Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Recomeça...

Filhós e azevias


 FELIZ 2011, COM SAÚDE E MUITA PAZ INTERIOR!


Recomeça….

Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…

Miguel Torga

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Amigos

No meu Alentejo



Sem tempo para «blogar»...




Leonardo da Vinci

 Boas Festas, meus amigos, com saúde e muita paz.




ATÉ BREVE.



segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Eco II

Ortodoxias

Creta
O Natal invadiu as cadeias de hipermercados e os centros comerciais são lugares de romarias fundamentalistas. O Natal - nascimento paradoxal - no último mês de um ano com nuvens no horizonte.
Caminho, absorta, entre tantos entes, indiferente às luzes que aturdem compradores desprevenidos. Como todos, cumprirei os rituais, encherei a casa e a lareira crepitará até de madrugada. No dia a seguir algum sentido de renascimento alimentará um recôndito lugar da recordação...


Minotauro, museu de Heraklion

 Estarei na memória dos dias límpidos, estarei nos sonhos de uma Humanidade fraterna e asceta, feliz nas linhas claras e no traço rígido da branca luz do mar Egeu. Ali, onde nasceu a Europa - filha dos deuses - ali onde a memória do Minotauro se refaz em labirintos, eu poderia caminhar por entre olivais e buganvilias milenares até não poder mais, ébria das belezas do lugar.


http://www.ilonabastos.webhs.pt/capsali_4.jpg

Entrarei, sem entender o ritual, no velho templo ortodoxo de Heraklion e perceberei, então, o dogma...credo quia absurdum, Tertuliano nem sequer me impressiona mais. 

Heraklion, Creta


Aquilo que procuro não tem laços, não se doura... Amor entre os seres pensantes, verdade inviolável de olhares humanos faiscantes de ternura e sorrisos claros como a cristalina luz de Creta.
Talvez velhos minóicos ancestrais ainda habitem este lugar e, sentando-me na pedra nua, olho o Templo e sorrio à clara luz com a mansidão serena do verde mar.
Templos em ruínas...


Cnossos, Creta
fotografias: José Alves
                                                                                                                  

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Paradigmas da Realidade

Isabel Guerra

Ando por aqui mergulhada em chuva de trabalho e sonhos, porque assim vivo e gosto. Corro, corro...nos dias cinzentos de um Outono que declina no país a definhar. Modelos ocidentais de uma civilização imediatista, hedonista, consumista...corro, corro... porém Cesc, meu amigo e pintor catalão, instala a ruptura neste dia cinza escuro, na hora em que me recorda Isabel Guerra, a monja-pintora hiper-realista. Esta corrente estética é tão rica de pormenores que ilude a própria realidade, pois ao olharmos distraidamente parece-nos de uma perfeição irreal.

Obrigada, Cesc.

Isabel Guerra trabalha a luz com uma mestria invulgar. Aqui deixo uma pequena galeria:

http://www.academiabocetos.com/wp-content/uploads/2009/05/isag19.jpg
Isabel Guerra

http://www.artelibre.net/ARTELIBRE1/GERRA/guerra11.jpg
Isabel Guerra
Isabel Guerra
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSbitiJym4MpoK1ibVkwmmcvXoahwhFxQ8f2gpIsM8O2QStveUnBGJP7EvpqlQY82rvEhlh8sqAyHbDxn-aeEViDCuBoCMpwVJhGKOxs0B4ZEEoiHIUl5NYbWUIyTL2LVViz07hukbOOY/s400/isabel+guerra+1.jpg
Isabel Guerra

 Isabel Guerra: «Quiero transmitir un mensaje de paz y esperanza»

http://estaticos.20minutos.es/img/2005/12/15/298917.jpg
Monja, pintora, 68 anos - Saragoça, Espanha

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A Verdade

Brasil: Confrontos nas favelas transmitidos em directo nos canais televisivos. Diário de Notícias

Balanço de ataques criminosos no Rio de Janeiro indica 27 mortos e 46 veículos queimados.

  Agência Lusa , 25 de Novembro de 2010



A porta da verdade estava aberta,
Mas só deixava passar
Meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
Porque a meia pessoa que entrava
Só trazia o perfil de meia verdade,
E a sua segunda metade
Voltava igualmente com meios perfis
E os meios perfis não coincidiam verdade...
Arrebentaram a porta.
Derrubaram a porta,
Chegaram ao lugar luminoso
Onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
Diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual
a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela
E carecia optar.
Cada um optou conforme
Seu capricho,
sua ilusão,
sua miopia
.


Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

The dreamers

Reuters
Manifestações nas ruas e confrontos com a polícia, após anúncio de recurso ao FMI.


