Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

domingo, 27 de novembro de 2022

Mundo perfeito

 

Bettina Baldassari


    Lembro-me daqueles dias silenciosos e da rua detrás. Já fazia frio, mas que importava? Histórias de mundos longínquos povoavam-me a mente. Quimeras, marajás, gente deslumbrante que levitava sobre tapetes. Um dia eu iria a esses lugares! Levada por sonhos, voraz na leitura, só os meus amigos silenciosos me acompanhavam pacientemente. Se me chamassem para dentro, pelo frio da aragem ou por a mesa estar posta, lá me erguia e eles também, com a vivacidade ágil e juvenil de antanho.
    Onde choveram as pérolas cristalinas desses dias? Que sombra ou que cansaço se inundou de tantas partidas? Que Deus cruel soprou as poeiras dos desertos?



Bettina Baldassari

   
 Estoicamente aqui estamos! Na distância troam as guerras e são tantas...já caminhámos por tantos desses lugares e, por ali, amámos Epicuro, mesmo sabendo como o sangue dos homens se espraiou no horizonte. A nossa existência nunca foi de facções, de matilhas barulhentas ou de folias hedonistas. Reparaste que eu sorria e, aquelas mulheres longínquas, me sorriam de volta. Isto sempre te encantou e sou feliz por ter essa arma serena. Vamos para ser e estar, para conhecer uma remota origem comum. Vamos em busca dessa Humanidade que se fragmenta e que sonháramos herdeira de um destino comum e harmonioso.


Ana


    

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Homenagear Saramago é ler a sua obra


 

Em que língua se diz, em que nação,
Em que outra humanidade se aprendeu
A palavra que ordene a confusão
Que neste remoinho se teceu?
Que murmúrio de vento, que dourados
Cantos de ave pousada em altos ramos
Dirão, em som, as coisas que, calados,
No silêncio dos olhos confessamos?

                                                               José Saramago, in Os Poemas Possíveis