Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A Verdade

Brasil: Confrontos nas favelas transmitidos em directo nos canais televisivos. Diário de Notícias

Balanço de ataques criminosos no Rio de Janeiro indica 27 mortos e 46 veículos queimados.

  Agência Lusa , 25 de Novembro de 2010



A porta da verdade estava aberta,
Mas só deixava passar
Meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
Porque a meia pessoa que entrava
Só trazia o perfil de meia verdade,
E a sua segunda metade
Voltava igualmente com meios perfis
E os meios perfis não coincidiam verdade...
Arrebentaram a porta.
Derrubaram a porta,
Chegaram ao lugar luminoso
Onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
Diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual
a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela
E carecia optar.
Cada um optou conforme
Seu capricho,
sua ilusão,
sua miopia
.


Carlos Drummond de Andrade

10 comentários:

Fê blue bird disse...

Parabéns!
Não podia escolher melhor poema para as notícias referidas.
...
Cada um optou conforme
Seu capricho,
sua ilusão,
sua miopia.

Está tudo dito!

Beijinhos

MARU disse...

Tens muita razäo, as meias verdades a veces nem säo meias nem säo verdades...

Cada um que é seu dono,conta a sua verdade, que por iso é só meia verdade...
E o resto?
Nunca saberemos porque também é meia verdade...

Triste vida, cuando a porta é pequena e näo podem entrar nem sair... as verdadeiras... As inteiras...
Belísimo.
Um beijäo

Georgio Rios disse...

Uma realidade que acompanhamos com medo, apesar da distância. E este poema ajuda a abrir mais os olhos!

DECIO BETTENCOURT MATEUS disse...

Sempre muito oportuno este poema maestro de Carlos Drummonde de Andrade. Valeu Ana.

Flor de sal disse...

Belíssimo! tantos horrores, tanta verdade, quanta poesia!

Bjos flor,

Andradarte disse...

É isso....que às vezes o meu pensamento me leva a questionar a Democracia.....
Não haverá soluções????
Beijo

Bípede Implume disse...

Querida Aninha
A violência está a banalizar-se também. Todos os dias. E não é só no Brasil.
Claro que assusta e faço a mesma pergunta: e então a Democracia?
Excelente escolha do poema.
Cuidado com o frio. Bom fim de semana, se possível, no quentinho.
Beijinhos.
Isabel

Margarida disse...

É tão bom chegar aqui e perceber a relação da imagem /acontecimentos com o poema/poeta :)

Beijinhos

SKIZO disse...

Fabuloso
boas
criações

Anónimo disse...

O que se está a passar no Brasil é dramático, tal a escala da ocorrência.

A florescimento da dogra no Casal Ventoso aqui em Lx resolveu-se quando foram implodidas as casas, decrépitas, que davam amparo à sua linha da miséria, a da droga e a da impunidade e hediondez dos dealers da droga.

Como desmantelar as favelas?
Que fazer de cada grupo de 800 mil habitantes de cada um dos morros?

Demorará imenso.
Fará imensas vítimas.

Bjs, Ana