Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165
quarta-feira, 30 de abril de 2014
segunda-feira, 28 de abril de 2014
domingo, 27 de abril de 2014
Espaço interior
Florença - José Alves |
quando o poema
são restos do naufrágio
do espaço interior
numa furtiva luz
desesperada,
resvalando até
à superfície,
lisa, firme, compacta,
das coisas que todos
os dias agarramos,
quando
o poema as envolve
numa aura verbal
e se incorpora nelas,
ou são elas a impor-lhe
a sua metafísica
e o espaço exterior
que povoam de
temporalidades eriçadas,
luzes cruas, sons ínfimos, poeiras.
Vasco Graça Moura, in Antologia dos Sessenta Anos(Duas coisas me uniram a V. Graça Moura: o interesse pelo Renascimento e a profunda discordância na aplicação forçada de um AO que destrói a Língua e a sua evolução histórica. Que descanse em paz!)
quinta-feira, 24 de abril de 2014
Pátria
Por um país de pedra e
vento duro
Por um país de luz
perfeita e clara
Pelo negro da terra e
pelo branco do muro
Pelos rostos de silêncio
e de paciência
Que a miséria longamente
desenhou
Rente aos ossos com toda
a exactidão
Do longo relatório
irrecusável
E pelos rostos iguais ao
sol e ao vento
E pela limpidez das tão
amadas
Palavras sempre ditas com
paixão
Pela cor e pelo peso das
palavras
Pelo concreto silêncio
limpo das palavras
Donde se erguem as coisas
nomeadas
Pela nudez das palavras
deslumbradas
- Pedra rio vento casa
Pranto dia canto alento
Espaço raiz e água
Ó minha pátria e meu
centro
Me dói a lua me soluça o
mar
E o exílio se inscreve em
pleno tempo.
Sophia de Mello Breyner
Andresen
segunda-feira, 21 de abril de 2014
sexta-feira, 18 de abril de 2014
quinta-feira, 17 de abril de 2014
Obrigada, Isa Lisboa!
Venho aqui partilhá-lo com todos os meus amigos e leitores. Sinto-me incapaz de seleccionar...sei que, mais uma vez, estou a quebrar as regras, mas aqui reforço o agradecimento à Isa, uma doçura de menina muito talentosa.
Calou-se o Criador...
IN MEMORIAM
(Edito um «post» do Verão de 2012)
(Edito um «post» do Verão de 2012)
Saramago com García Marquez |
A minha vida é uma história feita de livros. Meio-dia quente de assar pássaros que ousem esvoaçar com bater de asas ruidoso. Sala de móveis altos e escuros, cheios de gavetões com memória e de roupas de linho aromatizadas. Chão de frias tijoleiras vagamente marcadas pelo caminhar de antepassados. Ninguém baterá a mão fechada de ferro enegrecido, pois todos dormem, ou melhor, descansam - como gostam de designar a sesta. Nunca fui de sestas. Abro livros e livros, leio com teimosia autores e autores. Faço-o ainda agora, noutra casa, porque todos se foram para algum lugar e o vulto negro da avó também partiu há muito.
Gosto de autores sul americanos e de poetas clássicos. Mistura das minhas muitas bastardias.
Foi com uma amargura fina que ouvi o anúncio de que Miguel García Marquez está a ser atingido pela demência e não escreverá, por certo, a segunda parte da sua obra anunciada. Não é o meu autor predilecto. Prefiro Cortazar ou J. L. Borges, porque um certo tom libidinoso e um retrato de mulher pouco considerada se colou a García Marquez. Porém, mais uma voz se cala e o mundo a que pertenço ameaça ruir.
Em tempos quando o autor adoeceu, fizeram correr em seu nome a poesia que vos deixo hoje - é bela. Quem a escreveu conhecia o Autor, mas esqueceu-se que Deus não estava nos seus planos e que O trocaria, facilmente, por um trecho musical de Serrat.
La Marioneta de Trapos
Se por um instante Deus se esquecesse
de que sou uma marioneta de trapo,
e me presenteasse um pedaço de vida,
possivelmente não diria tudo o que penso,
mas definitivamente pensaria tudo o que digo.
Daria valor às coisas, não pelo que valem,
senão pelo que significam.
