Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

domingo, 24 de novembro de 2019

Sul Sereno

José Alves, 2019


Estranha é a vida. Dá voltas, diz o povo. O povo sabe. Desse saber feito de séculos, de tentativas e de respostas.
Vem isto a propósito de ter tido um blogue de cujo título muito gostava. Depois, como aqui digo...eliminei-o.



1. Porque é que criou um blogue e, quando o criou, tinha expectativas de que fosse popular?


Criei este blogue por um motivo muito prosaico: trabalho. Dito assim até aborrece, mas foi a verdade.
Em 2007 criei um blogue experimental intitulado Sul Sereno e de tudo só gostava do título. Nesse tempo eram os alvores do Plano Nacional de Leitura e eu tive necessidade de divulgar em blogue o PNL da minha Escola. Assim, arranjei um blogue - experiência. Eliminei o Sul Sereno
 quando senti que dominava razoavelmente as funcionalidades do Blogger. Mas tinham nascido alguns amigos e para mim a AMIZADE é o mais importante dos afectos humanos. Acabei por abrir o blogue, como não pude recuperar o título ...nasceu RARA AVIS.
Nunca quis ser popular. Sou uma criatura felina e recatada. Há quem me diga que sou viciada em trabalho e que sou um pouco autoritária. Estereótipos...
Preciso, até, de algum isolamento para me centrar e organizar. Mais de duas cores juntas ferem-me o olhar. Palavras a mais são verborreia. Há demasiado ruído e pouca acção.
Escrevo, mas não sou escritora - menos, ainda, poetisa. Precisei chegar a meio século de vida para ter coragem de expor algum pensamento intimista.
O meu tempo é tão escasso que com grande dificuldade visito e comento os amigos.
Penso por palavras, gosto de palavras. Com elas construímos laços.
O bom dos blogues é que nem sequer precisamos dos rostos para conhecermos o Outro.







Agora, tenho tido um aborrecimento interior, ao verificar que esse domínio se tornou malicioso na sua «cache» e que «Rara Avis» se banalizou numa cadeia de vestuário de noivados...isso mesmo! Já para não falar noutras acepções.

Assim, resta-me o compromisso de alterar o título do blogue sem modificar o domínio digital.

Aos meus @migos as minhas desculpas.

Então...«Sul Sereno» seja!

                     Bem Hajam!

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

«Mão aberta e o dedo indicador a tocar o polegar»




Caça F-35 da Força Aérea de Israel, 2019


Quando presenciamos situações extremas e no nosso íntimo as guardamos, uma perspicácia qualquer, apurada e constante, aguça-nos o olhar. Temos que experimentar...estar lá, sentir. Quem pode ser indiferente ao caça F-35 (dizem-me) que sobrevoa este lugar?


Israel, 2019

Quem pode ser indiferente aos jovens, quase imberbes, do outro lado da estreita rua e comer tranquilamente, oferendo as costas indefesas a esta invenção de Uziel Gal? Parece leve a Uzi...
Sou alentejana, sabe-lo bem, o meu pacifismo íntimo há muito que sabe exactamente como se usa uma arma. A imensidão da minha planura educa-nos para a defesa, ou se preferires, para a coragem.


Israel, 2019

Sim, estavam nos lugares sacros e rezavam no Muro. Celebrava-se um ritual muito específico e no dia seguinte houve dois mortos a escassos metros... Tishá BeAv nunca trouxe boas memórias...


Knesset, Israel, 2019

Do outro lado, a Universidade, a Biblioteca Nacional e o fabuloso museu que aqui me trouxe...deste lado, em plena campanha eleitoral, o edifício do parlamento onde o conservadorismo se instalou. Eu, já te disse várias vezes, corro atrás da História.


Torres de vigia, Knesset, 2019



Sabes bem que não poderei aproximar-me e muito menos fotografar tudo! Por isso, será no meu íntimo que continuarei a guardar as memórias destes lugares.
Quantos museus tenho em redor? Muitos, muitos! Andei vinte e seis quilómetros nesse dia. Que importa? Sou alentejana, recordas? Que me importa a distância?



Mas nada ali me atemoriza! Fui e voltei e hei-de regressar!

Aquilo que me preocupa está aqui tão perto! Há um rumor que vem de longe, há uma indiferença ao rumo, um caminho para uma ignorância galopando sobre os gestos, sobre os indícios...aqui, em Portugal!

«Mão aberta e o dedo indicador a tocar o polegar» numa concentração de «forças da Ordem»?!




terça-feira, 19 de novembro de 2019

Não adormeças...por favor!

«Guernica», Pablo Picasso



Eu Vim de Longe
                                                                                             José Mário Branco

Quando o avião aqui chegou
Quando o mês de maio começou
Eu olhei para ti
Então entendi
Foi um sonho mau que já passou
Foi um mau bocado que acabou

Tinha esta viola numa mão
Uma flor vermelha na outra mão
Tinha um grande amor
Marcado pela dor
E quando a fronteira me abraçou
Foi esta bagagem que encontrou

Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou pra longe
Pra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar

E então olhei à minha volta
Vi tanta esperança andar à solta
Que não hesitei
E os hinos cantei
Foram frutos do meu coração
Feitos de alegria e de paixão

Quando a nossa festa se estragou
E o mês de Novembro se vingou
Eu olhei pra ti
E então entendi
Foi um sonho lindo que acabou
Houve aqui alguém que se enganou

Tinha esta viola numa mão
Coisas começadas noutra mão
Tinha um grande amor
Marcado pela dor
E quando a espingarda se virou
Foi pra esta força que apontou

E então olhei à minha volta
Vi tanta mentira andar à solta
Que me perguntei
Se os hinos que cantei
Eram só promessas e ilusões
Que nunca passaram de canções

Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou pra longe
P´ra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar

Quando eu finalmente eu quis saber
Se ainda vale a pena tanto crer
Eu olhei para ti
Então eu entendi
É um lindo sonho para viver
Quando toda a gente assim quiser

Tenho esta viola numa mão
Tenho a minha vida noutra mão
Tenho um grande amor
Marcado pela dor
E sempre que Abril aqui passar
Dou-lhe este farnel para o ajudar

Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou p´ra longe
P´ra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar

E agora eu olho à minha volta
Vejo tanta raiva andar a solta
Que já não hesito
Os hinos que repito
São a parte que eu posso prever
Do que a minha gente vai fazer

Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei prá aqui chegar
Eu vou pra longe
P´ra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar





Para ouvir a canção preferida, basta «clicar» no link.





segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Na noite dos idos



Viana do Castelo, Novembro de 2019




Ancorados os sonhos
perdidas as viagens
na voragem do tempo
a memória se foi

Teu homónimo morreu

Agora aqui estamos
hospital da decadência
a dias da destruição
o teu Norte e teu rumo

Na guerra primeira (?)

Ancorado nos dias
aragens e vento
nas águas do cais
ao sabor da cadência

Teu homónimo morreu (?)

Imperfeitas as rotas
estáticas e revoltas
negação na paisagem
ancorados os sonhos


Ana