Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Por um Mundo Melhor

Looking for Love, Jim Warren




Endovélico,
velho deus,
de meus ritos
de menina...
Lusitânia antiga,
em ti me abriga.
Maat, minha mãe,
com justiça,
com equilíbrio,
abriga-me
também.

Ana


Basílica da Natividade -Belém - Palestina © Viaje Comigo
Igreja da Natividade, Belém, Palestina (viagecomigo.com)


Boas Festas, meus amigos!

Jerusalém, 2019




quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

PATXI ANDION." El Maestro". Aos professores republicanos, fuzilados






Um professor tem o dever ético de lutar por um mundo melhor!


ADEUS, PATXI ANDION!






terça-feira, 17 de dezembro de 2019

O PERFIL DOS DIAS



"HUMANO, DEMASIADO HUMANO..."



Não colhe o poeta palavras gastas
Na gramática dos dias
Nem da altiva rosa,
Desatadas pétalas…

Nem da rubra flor, colhe o poeta
De empréstimo,
Seu perfume…

Nem invoca os deuses
Em contra-mão
Dos seus desígnios…

E, no entanto, a palavra líquida
E o desatino de seus passos…
……………………………………

“Humano, demasiado humano…”


Manuel Veiga


É desígnio deste blogue servir a fraternidade e orgulhar-se dos amigos. 
Hoje, entre relatórios, grelhas e aquela muita burocracia que vai atormentando a vida ocidental de um professor, a minha rendida homenagem centra-se em Manuel Veiga. A tensão dos dias não nos pode tolher a natureza.
A poesia, agora reconhecida, admiro-a de há muito. Dela emerge algo de primitivo e de nu, teoricamente falando. A sua poética emerge de um lugar distante, de lá onde o Homem juntou os primeiros símbolos para deles fazer a escrita...antiquíssima Babilónia, Pérsia ancestral, Grécia antiga. Há uma regra elementar que rege os vocábulos escolhidos e, então, no ritmo adulto dos versos, eles transportam uma tangibilidade ajustada à sabedoria Clássica. Os deuses encontraram, nos poemas de Manuel Veiga, uma trégua para renascerem e explicarem o Homem no Mundo.
Ricardo Reis ouve-se em surdina, nalguns dos seus poemas. Porém, Veiga sabe que até as rosas perderão as pétalas, por isso considero que a linguística do símbolo, no nosso Poeta, é mais abrangente e ampla, assumindo conceitos vindos da Filosofia ou das Ciências Humanas para a Poética. Nele existe uma ambiguidade pura, na qual se plasma a solidão da escrita. 
 Sabe, o Poeta, que a esperança excede a sapiência e, também, a brevidade da vida. Sabe, o Poeta, que cada emoção não passa de um momento com a mortalidade sempre à vista, daí a necessidade de uma demiurgia interna - este é o PERFIL DOS DIAS.


Ana
 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Sam Seaborn

Vladimir Kush, «Ocean Breeze»

O Sam Seaborn é uma personagem de ficção, como é do conhecimento daqueles que apreciam séries. Porém, o meu amigo Sam Seaborn é um narrador, por vezes próximo do autor e, noutras, também a personagem que nos conta a história. As suas narrativas são-nos contadas num registo de língua fluentemente urdido. A tecitura do texto cativa-nos e encanta-nos. O «récit», na sua universalidade, transporta o eterno debate entre o idealismo e o materialismo; entre a transcendência e a imanência. Não poderemos lê-lo à superfície, ficarmos instalados na gramática estrutural do texto, porque é do subtexto que emerge a mensagem.
Quando lemos uma história de Sam as personagens sugerem, pelos diálogos, que se deslocam num universo citadino, num quotidiano de encontros fugazes. Não se expõem ao desenfreado exterior e os traços de que se compõem assemelham-se a pinceladas impressionistas que se deslocam de um passado intenso para um presente narrativo, no qual o principal sema é o temporal e os objectos do quotidiano que isolam a persona
Os retratos irrealizam-se segundo o cânone literário: corpo - rosto - olhar. Assim, a percepção obedece à regra: o que dá prazer nunca lá está, por prazer. Essa é a máxima que constrói o verdadeiro erotismo que, no caso de Sam, é sempre construtivo de um mundo melhor que se perdeu, ou que se ambiciona. Estes são os códigos de sentido que vislumbramos por detrás do (des)encontro do «ele»/«ela» - que estão, por norma, do lado do ser. Todos os artifícios são regulados como elementos que compõem um cenário, não estão do lado do ter. Daí o carácter profundo das narrativas, aparentemente, simples histórias de amor ou de desencontro amoroso.
A maior marca de utopia não se afasta do quotidiano, como é sabido. É aí que instalamos a procura incessante de harmonia. 
Esse é o nosso amigo Sam Seaborn, que podem visitar aqui:



