Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

domingo, 27 de novembro de 2022

Mundo perfeito

 

Bettina Baldassari


    Lembro-me daqueles dias silenciosos e da rua detrás. Já fazia frio, mas que importava? Histórias de mundos longínquos povoavam-me a mente. Quimeras, marajás, gente deslumbrante que levitava sobre tapetes. Um dia eu iria a esses lugares! Levada por sonhos, voraz na leitura, só os meus amigos silenciosos me acompanhavam pacientemente. Se me chamassem para dentro, pelo frio da aragem ou por a mesa estar posta, lá me erguia e eles também, com a vivacidade ágil e juvenil de antanho.
    Onde choveram as pérolas cristalinas desses dias? Que sombra ou que cansaço se inundou de tantas partidas? Que Deus cruel soprou as poeiras dos desertos?



Bettina Baldassari

   
 Estoicamente aqui estamos! Na distância troam as guerras e são tantas...já caminhámos por tantos desses lugares e, por ali, amámos Epicuro, mesmo sabendo como o sangue dos homens se espraiou no horizonte. A nossa existência nunca foi de facções, de matilhas barulhentas ou de folias hedonistas. Reparaste que eu sorria e, aquelas mulheres longínquas, me sorriam de volta. Isto sempre te encantou e sou feliz por ter essa arma serena. Vamos para ser e estar, para conhecer uma remota origem comum. Vamos em busca dessa Humanidade que se fragmenta e que sonháramos herdeira de um destino comum e harmonioso.


Ana


    

15 comentários:

J.P. Alexander disse...

Ojala podamos ser mejores y encontrar la paz. Te mando un beso.

Elvira Carvalho disse...

Posso ir consigo, Ana?
Tão belo, tão emocionante este texto.
Adorei.
Abraço e saúde

Maria João Brito de Sousa disse...

"Estamos aqui pela humanidade!"


Haverá sempre poeiras do deserto a cobrir as "pérolas cristalinas" que, em tempos, pretendemos encontrar.

Esplêndido texto, Ana!

Um beijo

Graça Pires disse...

Vou contigo, Ana, "em busca dessa Humanidade que se fragmenta e que sonháramos herdeira de um destino comum". Que bom ler-te!
Uma boa semana com muita saúde.
Um beijo.

Rogério G.V. Pereira disse...

Sinto-me desafiado a ir contigo, e como tu para ser e estar, para conhecer uma remota origem comum. Irmos em busca dessa Humanidade que se fragmenta e que sonháramos herdeira de um destino comum e harmonioso.

Que belo texto.

Beijo

Marina Filgueira disse...

!Holaa, Ana¡

Nos regalas un hermoso texto que lleva un pizco de nostalgia y al mismo tiempo esperanzador, creo que tienes un alma grande tus letra lo dicen. Creo en ese mundo mejor aunque tengamos muchos contratiempos con los que nos encontramos en este camino de la vida, tiene que haber un cambio, países sin guerras dende nadie tenga que vivir desarraigo de su patria de tierra.
Me ha encantado leerte, gracias por tu buen hacer, amiga.

Te dejo mi abrazo fraterno, colmado de gratitud, paz y bien.
Se muy ,muy feliz.

Janita disse...

Não me ofereço para ir também, Ana. Eu iria sim, se pudesse, ao encontro do meu alpendre que dava para a «minha rua detrás», porque também eu tive uma rua e uma «porta da frente» e outras detrás.
Ficava ao fundo do quintal, pomar, jardim. O meu pequeno paraíso.
Sentar-me-ia no meu baloiço feito com uma corda grossa, passada por uma das traves- nem sei como - e uma tábua a fazer de assento.
Nesse balanço, embalada pela leitura das minhas histórias, ali tão perto da areia do deserto, não havia Deuses suficientemente fortes que soprassem ventos que embaciassem os meus sonhos de menina.
Mas eles, os maus ventos de areia, vieram sim, e roubaram a felicidade que eu nem sabia que tinha... :(

Quantas recordações felizes me trouxeram tão belo texto.

Um beijinho grande, Ana.

PS-Pensei que já cá tivesse vindo, mas confirmei agora que foi num outro post.

Vicky Cahyagi disse...

Beautiful pic and great article. Warm greetings from Indonesia

Mor Düşler Kitaplığı disse...

what a meaningful post.. and the paintings look so good. Thanks for sharing. Have a good weekend Ana :)

São disse...

Vou contigo, quer me aceites ou não.

Porque conservo alguma esperança : a Humanidade ainda tem capacidade para sair deste labirinto tenebroso onde se deixou enredar - tem que existir um fio de Ariadne!


Minha querida Ana, forte abraço, bom Dezembro.

Luiz Gomes disse...

Bom domingo e um ótimo início de semana com muita paz e saúde minha querida amiga Ana. Fico feliz em lhe mostrar um pouquinho do Brasil e Rio de Janeiro.

Jaime Portela disse...

A vida poderia ser uma coisa bem simples.
Se não houvesse quem a complica permanentemente.
Gostei do texto, muito interessante.
Boa semana, amiga Ana.
Beijo.

Guma disse...

Acho Ana que não perdi de todo essa capacidade de sonhar e trabalhar essa esperança de harmoniosamente sermos e estarmos para o bem comum, cada um de nós o tal elo imprescindível nessa corrente a que pensávamos pertencer. Umas vezes penso que sim, outras, nem sei o que diga.
É lendo o que aqui deixas para nós e que me transporta para um tempo que me parece já tão longínquo mas tão saboroso de recordar, que me faz acreditar e querer ir...
Beijo e kandando sem fim.

SILO LÍRICO - Poemas, Contos, Crônicas e outros textos literários. disse...

Muito belo texto, Ana.
Gostei por ser meio onírico
Ao gosto do Silo Lírico
Que atribui à humana
Criatura soberana,
O direito de sonhar
Como manifestação solar
Da liberdade do ser
Para sentir o prazer
De a própria vida amar.

Parabéns pelo belo texto. Abraço fraterno Laerte.

Majo Dutra disse...

As pinturas são amorosamente expressivas e inspiraram um texto pertinente de uma atualidade inquietante que dói, emociona e perturba.
A minha luta contra a bactéria patogénica durou três semanas e a recuperação não foi fácil...
Venho desejar-lhe umas boas férias e uma feliz passagem para um novo ano que desejamos melhor em todos os aspetos.
Beijinhos, querida amiga.
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