Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Rosh HaShaná - ano de 5772

Alentejo, José Alves

Sou do lugar onde se encontram as culturas e os homens toleram os pensares. Sou das raízes de uma terra velha e pobre onde o deserto se instala no Verão.
Sei que o tempo se conta na sombra do Calendário do Império e que a Lua de Tishrei anuncia o recomeço. Criaturas somos desde o início, como ignorá-lo?

Ana






SHANA TOVÀ, SHNAT SHALOM UGMAR CHATIMÁ TOVÁ


Rosh HaShaná

Data Hebraica: 1 de Tishrei de 5772
Data: 29 / Setembro / 2011
O ano novo judaico é um período de reflexão, em que D'us inicia o julgamento de cada ser humano. A data celebra o aniversário da criação do Homem, no dia 60 da Criação do Mundo.



PARA SABER MAIS:


terça-feira, 27 de setembro de 2011

Num exemplar das Geórgicas

Xul Solar - Argentina







Os livros. A sua cálida,
terna, serena pele. Amorosa
companhia. Dispostos sempre
a partilhar o sol
das suas águas. Tão dóceis,
tão calados, tão leais.
Tão luminosos na sua
branca e vegetal e cerrada
melancolia. Amados
como nenhuns outros companheiros
da alma. Tão musicais
no fluvial e transbordante
ardor de cada dia.

Eugénio de Andrade


(Assim andam os meus dias... mergulhada em livros.)

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Inútil guerra



Leonardo da Vinci


José Niza - médico psiquiatra, compositor, produtor e poeta


Aquela clara madrugada que
Viu lágrimas correrem no teu rosto
E alegre se fez triste como se
chovesse de repente em pleno Agosto
Ela só viu meus dedos nos teus dedos
Meu nome no teu nome e demorados
Viu nossos olhos juntos nos segredos
Que em silêncio dissemos separados
A clara madrugada em que parti
Só ela viu teu rosto olhando a estrada
Por onde o automóvel se afastava
E viu que a pátria estava toda em ti
E ouviu dizer adeus essa palavra
Que fez tão triste a clara madrugada
Que fez tão triste a clara madrugada
(poema de M. Alegre/música de José Niza)



Cada dia mais pobres. É a nossa História recente que se vai apagando.


Eles

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Também o deserto vem



Júlio Resende (1917 - 2011)












Também o deserto vem
do mar. Não sei em que navio,
mas foi desses lugares
que chegaram ao meu jardim
as palmeiras.
Com o sol das areias
em cada folha,
na coroa o sopro
ainda húmido das estrelas.


Eugénio de Andrade


(Assim vai acordando o país: cada dia mais pobre.)

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

UARS

Público

Já agora...



«Um satélite da NASA vai cair na Terra entre quinta-feira e sábado. O aviso vem da Agência Espacial Norte Americana que está a monitorizar diariamente a aproximação da máquina não comandada de nome UARS, e ainda não sabe em que região do mundo vai cair. A probabilidade de alguém ser atingido e morrer devido à queda do UARS é de um em 3200, menor que 0,05 por cento.

O UARS, acrónimo para Upper Atmosphere Research Sattelite (Satélite de Investigação da Atmosfera Superior), pesa 5668 quilos e a NASA estima que há 26 peças que vão sobreviver à entrada na atmosfera que ao todo pesam 532 quilos. A peça mais pesada terá 158,3 quilos.