Nota:bom regresso! Para ti, só poderia ser um quadro de V. Kush...há já tantos anos de blogosfera!


sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

«Arbeit macht frei»


“Human Way”, Vladimir Kush


Não me digas, já o sei.
São tantos os muros,
tantos os fogos...

Mais ainda o secreto
silêncio dos culpados.

São tantos os sonhos,
Tantos os tombos...
Decerto que o direi!

Culpados à solta...
na inocência anónima.
Anódina caminhada,
Na recta do abismo.

Nunca te transformes
naquilo que contemplas...


Ana




Israel
Waze, GPS - a entrar na Cisjordânia



1) - «Arbeit macht frei» o trabalho liberta, Polónia, Auschwitz


domingo, 24 de novembro de 2019

Sul Sereno

José Alves, 2019


Estranha é a vida. Dá voltas, diz o povo. O povo sabe. Desse saber feito de séculos, de tentativas e de respostas.
Vem isto a propósito de ter tido um blogue de cujo título muito gostava. Depois, como aqui digo...eliminei-o.



1. Porque é que criou um blogue e, quando o criou, tinha expectativas de que fosse popular?


Criei este blogue por um motivo muito prosaico: trabalho. Dito assim até aborrece, mas foi a verdade.
Em 2007 criei um blogue experimental intitulado Sul Sereno e de tudo só gostava do título. Nesse tempo eram os alvores do Plano Nacional de Leitura e eu tive necessidade de divulgar em blogue o PNL da minha Escola. Assim, arranjei um blogue - experiência. Eliminei o Sul Sereno
 quando senti que dominava razoavelmente as funcionalidades do Blogger. Mas tinham nascido alguns amigos e para mim a AMIZADE é o mais importante dos afectos humanos. Acabei por abrir o blogue, como não pude recuperar o título ...nasceu RARA AVIS.
Nunca quis ser popular. Sou uma criatura felina e recatada. Há quem me diga que sou viciada em trabalho e que sou um pouco autoritária. Estereótipos...
Preciso, até, de algum isolamento para me centrar e organizar. Mais de duas cores juntas ferem-me o olhar. Palavras a mais são verborreia. Há demasiado ruído e pouca acção.
Escrevo, mas não sou escritora - menos, ainda, poetisa. Precisei chegar a meio século de vida para ter coragem de expor algum pensamento intimista.
O meu tempo é tão escasso que com grande dificuldade visito e comento os amigos.
Penso por palavras, gosto de palavras. Com elas construímos laços.
O bom dos blogues é que nem sequer precisamos dos rostos para conhecermos o Outro.







Agora, tenho tido um aborrecimento interior, ao verificar que esse domínio se tornou malicioso na sua «cache» e que «Rara Avis» se banalizou numa cadeia de vestuário de noivados...isso mesmo! Já para não falar noutras acepções.

Assim, resta-me o compromisso de alterar o título do blogue sem modificar o domínio digital.

Aos meus @migos as minhas desculpas.

Então...«Sul Sereno» seja!

                     Bem Hajam!

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

«Mão aberta e o dedo indicador a tocar o polegar»




Caça F-35 da Força Aérea de Israel, 2019


Quando presenciamos situações extremas e no nosso íntimo as guardamos, uma perspicácia qualquer, apurada e constante, aguça-nos o olhar. Temos que experimentar...estar lá, sentir. Quem pode ser indiferente ao caça F-35 (dizem-me) que sobrevoa este lugar?