*****

Estadão
Novos pobres, no Japão, recorrem a ajuda alimentar.

*****

EUA
Desempregados vivem em cidades de tendas na Califórnia.
*****

Giotto, O Sonho de Joaquim



Pedra Filosofal
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

António Gedeão
In Movimento Perpétuo, 1956

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

OBJECTIVOS INDIVIDUAIS

Belmonte
1. Sonhar se ainda for permitido.

Belmonte

2. Olhar em frente até ao limiar.

Belmonte
3. Sorrir se não for proibido.

Belmonte

4. Ficar por aqui e não desanimar.


Belmonte
5. Regressar ao futuro, sem caminhar.

                                                           Ana

Fotografias: José Alves


quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Eco I

Rafal Olbinski
Andei pelo Voz das Palavras. Por aqui deixo o ECO I:



Caminho no silêncio luminoso e frio deste dia. A vereda de terra batida esgueira-se veloz à minha frente e afunila na distância. Conto os passos. Serão dez mil, feitos de sonhos de mil e um dias já vividos. Em tempos fui atleta, hoje serei, talvez, asceta. Convém sê-lo nestes dias cinzentos sobre os quais jorram gotas de desencanto. Não me asfaltem as ideias! Quero a areia que desliza, suave, na resiliência dos sonhos. 
Ao longe, no dealbar, suspenderam-se  os castelos. Resta-nos um caminho, quem sabe se de regresso?
Caminho sem motivos para um poema que escavo num recanto longínquo. Poetas persas, do século X, habitam-me a memória. Tombaram, em ruína, tantos impérios! Mas Rudaki ainda me inspira a melodia dos passos sem rumo: «Talvez o tempo te ponha na sua escola pois não terás melhor professor que ele».  
Na juventude, li furiosamente os poetas persas pré-islâmicos. Com eles aprendi a caminhar, deslizando sobre areias movediças de tempos inglórios. Talvez ainda seja o tempo sem rupturas, talvez possamos cativar sem grilhões...
Caminho e penso palavras alheias que por aqui espalho, humildemente:

 ***
Alegra-te do que tens conseguido
e não recordes o passado.
Para mim aquele encaracolado e perfumado cabelo,
para mim aquela cara de lua que é de raça de anjos.
Afortunado é o que utiliza e obsequeia,
desafortunado o que não utiliza e nem oferenda.
Este mundo de anseio é como o vento e a nuvem,
acerca o vinho, passe o que passe!


(Rudaki)

Ana

sábado, 6 de novembro de 2010

Descobertas

Belmonte


Existem lugares assim: repletos de memória, desenhados na beleza pura de encontros antigos. Neles se inscrevem os sonhos de tempos idos. Percorrê-los é reencontrar. A beleza cava silêncios. As palavras estagnam. O indizível instala-se. Sacraliza-se o momento.  


Belmonte


Por aí nasceu Pedro Álvares Cabral, seria 1467. Os sonhos de um menino escrevem-se na pedra dura das montanhas em redor. Olhou-as e partiu e fez-se nau de Descobertas. Descobriu. À luz transparente deste dia a contradição ainda se renova. A Índia dos sonhos de marajás ainda é lugar de desencontros.
Os evangelizadores já retornaram. A fé dos homens, a fé nos homens...colonizadores impiedosos enchem as naus do desespero.

Belmonte
Cum ad nihil magis, escreveu o sacerdote supremo para o rei D. Manuel I e um édito gelado varreu o ar limpo da montanha. Esconderam-se os sábios. Ocultou-se a sabedoria milenar. A fé dos homens, a fé nos homens... inquisidores e proselitas percorrem as ruas desertas.
Belmonte

A magia perdura. O lugar encanta. O Atlântico abraçou-se para sempre a partir deste sítio remoto, belo e tolerante.

                                                                                     Ana

Pedro Álvares Cabral -
(Belmonte, 1467 ou 1468 — Santarém, 1520 ou 1526)
«Na História das Navegações portuguesas, Pedro Álvares Cabral tem porém lugar de destaque, como Descobridor do Brasil, comandante da maior frota até então armada por Portugal para as viagens oceânicas, e iniciador da Carreira da Índia como rota regular e líder da primeira expedição naval que ligou quatro continentes: Europa,  América, África e Ásia».( Fonte: Instituto Camões - R. Pinto)



Fotografias: José Alves

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Sefarad - Raízes


Por estes dias vale a pena perder-mo-nos  pela Serra da Estrela e tornearmos a Gardunha para nos reencontrar-mos com a nossa matriz cultural. 
No meu caso, a escolha recaiu sobre Belmonte e a memória da velha língua ladina ainda ecoa pela encostas das serranias:

