Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

domingo, 19 de janeiro de 2020

Um chá na Pérsia



Iman Maleki, «Peixeiro»,  pintor iraniano

Gostaria de, no próximo Verão, visitar aquela terra a que os Gregos, um dia, chamaram Pérsia. Muito provavelmente não poderei fazê-lo. Não por os misseis, desta vez, não terem o ardiloso «capacete de ferro» israelita a proteger-me, mas por motivos pessoais - os mesmos que, por vezes, silenciam o «Sul Sereno».
Sabes que corro atrás da História. O Irão alberga os fundamentos de uma sabedoria ancestral e equaciona o meu sentido de justiça. Sabes que não rejeito lugares inóspitos. Procuro, sem cessar, a resposta para a pergunta que me aflige:

Que estamos a fazer da Humanidade?


Resta-me reler Hafez, poeta persa do séc. XIV.

Edição bilingue em castelhano-árabe


Solitário?
Milhares de seres apaixonados e nus
habitam as cavernas antigas debaixo das 
Minhas pálpebras.

Riquezas?
Toma aqui um punhado,
todo o meu corpo é uma esmeralda que implora.

Eu aprendi tanto de Deus,
Que já não posso mais chamar-me
Cristão, Hindu, Muçulmano, Budista, Judeu.


A Verdade compartilhou tanto de si mesma comigo,
Que já não posso mais chamar-me Homem, mulher,
anjo ou mesmo uma alma pura.





16 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Por vezes
nem precisamos ir
para saber
para sentir
o tanto
que os livros desde há muito nos dizem
É para isso que serve
quem escreve

João Santana Pinto disse...

"Que estamos a fazer da humanidade?"

Não sei, Ana, cresci a acreditar num Mundo diferente, deste nosso, agora, ganho anos e tanta coisa mudou para melhor, mas, ainda assim, tão perto e ao mesmo tempo tão distante de uma humanidade que se quer humana... exatamente nesse sentido dado por Hafez que muito certamente acreditava que tais ideais iriam estar vigentes nos nossos dias, tal como eu acreditava, ainda menino.

Beijinhos e uma ótima semana para ti

alfacinha disse...

A realidade da guerra
O rapaz não soube quantos anos tinha, provavelmente a mesma idade que a guerra tem. Porém já era o ganha-pão da família. Seu pai, ele nunca conhecera, foi morto pelos mísseis. Não sabia ler nem escrever e, para sobreviver, tinha de riscar a vida procurando entre os escombros para coisas ainda vendáveis. Que carreira! Imaginem se fosse o seu filho ou o seu neto.
Paz

Graça Pires disse...

Tenho que ler este poeta persa. O poema é cheio de sabedoria e humanidade. Obrigada, Ana, por partilhares.
Uma boa semana.
Um beijo.

CÉU disse...

Não sei responder à pergunta, mas Hafez sabe muito bem.
Beijos e boa semana.

Majo Dutra disse...

Um poema belo e impressionante...
Agradeço ter divulgado o autor.

Xás, czares e imperadores vivem na história
e ainda em suas faustosas obras...

O chá persa deve ser forte e muito aromático, seria
delicioso tomá-lo consigo e com os comentaristas.
Beijinhos, Ana
~~~~

Diná Fernandes disse...

Olá Ana,
Um excelente post sobre a Pérsia e sobre o Escritor Hafez, vou procurar esse livro, preciso conhece-lo.

Abraço

Ulisses de Carvalho disse...

Esta é uma postagem cheia de profundidades, gostei muito, desde o teu texto com a tua pergunta ao final (pergunta que todo ser humano minimamente sensível se faz ao longo da vida e especialmente nestes tempos tão estranhos) até ao poema por ti compartilhado, que poema tão interessante! É daqueles que nos provocam de alguns modos, que nos fazem pensar. A imagem também é muito forte e bonita. Um abraço, Ana, espero que tu estejas bem.

Acrescenta Um Ponto ao Conto disse...

Caros amigos leitores,

chegámos ao fim do nosso conto escrito a várias mãos "Variações em Quadrilha".
https://contospartilhados.blogspot.com/2020/01/variacoes-em-quadrilha-capitulo-12-final.html

Agradecendo o vosso seguimento, motivação e apreciações,
despedimos-nos com um até breve!

Mariazita disse...

Olá, Ana
Uma pergunta a que ninguém, em sã consciência, poderá responder.
O Homem não aprende nada com os seus erros, e toma imprevisíveis decisões...

O poema é belíssimo, com grande profundidade. Gostei muito.

Bom Fim-de-semana
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

Jaime Portela disse...

Essa pergunta também me aflige.
E também gostaria de visitar a antiga Pérsia.
O poema que escolheste é soberbo.
Excelente post, gostei imenso.
Querida amiga Ana, um bom fim de semana.
Beijo.

Edum@nes disse...

Coisas de bem que ficam por fazer. Enquanto que se fazem outras que nunca devia ser realizadas. Resta-nos a esperança de que o dia de amanhã, não seja pior do que o dia de ontem.

Continuação de boa semana amiga Ana. Beijinhos.

O Puma disse...

A poesia não quer salvar o mundo
só ajudar
porque não basta ter razão

Elvira Carvalho disse...

Quando eu era menina, sonhava com um mundo melhor. Cheguei a pensar ( veja só como era ingénua) que eu conseguia mudar alguma coisa. Estou velha cansada, e mudou alguma coisa? Mudou. O homem aproxima-se cada vez mais da sua extinção. O planeta está a ficar saturado, e um dia cansa-se e acaba connosco.
Abraço e ótimo domingo

Manuel Veiga disse...

um poema sublime! ...
Hafez, um Poeta universal

(quero ir à Pérsia)

beijo, Ana.

AC disse...

O poema indicia, no poeta, a vivência de mil sóis, sem amarras.
Uma pequena maravilha.
Se me permites,
Bem ela fez
Quando se refez
Na leitura de Hafez.

Um beijinho, Ana :)