Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

No fio do tempo

 

Mankthi, Shamsia Hassani, artista afegã

É ainda o Verão. Dias quentes feitos de partidas e de chegadas, de retornos fugazes a que o excesso de luz queima as pontas, como a mariposas descuidadas. Alguns dramas, muitas alegrias. Partidas sem retorno e reencontros melífluos.
Há fugas e cobardias, recomeçam guerras. A religião, como desculpa para a maldade dos homens, envenena e o dinheiro das armas corrompe...inocentes nasceram anónimos em lugares de fogo. Sangue ou choro, que faz a Humanidade? Espartilha e separa.

Alto Minho, Agosto, 2021

Outra vez o Minho, agora sem nortada, quente e húmido como um ventre criador que não se quer separar da sua cria. Superstições na memória colectiva, rituais de tribo que haveremos de cumprir, contrafeitos mas obedientes. Eu, que não sou de tribos, observo indiferente - são décadas de hábito. Sejam felizes! Estejam satisfeitos.

Opernhaus (ópera), Zurique, 2021


Outra vez Zurique, doce esvoaçar do Amor. Plena, a vida, enche-se de sentido. O sorriso de Madalena traz promessas de futuro. A felicidade veio instalar-se aqui e temos de lhe trazer os nossos peitos abertos. Galgados os Pirenéus, ultrapassados os Alpes...olhamo-nos em silêncio, olhos nos olhos, sentados no Largo da ópera, temos o mais intenso brilho destes tantos milionários que caminham para a Bahnhofstrasse. Tanta coisa já nos é familiar, até o preço deste café que ousámos beber.

Quintas, Schlieren - 2021

Subamos às quintas, ali onde em 11 minutos a cidade abraça o campo, tudo se torna idílico e percebemos a civilidade com que se trata a natureza neste lugar. Sim, rodearmo-nos de cimento e de periferias engaioladas, há muito  que nos atirou para a retaguarda. José não resiste às compras e vai retirando e pagando os ovos, a fruta...sem vendedor. Um elogio à confiança! Os bens alimentares custam parcas moedas. Em breve voaremos para um lugar que se aqui viesse se espantaria.

Alvor, 2021


E lá está o Infante, no seu promontório olhando do passado. Ali, na curva do mar! Enquanto caminho pelos passadiços, adivinho o rumor das naus aportando ao Futuro.

Agora, atravesso o parque, no lugar de sempre, sonhando com lugares na memória.


Ana