Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

terça-feira, 28 de abril de 2009

"Va Francesco, e ripara la mia casa che, come vedi, va in rovina"


Giotto di Bondone
, Francisco renunciando aos bens


Agora temos um santo guerreiro. Todos se apressaram no discurso laudatório. Invocou-se Camões, falou-se da casa de Bragança. O presidente da República, pouco hábil em discursos históricos, preferiu dar de exemplo D. Nuno às forças armadas...
Não discuto a História, muito menos julgo o homem - Nuno Álvares Pereira - um provável alentejano, nascido aqui no Crato e o segundo Conde de Arraiolos. Não faltam páginas sobre o homem, nem na Internet nem na História do meu país...
Ficaria por aqui o assunto de santos se uma velha prece, em italiano, não teimasse em vir-me à memória, junta com um belo quadro de Giotto, esse génio pintor e arquitecto, que assim parece ilustrar aquelas palavras que trouxe de Assisi, da belíssima Umbria, num dia de chuva miudinha em pleno Agosto.Tu e eu de mochilas às costas, carregando o peso dos sonhos nas nossas duas décadas de vida.
E, hoje, aquelas palavras do santo - poeta ainda dançam dentro de mim e vestem um qualquer ideal de comunhão com a natureza, um qualquer anseio de humildade voluntária e justa:
«O alto e glorioso Dio,
illumina le tenebre
del cuore mio.
Dammi una fede retta,
speranza certa,
carità perfetta
e umiltà profonda.
Dammi, Signore,
senno e discernimento
per compiere la tua vera
e santa volontà. »

Francesco d'Assisi

sábado, 25 de abril de 2009

A Um Poeta



Tu, que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno,

Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno,
Afugentou as larvas tumulares…
Para surgir do seio desses mares,
Um mundo novo espera um só aceno…

Escuta! é a grande voz das multidões
São teus irmãos, que se erguem! são canções…
Mas de guerra… e são vozes a rebate!

Ergue-te, pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faz espada de combate!

Antero de Quental


sexta-feira, 24 de abril de 2009

À Espera...


Lima de Freitas

NEVOEIRO


Nem rei nem lei, nem paz nem guerra.
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem.
Nem o que é mal e o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!

http://omj.no.sapo.pt/

https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/501/1/AlbertoAraujo73-95.pdf


http://www.novaera-alvorecer.net/lima_de_freitas.htm

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Movimento Natureza - Prefiro Rosas, meu Amor, à pátria



Vista do espaço - Apollo 17



Tal como o prometido, cá estou eu a refazer este post...Boa noite, meus amigos!
Moro neste lugar há cerca de uma dezena de anos. Urbanização nova, construída sobre um local onde só havia depósitos de materiais de construção...
Sou um desses seres que conhece os dias pelo aroma. No meu Alentejo existem quatro estações exuberantes e um clima que vai do frio inverno, com geadas agrestes, ao quente e seco verão, com temperaturas que sobem aos quarenta graus.
Criar, aqui, um pequeno jardim é promover um microclima ameno e suave...trabalho duro e persistente, que me atrai e descontrai.
As minhas árvores cresceram. Não sei os nomes correctos de algumas, mas que importa? Companhias silenciosas, apontam o claro firmamento destes dias.


As minhas rosas brancas têm espinhos poderosos, são como os meus longos dias de trabalho, presa às cadeias de tantos afazeres intelectuais e burocráticos...
Hoje plantei uma buganvília... adoro esta planta, evoca o sul e um mediterrâneo onde gosto de mergulhar a imaginação.
«Pedaços de paraíso», os nossos jardins são beleza, tranquilidade e uma colorida luta contra os malefícios da vida urbana.
E...porque o nosso planeta, velha Gaia, precisa de nós e é precioso demais, aqui vos deixo com Fernando Pessoa:


fotos do meu jardim...
Prefiro rosas, meu amor, à pátria,
E antes magnólias amo
Que a glória e a virtude.

Logo que a vida me não canse, deixo
Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o mesmo.

Que importa àquele a quem já nada importa
Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre,

Se cada ano com a Primavera
As folhas aparecem
E com o Outono cessam?
E o resto, as outras coisas que os humanos
Acrescentam à vida,
Que me aumentam na alma?

Nada, salvo o desejo de indiferença
E a confiança mole
Na hora fugitiva.

Fernando Pessoa



sábado, 18 de abril de 2009

Telma - Para memória futura



amor-perfeito

Telma, pensei muito se deveria publicar a sua mensagem, mas como não o fazer? É verdade que não gosto de expôr a minha individualidade, mas também não gosto de máscaras...É bom saber que, muitos anos a seguir, deixámos um rasto...apesar daquela postura austera -afinal, para minha estranheza completa, soa «doce» uma voz que supunha autoritária...
Não, amigos, não é por mim, mas pelos meus alunos actuais que aqui fica o" post" da Telma - finalista da Universidade Técnica de Lisboa.