A la Una
A la una yo naci
A las dos m’engrandeci
A las tres tomi amante
A las cuatro me cazi
Alma vida y corason.
Dime nina donde vienes
Que te quero conocer;
Si tu no tienes amante
Yo te hare defender
Alma vida y corason.
Yendome para la guerra
Dos bezos al aire di
El uno es para mi madre
Y el otro para ti.
Alma vida y corason.
cantiga tradicional (cerca do séc. XV) em Ladino, a língua franca dos judeus ibéricos.

http://www.chabad.org.br/interativo/FAQ/Ladino.html

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Uma mulher exemplar

Esfera dos Livros
«Sinopse:

A história judaica tem mulheres extraordinárias. Da matriarca Sara à sionista Golda Meir, muitas mulheres judias fizeram história. Grácia Nasi foi uma delas. Com um carácter intocável e uma personalidade de ferro moldada pelas agruras da vida, esta mulher não teve medo de desafiar homens, papas, reis e o seu próprio destino. 
Nasceu em 1510 em Portugal depois de a sua família ter sido perseguida e expulsa de Espanha. Contudo não seria em Lisboa que encontraria a tranquilidade desejada. 
Viúva aos 25 anos, herdeira de um império comercial e de uma incalculável riqueza cobiçada por todos, Grácia Nasi torna-se numa verdadeira mulher de negócios, assumindo o seu espírito pioneiro e empreendedor, traço marcante dos sefarditas judeus/cristãos novos. 
Grácia Nasi percorre o mapa da Europa, passando por cidades como Antuérpia e Veneza, até chegar ao Império Otomano, onde finalmente pode praticar a sua fé às claras, sem recear qualquer perseguição. É aí que se dedica a ajudar os seus correlegionários a escapar à Inquisição, apoia o estudo e o ensino religiosos, bem como a edição de Bíblias e estende a mão aos mais necessitados.»
http://www.outofspain.com/DGhead.jpg
 1500 - 2010
500 anos do seu nascimento

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Se assim não fora...

Marmelos - wikimédia
Naquele dia havia sol. Quase Verão. Percorremos a charneca tisnada, mas onde uma relva miudinha já aflorava. Velhos marmeleiros, que os avós abandonaram ao morrer, insistem ainda em frutificar e escrever em círculos temporais uma memória antiga, plena de meninice. 
José sabe como esta fruta ácida da minha infância doce suaviza a minha vida. Nela retorno, nela me renovo.  Solícito vai colhendo...como um menino, sorrindo, entrega-mos. Hei-de assá-los, suavemente polvilhados com açúcar amarelo, e torná-los uma suprema delícia original. Velho sabor, velho carinho de autenticidade.

romã - Wikipédia
Levemos também algumas romãs. Estes frutos esperarão. Fitá-los tira-me da rotina.
O fim de Outubro desaba, agora, copioso. Águas sujas não limpam as palavras que nos atordoam. O país está barulhento.
Ah! Se acreditássemos que os caminhos são possíveis, num regresso ancestral a uma qualquer grandeza primitiva.
Fala-me dos ideais, fala-me dos ideais... Que bom precisarmos de tão pouco para nos reencontrarmos!
Se assim não fora...
broas de mel e noz
Hoje começaremos, oficialmente, este Outono e eu farei broas de mel. Que faça frio, que chova, mas não me compres jornais deste país que entristece e resmunga. 
Eu só quero voltar no rumo da saudade, na rota do vento sul tempestuoso e aconchegante. Outubro vai terminar. O ninho aquece, mas um sopro gélido varre o horizonte...
Pesa o trabalho excessivo. Pesa a memória. Pesa o presente...e eu só quero a recordação.
Outubro termina e eu vou levar-vos crisântemos amarelos ao sítio onde a saudade mora.
Os marmeleiros ainda resistem, rudes e bravios como nós.



                                                                                                        Ana


crisântemos

domingo, 24 de outubro de 2010

Andrés Bello



Leonardo da Vinci
LAS OVEJAS

"Líbranos de la fiera tiranía
de los humanos, Jove omnipotente
¡una oveja decía,
entregando el vellón a la tijera?
que en nuestra pobre gente
hace el pastor más daño
en la semana, que en el mes o el año
la garra de los tigres nos hiciera.

Vengan, padre común de los vivientes,
los veranos ardientes;
venga el invierno frío,
y danos por albergue el bosque umbrío,
dejándonos vivir independientes,
donde jamás oigamos la zampoña
aborrecida, que nos da la roña,
ni veamos armado
del maldito cayado
al hombre destructor que nos maltrata,
y nos trasquila, y ciento a ciento mata.

