Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
A Verdade
A porta da verdade estava aberta,
Mas só deixava passar
Meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
Porque a meia pessoa que entrava
Só trazia o perfil de meia verdade,
E a sua segunda metade
Voltava igualmente com meios perfis
E os meios perfis não coincidiam verdade...
Arrebentaram a porta.
Derrubaram a porta,
Chegaram ao lugar luminoso
Onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
Diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual
a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela
E carecia optar.
Cada um optou conforme
Seu capricho,
sua ilusão,
sua miopia.
Carlos Drummond de Andrade
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10 comentários:
Parabéns!
Não podia escolher melhor poema para as notícias referidas.
...
Cada um optou conforme
Seu capricho,
sua ilusão,
sua miopia.
Está tudo dito!
Beijinhos
Tens muita razäo, as meias verdades a veces nem säo meias nem säo verdades...
Cada um que é seu dono,conta a sua verdade, que por iso é só meia verdade...
E o resto?
Nunca saberemos porque também é meia verdade...
Triste vida, cuando a porta é pequena e näo podem entrar nem sair... as verdadeiras... As inteiras...
Belísimo.
Um beijäo
Uma realidade que acompanhamos com medo, apesar da distância. E este poema ajuda a abrir mais os olhos!
Sempre muito oportuno este poema maestro de Carlos Drummonde de Andrade. Valeu Ana.
Belíssimo! tantos horrores, tanta verdade, quanta poesia!
Bjos flor,
É isso....que às vezes o meu pensamento me leva a questionar a Democracia.....
Não haverá soluções????
Beijo
Querida Aninha
A violência está a banalizar-se também. Todos os dias. E não é só no Brasil.
Claro que assusta e faço a mesma pergunta: e então a Democracia?
Excelente escolha do poema.
Cuidado com o frio. Bom fim de semana, se possível, no quentinho.
Beijinhos.
Isabel
É tão bom chegar aqui e perceber a relação da imagem /acontecimentos com o poema/poeta :)
Beijinhos
Fabuloso
boas
criações
O que se está a passar no Brasil é dramático, tal a escala da ocorrência.
A florescimento da dogra no Casal Ventoso aqui em Lx resolveu-se quando foram implodidas as casas, decrépitas, que davam amparo à sua linha da miséria, a da droga e a da impunidade e hediondez dos dealers da droga.
Como desmantelar as favelas?
Que fazer de cada grupo de 800 mil habitantes de cada um dos morros?
Demorará imenso.
Fará imensas vítimas.
Bjs, Ana
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