Israel, 2019

Quem pode ser indiferente aos jovens, quase imberbes, do outro lado da estreita rua e comer tranquilamente, oferendo as costas indefesas a esta invenção de Uziel Gal? Parece leve a Uzi...
Sou alentejana, sabe-lo bem, o meu pacifismo íntimo há muito que sabe exactamente como se usa uma arma. A imensidão da minha planura educa-nos para a defesa, ou se preferires, para a coragem.


Israel, 2019

Sim, estavam nos lugares sacros e rezavam no Muro. Celebrava-se um ritual muito específico e no dia seguinte houve dois mortos a escassos metros... Tishá BeAv nunca trouxe boas memórias...


Knesset, Israel, 2019

Do outro lado, a Universidade, a Biblioteca Nacional e o fabuloso museu que aqui me trouxe...deste lado, em plena campanha eleitoral, o edifício do parlamento onde o conservadorismo se instalou. Eu, já te disse várias vezes, corro atrás da História.


Torres de vigia, Knesset, 2019



Sabes bem que não poderei aproximar-me e muito menos fotografar tudo! Por isso, será no meu íntimo que continuarei a guardar as memórias destes lugares.
Quantos museus tenho em redor? Muitos, muitos! Andei vinte e seis quilómetros nesse dia. Que importa? Sou alentejana, recordas? Que me importa a distância?



Mas nada ali me atemoriza! Fui e voltei e hei-de regressar!

Aquilo que me preocupa está aqui tão perto! Há um rumor que vem de longe, há uma indiferença ao rumo, um caminho para uma ignorância galopando sobre os gestos, sobre os indícios...aqui, em Portugal!

«Mão aberta e o dedo indicador a tocar o polegar» numa concentração de «forças da Ordem»?!




terça-feira, 19 de novembro de 2019

Não adormeças...por favor!

«Guernica», Pablo Picasso



Eu Vim de Longe
                                                                                             José Mário Branco

Quando o avião aqui chegou
Quando o mês de maio começou
Eu olhei para ti
Então entendi
Foi um sonho mau que já passou
Foi um mau bocado que acabou

Tinha esta viola numa mão
Uma flor vermelha na outra mão
Tinha um grande amor
Marcado pela dor
E quando a fronteira me abraçou
Foi esta bagagem que encontrou

Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou pra longe
Pra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar

E então olhei à minha volta
Vi tanta esperança andar à solta
Que não hesitei
E os hinos cantei
Foram frutos do meu coração
Feitos de alegria e de paixão

Quando a nossa festa se estragou
E o mês de Novembro se vingou
Eu olhei pra ti
E então entendi
Foi um sonho lindo que acabou
Houve aqui alguém que se enganou

Tinha esta viola numa mão
Coisas começadas noutra mão
Tinha um grande amor
Marcado pela dor
E quando a espingarda se virou
Foi pra esta força que apontou

E então olhei à minha volta
Vi tanta mentira andar à solta
Que me perguntei
Se os hinos que cantei
Eram só promessas e ilusões
Que nunca passaram de canções

Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou pra longe
P´ra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar

Quando eu finalmente eu quis saber
Se ainda vale a pena tanto crer
Eu olhei para ti
Então eu entendi
É um lindo sonho para viver
Quando toda a gente assim quiser

Tenho esta viola numa mão
Tenho a minha vida noutra mão
Tenho um grande amor
Marcado pela dor
E sempre que Abril aqui passar
Dou-lhe este farnel para o ajudar

Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou p´ra longe
P´ra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar

E agora eu olho à minha volta
Vejo tanta raiva andar a solta
Que já não hesito
Os hinos que repito
São a parte que eu posso prever
Do que a minha gente vai fazer

Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei prá aqui chegar
Eu vou pra longe
P´ra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar





Para ouvir a canção preferida, basta «clicar» no link.





segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Na noite dos idos



Viana do Castelo, Novembro de 2019




Ancorados os sonhos
perdidas as viagens
na voragem do tempo
a memória se foi

Teu homónimo morreu

Agora aqui estamos
hospital da decadência
a dias da destruição
o teu Norte e teu rumo

Na guerra primeira (?)

