro semanal. Conversávamos ao portão...no seu olhar transparente e azul passava uma sombra quando falava daquele dia fatídico em Inglaterra...depois a académica e artista regressava da memória e impunha a sua presença invulgar.

Ana Hatherly é fascinante e sinto-me muito honrada por saber que ela me conhece.
Com ela aprendi esta lição:

“A nossa tarefa é entender o mundo
diziam os antigos
já sabiam
que o jogo somos nós

(the toys are us).”

Ana Hatherly


(Veio ter connosco mesmo naquele dia, na Biblioteca Nacional em Lisboa, lembras-te Henriqueta? Até nos sentimos «importantes», no meio de tantos académicos e artistas...).

***

Ana


segunda-feira, 30 de março de 2009

Ode ao Gato


Fofuras* - Zé


Os animais foram
imperfeitos,
compridos de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco se foram
compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça, vôo.
O gato,
só o gato
apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.
O homem quer ser peixe e pássaro
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser só gato
e todo gato é gato
do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite até os seus olhos de ouro.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

(versão brasileira)
Pablo Neruda

* Fofuras - 2 meses.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Das Utopias


Zé - Heraklion

Se as coisas são inatingíveis... ora!
não é motivo para não querê-las.
Que tristes os caminhos, se não fora
a mágica presença das estrelas!

Mário Quintana

terça-feira, 24 de março de 2009

Direitos, liberdades e garantias...


Thich Nhat Hanh, Have Arrived

«Cancelada conferência de paz na África do Sul após recusa de visto ao Dalai-Lama» LUSA


«Joanesburgo - A China aplaudiu a decisão sul-africana de recusar o visto ao líder espiritual Dalai Lama, que permitiria a sua participação numa conferência de paz na África do Sul, que reuniria personalidades distinguidas com o Prémio Nobel da Paz.» DIÁRIO DIGITAL

segunda-feira, 23 de março de 2009

Alma Alentejana - II




A gateira na porta do celeiro
E ao monte a volta do moleiro!
O pastor de falas curtas
E as bagas negras das murtas.
*
As migas na sertã, os homens duros,
Os campos sem água, os sonhos puros.
As tardes mornas, o regato seco no verão
E no meu espírito a imagem do suão!
*



Levo o Alentejo comigo,
Quero reparti-lo contigo!
As belezas do seu sol-pôr,
A sua charneca em flor...
*
Levo-o nos meus passos largos
Que vencem a planície sem embargos.
Levo a sua extensão no meu olhar
E o seu calor para te amar.




A sinceridade deste mundo agreste,
Os seus ideais e a força campestre.
Na voz levo a sua lassidão...
O seu temperamento uno na paixão
*
É alentejana a minha alma.
O meu ser revoltoso, a sua calma...
Sou simples, sou assim,
Levo o Alentejo em mim.

Ana

domingo, 22 de março de 2009

Alma Alentejana - I


Edgar Pereira


Faça o que fizer, nestes dias de Primavera, a terra clama. É um apelo ancestral, vindo da infância, dos tempos em que corria pela planície e os seus odores enchiam de sonhos o porvir.
O Alentejo entrega o Homem a si mesmo, num especular sentido iniciático e primordial
. Tanto pode provocar um terror primitivo, naqueles dias de trovoada feroz, como encher-nos de uma tranquilidade nativa e irracional ... varar a planície, na velha bicicleta, é um retorno sem limites!
Ah...as coisas simples!




Kris Versew

Trago no olhar
Searas por mondar.
Campos de trigo
Vivem comigo...
*
Entre o montado,
O trigo ceifado
E a charneca florida
Nasceu minha vida!
*
Meu olhar apaixonado
Traz o monte caiado,
De casas branquinhas
E do gaspacho às tardinhas.
*
A minha aldeia,
A antiga candeia,
A lareira crepitando,
Os compadres falando...
*
Nos sulcos de arado,
No campo margeado
Deixei minhas penas,
Mas trago poemas...
*
Vi o contrabandista,
A voz do fadista,
O folclore rouco, profundo...
Eu trago o meu mundo.



Jorge Borges

As raparigas trigueiras,
O bailarico, as bebedeiras
- A miséria deste povo -
A açorda, o poejo e o ovo!
*
As bolotas assadas ao serão,
As anedotas até ao último tição!
As lendas de mouras encantadas,
O meu medo das trovoadas...
*
A água no coxo de cortiça,
A sesta à hora da preguiça...
O maltês e o dia do folar,
Trago o meu povo, o seu cantar.
*
As raposas assustadas,
As cachopas enamoradas.
Os gaiatos, a brincadeira,
Os homens, as mulheres e a canseira.
*
Nos meus olhos o verde escuro
E o sonho de trigo maduro.
A recordação do descampado
E do sobreiro sangrando desboiado!
/.../
Ana

sexta-feira, 20 de março de 2009

Segue o teu Destino



Olimpo - Grécia (Wikimedia)


Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
*
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós próprios.
*
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex - voto aos deuses.
*
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer - te. A resposta
Está além dos deuses.
*
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não pensam.

