Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Divagando...

Abraham Bosse: Les Perspecteurs, 1648

Quem inventou a claridade deste dia?

Quem sonhou estas imagens tão sublimes
E viu na tristeza e na agonia
A força que ao dia imprimes?

Que o sol desça das alturas!
Que chamem nobres as criaturas
Que trazem no peito a imensidão
Que encontraram na solidão!

Os que trazem nesse olhar a limpidez
E escondem na alma a aridez
Dos dias longos e da monotonia
De uma vida feita dia-a-dia...

Que sejam como as andorinhas
Que cruzam os ares em dias de bruma;
Como a flor que os ares perfuma
E como o chilrear das avezinhas!

Que nasça a beleza e a liberdade
Da força da verdadeira igualdade...
E em presença da singeleza
E das formas inertes da Natureza!


Ana


quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Por Évora...


Évora - 2012


«Vagueei longo tempo através das ruas, facetadas de branco, pelo puro gosto de me sentir sozinho, sem ideias, anulado de silêncio. Uma cidade fantástica erguia-se imaginada, numa geometria árida de superfícies lisas, com faixas de sombra e luz estiradas dos candeeiros às esquinas, com filas de janelas altas e cerradas, túneis de arcarias desertas, flechas de torres, de chaminés à altura dos astros, ângulos negros de ruas - imóvel espectro de uma civilização perdida...»

Vergílio FERREIRA, Aparição



domingo, 19 de fevereiro de 2012

Exílio


google 


Que conheces, tu, dos gregos, para assim os criticares?


Exílio

Quando a pátria que temos não a temos
Perdida por silêncio e por renúncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia é como grades


                       Sophia de Mello Breyner Andresen
Grécia - bebi com eles um café
O começo de todas as ciências é o espanto de as coisas serem o que são.
Aristóteles

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A Escola do Medo

Notícias - Google



Eles não são escravos  nem súbditos de ninguém. Os homens são a muralha protectora e a mais segura de uma cidade”.

Ésquilo, Os Persas (472 DC)




quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Ode para o futuro

Vito de Campanella

Tenho pensado no futuro como quem contempla este conhecido quadro surrealista - de figuras duvidosamente humanas e sem cabeça. Tenho procurado nos meus compatriotas e nas organizações a verticalidade de princípios, a racionalidade, a aplicação equitativa das leis, a fraternidade, mas só me ocorre a voz de um grande estudioso, pensador e poeta português magnífico e injustiçado.

Ode para o futuro

Falareis de nós como de um sonho. 
Crepúsculo dourado. Frases calmas. 
Gestos vagarosos. Música suave. 
Pensamento arguto. Subtis sorrisos. 
Paisagens deslizando na distância. 
Éramos livres. Falávamos, sabíamos, 
e amávamos serena e docemente. 

Uma angústia delida, melancólica, 
sobre ela sonhareis. 

E as tempestades, as desordens, gritos, 
violência, escárnio, confusão odienta, 
primaveras morrendo ignoradas 
nas encostas vizinhas, as prisões, 
as mortes, o amor vendido, 
as lágrimas e as lutas, 
o desespero da vida que nos roubam 
- apenas uma angústia melancólica, 
sobre a qual sonhareis a idade de oiro. 

E, em segredo, saudosos, enlevados, 
falareis de nós - de nós! - como de um sonho. 


                                                                                              Jorge de Sena






Aqui fica a ODE PARA O FUTURO, dedicada a todos os «piegas» como eu.


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Deixa-me falar-te do Amor

Rob Gonsalves, 1959


Gostaria de falar-te da Esperança
Mesmo se lá fora
Sangue escorre na lama
E olhos vazios imóveis
Fitam os céus da Síria
Enquanto incautos viajantes
Vêem a rebelião sangrenta
Nas ruas belas e contemplam
O mar verde e festivo
De Salvador




Deixa-me falar-te do Amor
Mesmo se lá fora
Um frio nórdico grita e venta
E espalha corpos pelas ruas
Frágeis de fome e dor
Enquanto pavões imperiais
Se deslumbram e regateiam
A venda do velho pórtico
De onde sábios antigos
Contemplam azuis vazios 
Mediterrânicos 


Ana

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Emir



Palácio Bayan, sede do governo do Kuwait (wiki)




Extintos que estão os feriados de 1 de Dezembro (Restauração da Independência, 1640) e de 5 de Outubro (Implantação da República, 1910), começamos a confirmar a extrema penúria e displicência cultural de alguns dos nossos concidadãos.
Aqui partilho um exemplo do que afirmo:



República do Kuwait? Mas, o Kuwait não é uma República!  

Seria pedir demasiado a que as eminentes figuras da nação e os respectivos assessores se dessem, pelo menos, ao trabalho de consultar um qualquer recurso on-line (http://pt.wikipedia.org/wiki/Kuwait)?


"Nem só de pão vive o homem" (Mt 4,4)

Perigoso é o caminho da ignorância. O fim da memória histórica sinaliza esse caminho.


Ana