Ancorado nos dias
aragens e vento
nas águas do cais
ao sabor da cadência

Teu homónimo morreu (?)

Imperfeitas as rotas
estáticas e revoltas
negação na paisagem
ancorados os sonhos


Ana

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Experiência Inefável


Negueve, Agosto de 2019


É no caminho do deserto, Agosto pleno, que a terra respira a sua antiguidade e sageza. A voz emudece. Todos os desertos são diferentes e gosto de os atravessar como quem cai no colo quente e ancestral da mãe. Deserto e origem, vertigem e vórtice! Aqui, o silêncio deixa escutar a Alma imensa do Universo...emudece e comove, na solitária rota de uma origem.


Negueve, Agosto de 2019



Nenhum lirismo me extasia - defeito de uma profissão que me vai preenchendo a vida e roubando o tempo. Porém, nesta terra disputada encontro uma essência que a Logos não explica. Nem sei em que país estou - aqui é difícil dizê-lo, mas  eu não estou em romagem religiosa nem em missão política. Sinto uma pátria íntima. 
Viver uma experiência extrema, sempre nos há-de fortalecer!

Não tenho a certeza que o oásis me conforte. Jamais o procurei. Aborrece-me o hedonismo, a superficialidade, o tom pastel de tantas vidas. Gosto das tâmaras.Só.


Ein Gedi, Agosto, 2019

E regresso ao deserto, ele é do puro domínio da abstracção, abre-se à transcendência ascética e reduz-nos ao essencial. 
Há lugares que nos mudam para sempre, pois falam-nos da responsabilidade que temos por sermos humanos, livres, justos e racionais.


Fronteira: JordâniaCisjordânia e Israel.


Ana


domingo, 6 de outubro de 2019

Sempre a Língua, veículo de cultura e de memória histórica


Jerusalém, 2019 - José Alves


Pois...o Dicionário pode transportar uma ideologia, a do seu autor, a da sua época, a de um uso linguístico já muito desviado...


O Dicionário Prático de Locuções e Expressões Correntes, de Emanuel de Moura Correia e Persília de Melim Teixeira, edição da Papiro Editora, regista a expressão «não dizer desta água não beberei», com o significado de «não se julgar livre de fazer aquilo que condena nos outros».




"A cultura sefardita manteve-se ao longo dos séculos. Ainda há orações em português e noutra língua muito rica, o ladino, formada com junção do espanhol e do português medievais", explica Michael Rothwell



Castelo de Vide




Em compromissos velados, algumas casas mantiveram as práticas (e as sinagogas escondidas) que o judaísmo lhes instruíra. Os criptojudeus, forçados à conversão por um baptismo na fonte central da vila, continuaram a dizer 'dessa água não beberei', no que ao catolicismo dizia respeito, tudo isto consagrado em rituais secretos e à sombra do medo. "As minhas vizinhas, nas sextas-feiras à tarde, faziam umas cerimónias que eu nunca compreendi, e uma delas colocava aqui uma vela [retira a tampa de um jarro de argila]. Ela cortava em pedaços o rebordo do recipiente para lá dentro poder alojar a candeia. Dizia que a luz não podia ser vista da rua. Faziam isto sem saber explicar muito bem porquê".                   
(Carolino Tapadejo, em entrevista à TSF.)