Suelta la liebre pace
de lo que gusta, y va donde le place,
sin zagal, sin redil y sin cencerro;
y las tristes ovejas ¡duro caso!
si hemos de dar un paso,
tenemos que pedir licencia al perro.

Viste y abriga al hombre nuestra lana;
el carnero es su vianda cuotidiana;
y cuando airado envías a la tierra,
por sus delitos, hambre, peste o guerra,
¿quién ha visto que corra sangre humana?
en tus altares? No: la oveja sola
para aplacar tu cólera se inmola.

Él lo peca, y nosotras lo pagamos.
¿Y es razón que sujetas al gobierno
de esta malvada raza, Dios eterno,
para siempre vivamos?
¿Qué te costaba darnos, si ordenabas
que fuésemos esclavas,
menos crüeles amos?
Que matanza a matanza y robo a robo,
harto más fiera es el pastor que el lobo".

Mientras que así se queja
la sin ventura oveja
la monda piel fregándose en la grama,
y el vulgo de inocentes baladores
¡vivan los lobos! clama
y ¡mueran los pastores!
y en súbito rebato
cunde el pronunciamiento de hato en hato
el senado ovejuno
"¡ah!" dice, "todo es uno".



 Andrés Bello (1781 - 1865)

sábado, 23 de outubro de 2010

Informação e realidade


A RELER: Edmond CARLES-ROUX, Esquecer Palermo

«Máfia italiana lava dinheiro em Portugal


Giovanni Lore, um dos mais perigosos chefes da máfia siciliana, procurado por toda a Europa, foi capturado em Carvalhal, no Bombarral. Estava numa vivenda usada como sede de um grupo criminoso que, através de um esquema de burlas, branqueava dinheiro, nomeadamente de origem mafiosa, e foi detido na quinta-feira, pela PJ de Leiria, com mais três italianos, dois portugueses e uma mulher brasileira.» (lusa)


NUNCA PODEMOS SER REDUTORES DA REALIDADE QUE NOS CERCA.




A REDESCOBRIR: Andrés Bello - poeta e humanista venezuelano



« Chávez chega hoje a Portugal para selar acordos

O presidente da Venezuela chega hoje a Portugal para uma visita de dois dias, que culminará com a assinatura de acordos nas áreas da construção naval e do fornecimento de 1,5 milhões de computadores Magalhães.
Hugo Chávez chega hoje ao fim da tarde ao Porto, onde pernoitará, deslocando-se no domingo de manhã aos Estaleiros de Viana do Castelo.» (ENVC)

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A fuga

Escola 
Oito horas. Céu límpido de Outono. Luz dura nos meus olhos cansados. Pureza linear de um minimalismo criador. 
Entre mim e a Escola duzentos metros de parque. Sobreiros ancestrais mantiveram o porte altivo. São desta terra, donos deste lugar, discretos e harmoniosos. Tê-los por companhia matinal suaviza um dia duro e longo.

Outono
E chego...
Vida, rodopio, campainha, tecla, vídeo, folha, livro, olhos e olhos e olhos...ávidos de saber e de ser...
Intervalo. Café, café, fala, cala, fala...
Cores tão estranhas para olhares alentejanos: a escola.

remodelada
Quem fez isto? Quem maquilhou assim o mármore inicial e branco, quem arrancou a cortiça dos tectos? Quem juntou estas surpresas visuais sobre o branco antigo? Quem fustiga assim os olhos habituados à pureza linear dos horizontes alentejanos?

Castelo de Vide

Tira-me daqui. Vamos em mais uma fuga atrás do horizonte. Foi longo o dia. Foi longa a verborreia. Leva-me a um lugar sem vozes.


Marvão

Leva-me contigo a um lugar sem ruído. Cacografias estilhaçam-me e eu quero, no rumor da Língua, o subtexto dos afectos.
Chegámos. Faz frio. Aqui, o Grande Arquitecto traçou ângulos perfeitos no silêncio.

Marvão

Amanhã regressaremos pela manhã ao lugar onde a Língua se estilhaça e os outros, nossos pares, discutirão em cada intervalo, envoltos nas cores antagónicas deste sítio do Sul, o artificialismo já velho, já gasto de um qualquer romper, de um vizinho quebrar, daquele antigo e já habitual, fútil, tabu.
  
                                                                                                               Ana


google
*NOTA: no meu país chama-se «tabu» a um assunto sobre o qual não se admite falar.



FOTOGRAFIAS DE JOSÉ ALVES

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Nobel Peruano

Mario Vargas Llosa - Nobel da Literatura 2010


«... a literatura é o melhor que foi inventado para defesa contra o infortúnio...» (pág.19)