Rafal Olbinski |
Caminho no silêncio luminoso e frio deste dia. A vereda de terra batida esgueira-se veloz à minha frente e afunila na distância. Conto os passos. Serão dez mil, feitos de sonhos de mil e um dias já vividos. Em tempos fui atleta, hoje serei, talvez, asceta. Convém sê-lo nestes dias cinzentos sobre os quais jorram gotas de desencanto. Não me asfaltem as ideias! Quero a areia que desliza, suave, na resiliência dos sonhos.
Ao longe, no dealbar, suspenderam-se os castelos. Resta-nos um caminho, quem sabe se de regresso?
Caminho sem motivos para um poema que escavo num recanto longínquo. Poetas persas, do século X, habitam-me a memória. Tombaram, em ruína, tantos impérios! Mas Rudaki ainda me inspira a melodia dos passos sem rumo: «Talvez o tempo te ponha na sua escola pois não terás melhor professor que ele».
Na juventude, li furiosamente os poetas persas pré-islâmicos. Com eles aprendi a caminhar, deslizando sobre areias movediças de tempos inglórios. Talvez ainda seja o tempo sem rupturas, talvez possamos cativar sem grilhões...
Caminho e penso palavras alheias que por aqui espalho, humildemente:
***
Alegra-te do que tens conseguido
e não recordes o passado.Para mim aquele encaracolado e perfumado cabelo,
para mim aquela cara de lua que é de raça de anjos.
Afortunado é o que utiliza e obsequeia,
desafortunado o que não utiliza e nem oferenda.
Este mundo de anseio é como o vento e a nuvem,
acerca o vinho, passe o que passe!
(Rudaki)
Ana
8 comentários:
Fui lá, Ana. E ainda deixei uma gracinha sobre vc passeando pela blogosfera.
Minha querida
Um texto lindo muito profundo, adorei.
Beijinhos com carinho
Sonhadora
Não sei de que época é este Rudaki.
Mas conheço algo da poesia egípcia de há 4 mi anos.
D. Dinis é considerado um dos grandes da Idade Média portuguesa.
Comparado com esses egípcios
é
Zero!
Saudações poéticas
Vi un ave cerca de la ciudad de Sarakhs
Se había planteado su canto a las nubes
Vi un colorido chador en él
Así muchos colores en su chador
Por muchos años que viviera, no podría leer todo lo que él escribió.
Precioso, querida amiga.
I like your blog is very attractive
Querida Aninha
Também fui lá. Lindo.
E assim prosando e poetizando espalharás por toda a parte o teu engenho e arte.
Bom fim de semana, com muita paz.
beiinhos
Isabel.
"Ao longe, no dealbar, suspenderam-se os castelos" veros concretos me alegraram alma
"Este mundo de anseio é como o vento e a nuvem,
acerca o vinho, passe o que passe!"
Adorei o poema, sabedoria milenar, que ainda tem seus ecos em nós. Belo teu texto também, com buscas de um coração repleto, inquieto. Grande abraço, Ana.
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