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Fonte de Castelo de Vide

Para quem se interessa por  estes temas, aqui deixo uma ligação à excelente entrevista da TSF:

https://www.tsf.pt/portugal/sociedade/para-os-judeus-sefarditas-a-terra-prometida-nunca-foi-israel-e-portugal-e-espanha-11120912.html


sábado, 28 de setembro de 2019

Ladino...a Língua da memória histórica



"Estive a dar uma palestra numa universidade a norte de Telavive. Quando já estava a sair do palco, uma das senhoras, já idosa e muito doente, disse-me, num ladino muito alterado: 'Eu sou de Castelo de Vide, mas eu nunca lá fui.' Eu disse-lhe que não tinha compreendido, e ela respondeu-me: 'A minha família fugiu de Castelo de Vide, na primeira metade do século XVI, para o Império Otomano; Constantinopla, depois Istambul, mas sempre me disseram que a minha terra era Castelo de Vide. Eu vi que vinha cá um homem da minha terra-mãe, e quis vir ouvi-lo.'" A castelo-vidense, deslocada em geografia mas nunca em identidade, percorreu mais de 170 quilómetros, porque não tinha descendentes, estava com cancro e só queria voltar a casa.» M.R. à TSF


És antissemita? Então lê:

«Sefarditas
Quem são
Designam-se de judeus sefarditas, os judeus descendentes das antigas e tradicionais comunidades judaicas da Península Ibérica.
A presença dessas comunidades na Península Ibérica é muito antiga, sendo mesmo anterior à formação dos reinos ibéricos cristãos, como sucedeu com Portugal a partir do século XII.

A expulsão
Tendo essas comunidades judaicas, a partir de finais do século XV e após o Édito de Alhambra de 1492, sido objeto de perseguição por parte da Inquisição espanhola, muitos dos seus membros refugiaram-se então em Portugal.
Porém, o rei D. Manuel, que inicialmente havia promulgado uma lei que lhes garantia proteção, determinou, a partir de 1496, a expulsão de todos os judeus sefarditas (também conhecidos por marranos) que não se sujeitassem ao batismo católico. Assim, numerosos judeus sefarditas foram expulsos de Portugal nos finais do século XV e inícios do século XVI.

A diáspora
De modo geral, estes judeus sefarditas estabeleceram-se, entre outros, em países como a Holanda, o Reino Unido e a Turquia, bem como em regiões do Norte de África e, mais tarde, em territórios americanos, nomeadamente no Brasil, Argentina, México e Estados Unidos da América (EUA).
Apesar das perseguições e do afastamento do seu território ancestral, muitos judeus sefarditas de origem portuguesa e seus descendentes mantiveram não só a língua portuguesa, mas também os ritos tradicionais do antigo culto judaico em Portugal, conservando, ao longo de gerações, os seus apelidos de família, objetos e documentos comprovativos da sua origem portuguesa, a par de uma forte relação memorial que os leva a denominarem-se a si mesmos como «judeus portugueses» ou «judeus da Nação portuguesa».
Com a «conversão em pé», denominação pela qual ficou conhecida a conversão forçada dos judeus, decretada por D. Manuel, deixaram, então, de existir oficialmente judeus em Portugal, e apenas cristãos-velhos e cristãos-novos, sendo que esta nova denominação de cristãos-novos escondia a origem judaica.
Durante o período da Inquisição muitos desses cristãos-novos e judeus portugueses conseguiram escapar e sair do Reino, estabelecendo-se em algumas regiões do Mediterrâneo (Gibraltar, Marrocos, Sul de França, Itália, Croácia, Grécia, Turquia, Síria, Líbano, Israel, Jordânia, Egito, Líbia, Tunísia e Argélia), norte da Europa (Londres, Nantes, Paris, Antuérpia, Bruxelas, Roterdão e Amesterdão), Brasil, Antilhas e EUA, entre outras, aí criando comunidades de grande renome e fundado sinagogas notáveis, tais como a Sinagoga Portuguesa de Amesterdão, a Sinagoga Shearith Israel de Nova York, a Sinagoga Bevis Marks de Londres, a Sinagoga de Touro em Newport (Rhode Island — EUA), a Sinagoga Portuguesa de Montreal e a Sinagoga Tzur Israel em Recife.
No início do século XIX regressaram a Portugal alguns descendentes de judeus sefarditas que se tinham refugiado em Marrocos e Gibraltar, tendo, em 1801, sido criado o primeiro cemitério judeu moderno, junto ao cemitério inglês em Lisboa, e, em 1868, por alvará de D. Luís, sido concedido aos «judeus de Lisboa a permissão de instalar um cemitério para a inumação dos seus correligionários», o atual cemitério da Rua D. Afonso III, em Lisboa.

