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"Orfeu Encantando os Animais", por Aelbert Cuyp, 1640 |
Baruch Espinoza nasceu em 1632 em Amesterdão, descendendo de judeus
portugueses, e morreu em Haia em 1677. Foi um dos grandes racionalistas do
século XVII, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz.
Em certos dias, apetece-me orar ao Deus de Espinoza...
DEUS SEGUNDO ESPINOZA
"Pára de ficar rezando e batendo no peito!
O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e usufruas da tua vida.
Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que fiz para ti.
Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e
frios que tu mesmo construíste e que acreditas serem a minha casa.
A minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas
praias.
Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.
Pára de me culpar da tua vida miserável:
Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador,
ou que tua sexualidade fosse algo condenável.
O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar
o teu amor, o teu êxtase, a tua alegria.
Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.
Pára de ler supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo.
Se não podes ler - Me num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus
amigos, nos olhos de teu filhinho...
não me encontrarás em nenhum livro!
Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais - me dizer como fazer o meu
trabalho?
Pára de ter tanto medo de mim.
Eu não te julgo, nem te
critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo.
Eu sou Puro Amor. Pára de me pedir perdão.
Não há nada a perdoar.
Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres,
de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio.
Como posso culpar-te se respondes a algo que eu pus em ti?
Como posso castigar-te por seres como és, se Eu sou quem te fez?
Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos
que não se comportem bem, pelo resto da eternidade?
Que tipo de Deus pode fazer isso? Esquece qualquer tipo de
mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te
manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.
Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti.
A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que
teu estado de alerta seja teu guia.
Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho,
nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso.
Esta vida é a única que há aqui e agora, e a única de que precisas.
Eu te fiz absolutamente livre. Não há prémios nem castigos.
Não há pecados nem virtudes.
Ninguém leva uma placa.
Ninguém leva um registo.
Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.
Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso dar-te um
conselho:
Vive como se não o houvesse.
Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir.
Assim, se não há nada, terás aproveitado a oportunidade que te dei.
E se houver, tem certeza que Eu não te vou perguntar se foste bem
comportado ou não.
Eu vou perguntar-te se tu gostaste, se te divertiste... Do que mais
gostaste? O que aprendeste?
Pára de crer em mim - crer é supor,
adivinhar, imaginar.
Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti.
Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas
tua filhinha, quando acaricias o teu cachorro, quando tomas banho no
mar.
Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra acreditas, tu, que Eu seja?
Aborrece - me que me louvem. Cansa-me que agradeçam.
Tu sentes-te grato?
Demonstra-o cuidando de ti, da tua saúde, das tuas relações, do mundo.
Sentes-te olhado, surpreendido?
Expressa a tua alegria!
Esse é o modo de me louvar.
Pára de complicar as coisas e de
repetir como
papagaio o que te ensinaram sobre mim.
A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este
mundo está cheio de maravilhas.
Para que precisas de mais milagres?
Para quê tantas explicações?
Não me procures fora! Não me acharás.
Procura-me dentro de ti,
aí é que estou."
Einstein, quando interrogado se acreditava em Deus, respondeu:
"Acredito no Deus de Spinoza, que se revela por si mesmo e na
harmonia de tudo o que existe.”