Os cientistas sabem que, devido à orbita onde o satélite se encontra, irá atingir uma região da Terra entre a latitude 57º Norte e 57º Sul, ou seja, todas as regiões habitadas do globo excepto o território a norte da latitude da Dinamarca. As 26 peças não vão cair todas na mesma região, a desintegração do satélite vai fazer com que elas se  espalhem ao longo de 800 quilómetros.
» Jornal PÚBLICO

domingo, 18 de setembro de 2011

Convite







- ALMOSSASSA 2011-
FESTIVAL ISLÂMICO

«De 1 a 5 de Outubro, a parte alta da vila transforma-se numa deslumbrante máquina do tempo que nos transporta directamente para o século IX, para os tempos da sua fundação, homenageando o seu fundador Ibn Maruan, figura ímpar e visionária que mesmo a tantos séculos de distância consegue unir o que as fronteiras e história separaram.» (CMM)








sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Silêncio Triangular


«Pararam no ponto mais alto da cidade, esfalfados de sorrisos, a admirar o pôr-do-sol.
Os três. Em fila. Calados,como manda o rito dos contempladores de poentes. Por sinal, o dessa tarde cheio de negridão inquieta.
Mas nenhum dos três, depois aquela correria íngreme, se atrevia a denunciar a frustração do espectáculo. Nem Elsa que aproveitava o resfolgo do cansaço para manter a comédia da exaltação emudecida. Muito menos os outros dois, Raul e Eva, dominados como de costume pelas pequeninas paixões da amiga - só efémeras por serem profundas.» (pág.91)

Pego no livro e folheio ao acaso. O meu poente, alentejano e belo, também se encheu de alguma frustração. O livro deveria estar, a estas horas, nas mãos de uma querida amiga e eu deveria ter ido ao seu encontro, mas dias esfalfados são os meus nesta abertura de ano lectivo.
A minha amiga telefonou pela manhã e a voz dela embargou-me a minha, tal a emoção.  Regressara há dias dessa Escandinávia de que fala José Gomes Ferreira. Também ela uma grande escritora. Também ela sábia a denunciar poentes com nuvens...
Aqui  lhe presto uma singela homenagem:

Janaína Amado


Até breve!


Ana





segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Abertura do Ano Lectivo

google
Foi há muito tempo já. Levava sonhos fechados no peito e um frio que só a emoção justificava naquele início de Outubro ainda quente. Foi há muito tempo já.
Fechou-se o ciclo. Como irei abdicar desta Língua velha que aprendi a desenhar e da qual desventrei a História em pesados livros envelhecidos. Fechou-se o ciclo.
Regresso à Escola. Agora ensino, mas a Língua que o uso sempre moldou resolveu saltar no tempo e no espaço. Velha estátua de sal, vítima da analogia e da lei inexorável do menor esforço, não resistiu ao artificialismo mercantilista reinante. Regresso à Escola.
Agora não sei escrever. Foi há muito tempo já. Fechou-se o ciclo...


Ana


(Quem me dera, meus amigos, não ter que migrar para o «Lince» por causa do novo Acordo Ortográfico. Oxalá pudesse fazê-lo. Muito em breve terei que abdicar da variação e da mudança que tanto enriqueciam a espacialidade geográfica do Português. Sou operária da Língua desde os seis anos de idade. Este também é o meu computador de trabalho. Não se surpreendam se ... O RARA AVIS se tornar Ave Rara...
Não me perguntem se estou de acordo. Tenho que ganhar com o rumor da Língua o pão do meu lar.
Sirvo o rei, mas sou republicana e laica.)



terça-feira, 6 de setembro de 2011

Teia

Paisagem de Giotto: detalhe da "Fuga ao Egito" da Cappella degli Scrovegni em Pádua1304-06.



Gosto da noite, da sua cor...
Há muito, ela acolhia minha dor
Em silêncio, compreensiva e bela,
E eu adorava a sua beleza singela.

Há muito, em criança, ela era uma amiga.
Eu ficava com ela, trauteava uma cantiga.
E a noite afagava, terna, o meu rosto
E eu corria, a esperá-la, à porta pelo sol - posto.

Via-a descer, soturna, imponente...
No meu peito uma coisa estranha!
Noite: uma imensa teia de aranha
Ia sumindo o sol, lentamente...

Qualquer coisa se quebrava mal o sol nascia.
A avó erguia-se do leito, serena...
A avó...um pedaço de noite, pequena,
No seu fato negro anunciava o dia!


Ana