Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Jorge de Sena - Em Creta, Com o Minotauro

Forumcmpt.pt

Nascido em Portugal, de pais portugueses,
e pai de brasileiros no Brasil,
serei talvez norte-americano quando lá estiver.
Coleccionarei nacionalidades como camisas se despem,
se usam e se deitam fora, com todo o respeito
necessário à roupa que se veste e que prestou serviço.
Eu sou eu mesmo a minha pátria. A pátria
de que escrevo é a língua em que por acaso de gerações
nasci. E a do faço e de que vivo é esta
raiva que tenho de pouca humanidade neste mundo
quando não acredito em outro, e só outro quereria que
este mesmo fosse. Mas, se um dia me esquecer de tudo,
espero envelhecer
tomando café em Creta
com o Minotauro,
sob o olhar de deuses sem vergonha.
Jorge de SENA

Poesia – III, 3.ª ed., Lisboa, Ed. 70, 1989
http://www.citi.pt/cultura/historia_cultura/jorge_sena/

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Sul

Além
Onde o trigo
Se cobre de oiro
E o silêncio
É adorado pela cigarra,
Existe uma fonte.
Gota a gota
Vai-se transformando
Em rio
E o vento
Ondula o tempo
E o lugar
Da abelha.
Há mel e leite
A escorrer
Do barro
Não moldado.
Há aromas
No sol
E a lonjura
Do olhar.
Há poemas de velhos
Que escutaram
Quando eram meninos.
Além
Onde a formiga
Dorme a sesta
Há um rio
Sobre outro rio
E um berço
De algum mar…
Além,
Já não há Tejo.
Anna


Treklens.com

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Nós

Armand Point, The Golden Legend, 1897

O rosto com que fitamos o mundo...
É este!
Que importância tem o rosto?
Nele se reflecte...
O mundo!
Este...
Pleno de Luz
É a Treva!
Nós...
Trevos incautos
Numa Primavera distante.
Incautos...
Caminhamos...
Frente ao rosto
Com que fitamos
Absurdos lugares
Da memória.
Nós.
Anna
Leonardo da Vinci, The Virgin of the Rocks (pormenor), séc. XVI

terça-feira, 22 de julho de 2008

Uma visita - Fundação António Prates

A. Luís Campos, fotógrafo
(Em Cartaz)



A luz fará o resto: magia...

Nuno Viegas

Nestes longos dias de Verão vivemos até de madrugada...saboreamos deliciosos pitéus de influência mediterrânica e fazemos caminhadas quando o sol se esconde.



Aproveitamos o que a terra nos oferece...





«A Fundação, instalada na antiga Fábrica de Moagem e Descasque de Arroz de Ponte de Sor, integra cinco salas de exposição, biblioteca de arte, oito ateliers para residência de artistas, auditório, restaurante-cafetaria, anfiteatro e Jardins Móveis. O seu património artístico é composto por cerca de 3000 obras de arte orginais (desenhos, aguarelas, pinturas e esculturas) e 5000 múltiplos (gravuras, litografias, serigrafias e fotografias). »

domingo, 20 de julho de 2008

Suave Lago - pela Extremadura

Espanha - Extremadura
Perdemo-nos pela Extremadura. Vivendo a uma centena de quilómetros da comarca de Las Vegas - Badajoz, isso acontece-nos...
Como é bom o Verão! Varar a planície e o ondulado...encher o olhar...renovar emoções!
http://www.marcaextremadura.es/
Havia calor...
Um sol extasiado!
A nudez viva da planura.
Havia dor...
Um luar encantado
Pela ave da lonjura!
***A tua voz...
Gritou à plenitude!
Clamaste à distância
E o nosso amor, veloz,
Perene de beatude,
Bebeu sôfrego a fragrância!
***
Quem és?
«Eu sou», disseras.
E correram os ventos,
Passaram as marés
No luar etéreo, nas quimeras,
Pararam, então, os Tempos!