Ricardo Reis




segunda-feira, 16 de março de 2009

Eficácia


Livro dos Mortos - Antigo Egipto


« Há mártires de todas as evidências. Sinceridade para todos os pontos de vista. Eficácia histórica? Que maior eficácia que a de todas as crenças? E que maior mentira para os que não crêem?»
Eduardo Lourenço


http://www.ieei.pt/documentacao/autor.php?id=3


quinta-feira, 12 de março de 2009

Warum?



Arquivo histórico de Colónia - Alemanha - Março/09 ( reuters)




Estas sombras, na Primavera, levam-nos a crer que a crise, no Ocidente, não é apenas financeira.



Massacre na Alemanha, Março/09 - agência LUSA

terça-feira, 10 de março de 2009

Humano Sou


foto: Zé



Tem destas coisas a precoce Primavera alentejana. Tudo se enche de verde e a natureza estala. Caminho em volta do estádio até aos dois quilómetros e meio. Passo sempre frente à escola e, assim do exterior, nem se adivinha o tumulto da vida de um professor.
O sol cai a pique. Valha-nos o sol deste pequeno país!
Como escapar ao lirismo?
Aí tens, no que dá sol.
Amanhã?
Reuniões.
Avaliações.
Reuniões.
Inspecção.
Reuniões.
Formações.
Amanhã o sol há-de estar a pique e eu ainda quero acreditar que sou professora e ensino com a mesma paixão e afecto com que construí toda a minha vida!
Amanhã, o sol limpo e claro há-de ferir de luz o nosso olhar.




Ana e Zé

Desenham-se aromas celestes
E os teus braços estendem-se,
Agarram a minha vida toda...
E cercam o envolvente Amor
Que perfumas...
Sol, azul, calor intenso!
Teus braços...
Incenso tão meu
Perfumando o Amor, tão nosso!
E as palavras entram nas palavras,
E as palavras colam-se às palavras.
Silenciosa...
No ímpeto da vida,
A tua boca...
Unindo, vivificando, enlouquecendo!
Digo-te.
Não há poesia,
Não há rima,
Não há regra
Que cante,
Que defina,
Que enobreça!
Tua mão segura a minha vida
Perto do orvalho onde a manhã começa,
Perto do tudo onde o uno se alimenta!
Jorra exaltada a palavra
E entra em nós
Como fogo...
Como raio...
Como água pura sussurrando:
Amo-te.

Ana

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domingo, 8 de março de 2009

El Sabor de los Días


Juanan Urkijo


(se «clicar» na imagem encontrará a obra)



Hoje quero homenagear um amigo e grande escritor. Dotado de uma fina sensibilidade e tendo aquele comedimento, profundo e sereno, próprio de quem conhece a vida e o ser humano, acaba de publicar a obra que ora vos apresento.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Profeta do Nada


Charles Burchfield, Road and Sky

Não viste, menina, a verdade?
Ela estava a teu lado perturbada!
Não era a verdade - ausente dos videntes,
Tão pouco a descrença inaudita e covarde!
Era esse chamamento puro de profeta do Nada,
Onde se absolve o não - ser das coisas viventes.
*
Andavas, febril, na ânsia do ter?
Perdido, em retalhos, o inatingível...
Esquecida a dimensão supra do ser,
No reencontro da voz soberba e inaudível!
*
Ânsia, tão projectada no tempo;
Tempo, tão falaz de existência...
E, se te abstraísses desse etéreo templo,
Na busca inconformista da essência?
*
Agora, escuta...e, indo, caminha!
Caminhar é ir sozinha...


Ana

segunda-feira, 2 de março de 2009

À Tarde


Gustav Klimt, O beijo, 1907 - pormenor

A tarde cobria com o seu véu
O orvalho suave dos teus lábios.
A neblina descia do róseo céu
Invocando pensares sábios.
*
Olhaste-me e sorriste ao olhar
O impulso crescente do beijo...
E a tarde trazia-nos um palpitar
Onde esvoaçavam sonhos e desejo!
*
Brinquei serena com o teu cabelo.
Disseste que era arisca e era criança.
A tarde crescia num envolvente belo
E as bocas fundiram a ode à esperança.
*
O Sol e a Luz em nós permaneceram.
Dissemos «filho» e dissemos «amamos».
Falando do Futuro as horas esqueceram
E unos somos e juntos vamos!


Ana

domingo, 1 de março de 2009

Flor e Amizade



http://interludioemflor.blogspot.com/

A Flor inspira os dias com uma suavidade tranquila. Dela exala uma suave melodia, nostálgica, quase triste, mas plena de ternura ...é bom receber-te aqui. Obrigada por vires, nesta Primavera que se anuncia na Península Ibérica. Obrigada por seres e acreditares, como eu, no valor da Amizade.
Aqui fica o selo para todos os amigos que por aqui passarem e o quiserem levar.