Ainda hoje, em muitos dos apelidos de famílias judaicas sefarditas, conserva-se a matriz portuguesa, embora, nalguns casos, esteja misturada com a castelhana.
Na diáspora da Holanda e Reino Unido subsistem, entre outros, apelidos de família como: Abrantes, Aguilar, Andrade, Brandão, Brito, Bueno, Cardoso, Carvalho, Castro, Costa, Coutinho, Dourado, Fonseca, Furtado, Gomes, Gouveia, Granjo, Henriques, Lara, Marques, Melo e Prado, Mesquita, Mendes, Neto, Nunes, Pereira, Pinheiro, Rodrigues, Rosa, Sarmento, Silva, Soares, Teixeira e Teles.
Já na diáspora da América Latina mantêm-se, por exemplo, também entre outros, os apelidos: Almeida, Avelar, Bravo, Carvajal, Crespo, Duarte, Ferreira, Franco, Gato, Gonçalves, Guerreiro, Leão, Lopes, Leiria, Lobo, Lousada, Machorro, Martins, Montesino, Moreno, Mota, Macias, Miranda, Oliveira, Osório, Pardo, Pina, Pinto, Pimentel, Pizarro, Querido, Rei, Ribeiro, Salvador, Torres e Viana.
Para além disso, noutras regiões do Mundo, existem igualmente descendentes de judeus sefarditas de origem portuguesa que conservam, para além dos acima indicados, entre outros, os seguintes apelidos: Amorim, Azevedo, Álvares, Barros, Basto, Belmonte, Cáceres, Caetano, Campos, Carneiro, Cruz, Dias, Duarte, Elias, Estrela, Gaiola, Josué, Lemos, Lombroso, Lopes, Machado, Mascarenhas, Mattos, Meira, Mello e Canto, Mendes da Costa, Miranda, Morão, Morões, Mota, Moucada, Negro, Oliveira, Osório (ou Ozório), Paiva, Pilão, Pinto, Pessoa, Preto, Souza, Vaz e Vargas.

Para além dos apelidos familiares e do uso da língua portuguesa, designadamente nos ritos, há descendentes de judeus sefarditas portugueses que, ainda hoje, falam entre si o ladino, língua usada pelos sefarditas expulsos de Espanha e de Portugal no século XV, derivada do castelhano e do português e atualmente falada por cerca de 150 000 pessoas em comunidades existentes em Israel, Turquia, antiga Jugoslávia, Grécia, Marrocos e nas Américas, entre muitos outros locais
* Fonte: Preâmbulo do Decreto-Lei 30-A/2015, de 27/2.

(lamento o acordo dito ortográfico).



E, sabes por que dizemos, no Alto Alentejo, 
«Desta água não beberei»?




Aqui deixo um dicionário de Ladino : https://pt.glosbe.com

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Disrupturas

Foz do Minho - José Aves, 2019

Contemplamos, quase sempre, a outra margem...




Foz do Minho - José Alves, 2019

Nesta, ancoramos os nossos barcos.


Caminha - José Alves, 2019

Quem te enganou e te disse que as águas são azuis?


Tel Aviv, 2019

Quem te ensinou e te disse que os contrários se atraem e conciliam?


Ponte de Lima, 2019


Julgas que esta vila é de um conservadorismo e religiosidade ímpares?



Ponte de Lima, 2019


Acredita, a disruptura instala-se em qualquer parte!



Ponte de Lima, 2019


Nunca acredites nas aparências. O logro está em qualquer lugar. 


Ajuíza e sê justo.





segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Ancoraram

Tel  Aviv - José Alves, 2019


Ancoraram os homens
nas pétalas dos sonhos
Frágeis e alegres
sorriram ao ocaso
Ancoraram os homens
nas madrugadas
Escutaram o rumor 
na distância dos mares
e frenéticos correram
Sem rumo e ao acaso

Ana