Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Experiência Inefável


Negueve, Agosto de 2019


É no caminho do deserto, Agosto pleno, que a terra respira a sua antiguidade e sageza. A voz emudece. Todos os desertos são diferentes e gosto de os atravessar como quem cai no colo quente e ancestral da mãe. Deserto e origem, vertigem e vórtice! Aqui, o silêncio deixa escutar a Alma imensa do Universo...emudece e comove, na solitária rota de uma origem.


Negueve, Agosto de 2019



Nenhum lirismo me extasia - defeito de uma profissão que me vai preenchendo a vida e roubando o tempo. Porém, nesta terra disputada encontro uma essência que a Logos não explica. Nem sei em que país estou - aqui é difícil dizê-lo, mas  eu não estou em romagem religiosa nem em missão política. Sinto uma pátria íntima. 
Viver uma experiência extrema, sempre nos há-de fortalecer!

Não tenho a certeza que o oásis me conforte. Jamais o procurei. Aborrece-me o hedonismo, a superficialidade, o tom pastel de tantas vidas. Gosto das tâmaras.Só.


Ein Gedi, Agosto, 2019

E regresso ao deserto, ele é do puro domínio da abstracção, abre-se à transcendência ascética e reduz-nos ao essencial. 
Há lugares que nos mudam para sempre, pois falam-nos da responsabilidade que temos por sermos humanos, livres, justos e racionais.


Fronteira: JordâniaCisjordânia e Israel.


Ana


domingo, 6 de outubro de 2019

Sempre a Língua, veículo de cultura e de memória histórica


Jerusalém, 2019 - José Alves


Pois...o Dicionário pode transportar uma ideologia, a do seu autor, a da sua época, a de um uso linguístico já muito desviado...


O Dicionário Prático de Locuções e Expressões Correntes, de Emanuel de Moura Correia e Persília de Melim Teixeira, edição da Papiro Editora, regista a expressão «não dizer desta água não beberei», com o significado de «não se julgar livre de fazer aquilo que condena nos outros».




"A cultura sefardita manteve-se ao longo dos séculos. Ainda há orações em português e noutra língua muito rica, o ladino, formada com junção do espanhol e do português medievais", explica Michael Rothwell



Castelo de Vide




Em compromissos velados, algumas casas mantiveram as práticas (e as sinagogas escondidas) que o judaísmo lhes instruíra. Os criptojudeus, forçados à conversão por um baptismo na fonte central da vila, continuaram a dizer 'dessa água não beberei', no que ao catolicismo dizia respeito, tudo isto consagrado em rituais secretos e à sombra do medo. "As minhas vizinhas, nas sextas-feiras à tarde, faziam umas cerimónias que eu nunca compreendi, e uma delas colocava aqui uma vela [retira a tampa de um jarro de argila]. Ela cortava em pedaços o rebordo do recipiente para lá dentro poder alojar a candeia. Dizia que a luz não podia ser vista da rua. Faziam isto sem saber explicar muito bem porquê".                   
(Carolino Tapadejo, em entrevista à TSF.)


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Fonte de Castelo de Vide

Para quem se interessa por  estes temas, aqui deixo uma ligação à excelente entrevista da TSF:

https://www.tsf.pt/portugal/sociedade/para-os-judeus-sefarditas-a-terra-prometida-nunca-foi-israel-e-portugal-e-espanha-11120912.html