Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

terça-feira, 1 de julho de 2025

Quarenta graus

 


Rui Carapinha, 2025
Matemático e meu ex-aluno, que teve a gentileza de me oferecer esta bela aguarela.


Vinham de longe,

cansados do Tempo...

Traziam rumores,

no prumo do vento.

Vinham, de tão longe,

no suão do lamento...

Traziam ardores,

E sofrimento.


Ana





domingo, 29 de junho de 2025

Extremo

 


Bernardo Strozzi, "As três Parcas"




Oligarcas
Autocratas
Monarcas
Teocratas
Magnatas

E outros tiranos
Em horas parcas
Causam seus danos

Choram meninos
Clamam as Parcas
Os nossos Destinos

                           Ana


*Parcas - deusas da mitológicas. São também designadas fates, daí o termo fatalidade. São três deusas: "Nona" (Cloto), "Décima" (Láquesis) e "Morta" (Átropos). Nona tece o fio da vida, Décima cuida de sua extensão e caminho, Morta corta o fio.


segunda-feira, 23 de junho de 2025

Que estamos a fazer da Humanidade?

 

Cá de casa - Ana, 2025

   

É esta a hora perfeita em que se cala

O confuso murmurar das gentes

E dentro de nós finalmente fala

A voz grave dos sonhos indolentes.


É esta a hora em que as rosas são as rosas

Que floriram nos jardins persas

Onde Saadi e Hafiz as viram e as amaram.

É esta a hora das vozes misteriosas

Que os meus desejos preferiram e chamaram.

É esta a hora das longas conversas

Das folhas com as folhas unicamente.

É esta a hora em que o tempo é abolido

E nem sequer conheço a minha face.


Sophia de Mello Breyner Andresen, Dia do Mar, 1947 (Poema com referência aos poetas sufis da Pérsia, Saʿdī e Ḥāfiẓ)


    Os meus amigos, que por aqui andam há mais tempo, sabem que tive uma viagem planificada para o Irão/Iraque no Verão de 2020, tendo no ano de 2019 percorrido Israel, territórios disputados, Cisjordânia, com uma incursão nos montes Golã...

    O projecto por cumprir ficou aqui: "Um chá na Pérsia"

https://raraavisinterris.blogspot.com/2020/01/um-cha-na-persia.html

    Conservo esse sonho de um dia ir à velha Pérsia. Não visito países, corro atrás da História. Do resto, falaremos depois...

    Num relance à mais banal das fontes, percebemos o que a, dita, conquista islâmica fez aos velhos textos persas...eles, sim, repositórios dos antigos preceitos, mitos e lendas sobre os quais construímos o nosso saber de europeus do Sul.

Pois...os persas não são árabes.


Literatura persa clássica
Literatura persa pré-islâmica

Sobreviveram muito poucas obras do período Aqueménida, em parte devido à destruição da biblioteca de Persépolis.[3]A maior parte do que ficou consiste nas inscrições reais dos reis Aqueménidas, em particular de Dario I (522-486 a.C.) e do seu filho Xerxes I. Muitos documentos Zoroastrianos foram destruídos aquando da Conquista Islâmica do Irão no século VII. Os Parsis que fugiram para a Índia, no entanto, levaram com eles alguns dos livros do cânone Zoroástrico, incluindo partes da Avestá e antigos comentários (Zenda) a esta. Algumas das obras sobre Geografia e viagens da época Sassânida também sobreviveram, apesar de em traduções para Árabe. Nenhum texto de crítica literária do Irão pré-islâmico sobreviveu. Contudo, alguns ensaios em Persa Médio, tal como o "Ayin-e name nebextan" (Livro dos Princípios de Escrita) e o "Bab-e edteda 'I-ye" (Calila e Dimna), foram considerados como crítica literária (Zarrinkoub, 1959).[4] (WIKI)




terça-feira, 10 de junho de 2025

O Portugal Futuro

 

Lagos, 2024 - Ana


O Portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável
Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país
e chamem elas o que lhe chamarem
Portugal será e lá serei feliz
Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a Espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz
À sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão
Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o Portugal futuro

Ruy Belo

sexta-feira, 6 de junho de 2025

A guerra terá um fim


"Alegoria da Guerra", Brueghel




A guerra terá um fim.
Os líderes trocarão apertos de mãos.
A idosa continuará
esperando pelo filho martirizado.
Aquela moça vai esperar pelo
amado marido.
E essas crianças esperarão
por seu heróico pai.
Não sei quem vendeu nossas terras.
Mas eu vi quem pagou o preço.

Mahmoud Darwish (Tradução de Nelson Santander)

    Mahmoud Darwish (Al-Birweh, 13 de março de 1941 – Houston, 9 de agosto de 2008) - Nascido em Acre, na Galileia. É ele o autor da Declaração de Independência Palestina, escrita em 1988 e lida pelo líder palestiniano Iasser Arafat, quando declarou unilateralmente a criação do Estado Palestiniano. Darwish é considerado o poeta nacional da Palestina.