***

Olá!
O seu blog... Fantástico!
A Ana!
Pode ver-se aqui uma outra Ana, diferente da Ana das aulas ao 10ºG!
Nem poderia mostrar-nos esta, sobretudo, porque éramos, na altura, incapazes de tentar sequer conhecer! Mas é bom conhecê-la agora ... e dá um certo gozo por se ter ,agora , a sensação que conhecemos uma Ana que na altura não se queria mostrar!
Penso que só tinha visto uma vez o seu blog! Mas agora já não me permito distrair, já está adicionado nos "Favoritos" para que de vez em quando lá vá!
Comentar no seu blog? Não conseguiria escrever nada à altura! Posso assim, dizer que é um prazer ler as suas palavras relembrando a sua voz sempre calma e doce, cheia de sabedoria!

Tenho um prazer enorme em tê-la conhecido e ainda compartilhar consigo breves e saudosos momentos!


Telma Pereira


Obrigada!

quinta-feira, 16 de abril de 2009

O Rei da Ítaca


«Ulisses», Lima de Freitas



A civilização em que estamos é tão errada que
Nela o pensamento se desligou da mão

Ulisses rei da Ítaca carpinteirou seu barco
E gabava-se também de saber conduzir
Num campo a direito o sulco do arado



Sophia de Mello Breyner Andresen
O Nome das coisas (1977)

http://www.grandesencontros.com.br/U.htm

http://www.triplov.com/alquimias/rgoncalves1.htm

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Cultos Remotos


Antas da Ordem



Quando viajamos para Norte, neste pequeno país, ficamos noutro mundo. Os cultos adensam-se de religiosidade Católica e falar de religião enquanto se come abundantemente parece coisa necessária. Depois...haja boa disposição! Brinca-se com tudo, mesmo com a divindade.
A Regra está lá, salvaguarda-se o cânone. Foi imposto o limite. Roma o ditou. Estamos seguros no Norte. Temos certezas...


*mitraísmo - Senhora dos Prazeres


Nestes instantes - ser inquieto - a minha imaginação ruma para Sul. Cultos remotos vêm-me à memória: velhos jejuns; jantares de leite, obrigatórios; o «atabefe»; a ida à sacristia da velha capela para apreciar a enigmática relíquia e a noite bem dormida em pleno campo, acantonados, adivinhando a Primavera e ouvindo o balir longínquo dos rebanhos.
Havia magia...que uma pontinha de medo sublinhava. Nada era seguro, excepto o ângulo que a capela recortava na limpidez pura do amanhecer.



Senhora dos Prazeres




Boa Páscoa

sábado, 4 de abril de 2009

Carregado de mim ando no mundo



http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/84/Greg%C3%B3rio_de_Matos_1775.jpg


Queixa-se o poeta em que o mundo vai errado, e querendo emendá-lo o tem por empresa dificultosa.

Carregado de mim ando no mundo,
E o grande peso embarga-me as passadas,
Que como ando por vias desusadas,
Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo.

O remédio será seguir o imundo
Caminho, onde dos mais vejo as pisadas,
Que as bestas andam juntas mais ousadas,
Do que anda só o engenho mais profundo.

Não é fácil viver entre os insanos,
Erra, quem presumir que sabe tudo,
Se o atalho não soube dos seus danos.

O prudente varão há de ser mudo,
Que é melhor neste mundo, mar de enganos,
Ser louco cos demais, que só, sisudo.

Gregório de Mattos, séc. XVII


http://www.jornaldepoesia.jor.br/grego.html



Tenho andado tão absorta que só hoje uma qualquer zona do meu cérebro me atirou para a realidade.
Estava a pensar como lamentava não ter ido ao encontro de uma amiga virtual - Janaína Amado - de passagem por Lisboa... perdera , também, a ocasião de conhecer dois autores extraordinários da Literatura Brasileira, ela e o marido, que estou a descobrir!
Estava a pensar em tudo isto, quando percebi, subitamente, que tinha tido uma ocasião única de estar perante a filha de dois vultos singulares das Letras Brasileiras: Jacinta Passos - sua mãe, poetisa e mulher pioneira em questões do «género» e James Amado - seu pai e académico brilhante,o maior estudioso do poeta Gregório de Mattos... Sobrinha de Jorge Amado!
Tenho andado tão absorta que não ajustei a realidade.
Tardiamente, aqui deixo a minha homenagem a Janaína, por ser como é: gentil e simples, sem o atavismo ou as vaidades tão sobejamente conhecidas na nossa praça.
Bem hajas, Janaína!

Ana

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Promessas


Frágeis, fugazes...



promessas de fruto.

Renascerão...

Ana