Dormiria pouco e sonharia mais,
entendo que por cada minuto que fechamos os olhos,
perdemos sessenta segundos de luz.
Andaria quando os demais se detêm,
despertaria quando os demais dormem,
escutaria enquanto os demais falam, e como
desfrutaria de um bom sorvete de chocolate...
Se Deus me obsequiasse um pedaço de vida,
me vestiria com simplicidade,
me atiraria de bruços ao sol,
deixando descoberto, não somente meu corpo,
mas também minha alma.
Deus meu, se eu tivesse um coração....
Escreveria meu ódio sobre o gelo,
e esperaria que saísse o sol.
Pintaria com un sonho de Van Gogh
sobre as estrelas um poema de Benedetti,
que ofereceria à lua.
Regaria con minhas lágrimas as rosas,
para sentir a dor de seus espinhos,
e o encarnado beijo de suas pétalas...
Deus meu, se eu tivesse um pedaço de vida...
Não deixaria passar um só dia
sem dizer à gente que quero, que a quero.
Convenceria a cada mulher e homem
de que são meus favoritos e viveria enamorado do amor.
Aos homens provaria quão equivocados estão ao pensar
que deixam de enamorar-se quando envelhecem,
sem saber que envelhecem
quando deixam de se enamorar.
A uma criança daria asas, mas deixaria
que ela aprendesse a voar sozinha.
Aos velhos, a meus velhos, ensinaria que a morte
não chega com a velhice, mas com o esquecimento.
Tantas coisas aprendi de vocês, homens....
Aprendi que o mundo todo quer viver no alto da montanha,
sem saber que a verdadeira felicidade está
na forma de subir a escarpa.
Aprendi que quando um recém-nascido
aperta com seu pequeno polegar pela primeira
vez o dedo de seu pai,
o tem amarrado para sempre.
Aprendido que um homem unicamente tem direito de olhar
outro homem de cima para baixo,
quando o tiver ajudado a se levantar.
São tantas coisas as que pude aprender de vocês,
mas finalmente de muito não haverão de servir
porque quando me guardem dentro desta maleta,
infelizmente estaria morrendo....
De autor anónimo - Atribuído a García Marquez
Fonte: http://www.elsonfroes.com.br/neumanne.htm (8/07/12)
quarta-feira, 9 de abril de 2014
Diz-me...
Ángel Botello Barros |
Diz-me que a escola acabou e que a professora nos marcou muitos deveres de casa que eu, de empreitada, os farei num só dia para poder andar em correrias pela aldeia, sulcando ruas brancas de empedrado onde escorrego e caio. Dizem-me que hei-de partir os dentes, pois sou uma cabrita. Só não sabem que também corro pelos campos contíguos sorvendo a brisa adocicada do manto amarelo dos tremoceiros. Só não sabem que, num ímpeto, escorrego pelo viaduto e que como as flores doces dos marmeleiros. Só não sabem que correr assim pela planura me molda asas livres de menina e me esculpe o espírito.
Dizes-me que sou uma rapazona, mas como? Mas como, se o gato se anicha confiante no meu regaço, confiante na minha meiguice?
Diz-me que o tempo não passou e que todos estão ainda lá e que este aperto que sinto quando o dia declina é apenas a ânsia de correr livre pelos campos em redor...
Ana
domingo, 6 de abril de 2014
quarta-feira, 2 de abril de 2014
Sofre?
Alexander Sergeev |
(Encontrei este velho texto na capa de um manual de Matemática e não resisto a guardá-lo aqui. Era dedicado à minha querida professora, Dr.ª Maria Olímpia de Vilhena Rodrigues - irmã do célebre desenhador humorista e satírico Vilhena. Menina educada na mais rigorosa tradição alentejana, eu nunca vira um desenho de José Vilhena. Teria uns quinze anos e adorava Matemática. Nesse tempo os alunos respeitavam os professores, mas o país não respeitava os humoristas, especialmente aqueles que o retratavam na sua sordidez beata e labrega).
Que enigma, que mistério a envolve?
Que sibilino e sorumbático olhar possui.
Oh! E essa paciência que tudo resolve!
De que misterioso dom usufrui?
Às vezes, por mera observação,
Julgo perceber em seu olhar dor...
Será utopia, será divagação?
Poderá haver Primavera sem flor?
Ana (14/04/1973)
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