Anna

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Árvores do Alentejo - Florbela ESPANCA

Florbela ESPANCA, 1894-1930,
Vila Viçosa, Alentejo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Vila_Vi%C3%A7osa
Horas mortas... curvadas aos pés do Monte
A planície é um brasido... e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!
*
E quando, manhã alta, o sol postonte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!
*
Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
*
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
-Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!
Florbela Espanca
(Como não citar Florbela Espanca, sob estes 40 graus, do meu querido verão alentejano?)

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Caminhando pelo Alto Minho - junto ao Rio Lima

«Primeiro descobri isto.

Aquilo que a Fotografia reproduz até ao infinito só aconteceu uma vez:

ela repete mecanicamente


o que nunca poderá repetir-se existencialmente.»
*
Roland BARTHES, A Câmara Clara

segunda-feira, 7 de julho de 2008

MULHERES QUE ESCREVEM, MULHERES QUE LÊEM

Arte Barroca, estilo laudatório
*
Mulheres que Escrevem
Mulheres Que Lêem
(Repensar a Lieratura Pelo Género)
*
Este é o título de uma obra organizada por Catarina EDFELDT e Anabela GALHARDO. Trata-se de uma antologia com dupla face: literária e crítica. No plano literário reencontramos: Nélida Piñon; Soror Violante do Céu, Clarice Lispector e Agustina Bessa-Luís; no plano crítico encontramos interessantes abordagens da autoria de: Chatarina Edfeldt, Anabela Galhardo Couto, Fátima Silva, Ana Maria Ferreira e Teresa Joaquim.
Encontro magnífico entre o passado e o presente, dando voz a alguns silêncios que o registo literário insiste em manter - esse, de uma linguagem das mulheres.
Eu, que o fado fez nascer no Ocidente e que pertenço a uma geração que se afirma sem estigmas, bem recordo que, mesmo de Agustina, se disse que: escreve como um homem. Não que possa contestar o douto letrado que o afirmou ou que veja nisso uma menoridade, mas que, sem feminismos balofos, todas e todos sabemos que a nossa riqueza é a diversidade dos discursos. Já o sabia, no século XVII, Soror Violante do Céu:« Contradizer a um Doutor / bem sei que é temeridade».

Soneto
Violante do Céu
Que suspensão, que enleio, que cuidado
É este meu, tirano Cupido?
Pois tirando-me enfim todo o sentido
Me deixa o sentimento duplicado.
*
Absorta no rigor de um duro fado,
Tanto de meus sentidos me divido,
Que tenho só de vida o bem sentido
E tenho já de morte o mal logrado.
*
Enlevo-me no dano que me ofende,
Suspendo-me na causa de meu pranto
Mas meu mal (ai de mim!) não se suspende.
*
Ó cesse, cesse, amor, tão raro encanto
Que para que de ti não se defende
Basta menos rigor, não rigor tanto.
*
(Antologia da Poesia do Período Barroco, Moraes Editores, 1982 - Lisboa, Portugal)
*
CARAVAGGIO, Baco Adolescente
*Obrigada professora Anna Hatherly, por me ajudar a conhecer algumas «sorores» e obrigada marido, porque me fizeste conhecer o trabalho desse grupo de investigadoras e de investigadores que se ocupa das «mulheres».

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Condicional

                                                         G. David FRIEDRICH, Charlk Cliffs of Rugen, 1818

Havia ainda um pouco de sonho
E a Luz e o Sol!
O encanto supérfluo da Beleza;
A procura descabida
Da Verdade...
Havia o teu nome e o meu
E os outros nomes idênticos
De identidades diversas!
A falta de verdade no gesto
E o incontido a transbordar,
Devagar...
Fingimento submerso!
Torrente poderosa do teu olhar...
Era preciso perturbar.
Havia cores de arco-íris
A morrerem nos teus passos;
Havia lampejos de luz,
A desmaiar...
Supremo - Natural!
Era preciso acreditar
No paradoxo sublime do Vital.
Havia um condicional
Hipotético e lúdico
Dentro de cada ideal...
Era fatal a Verdade renascer;
Era vital o Amor acontecer!
Anna