Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Notas de Leitura 2



Dias longos de Verão começam a declinar. Declínio parece ser um estado geral. Tudo definha na ressequida natureza até que tombem as primeiras chuvas outonais, doces, cheirando a palha molhada e terra sequiosa.
Até lá vou lendo, lendo como sempre e compulsivamente. Por causa de desígnios profissionais [quase nem valeria a abnegação neste duro tempo] leio agora uma obra extraordinária, aqui fica uma nota:

Para qué llamar caminos
a los surcos del azar? ...
Todo el que camina anda,
como Jesús, sobre el mar.

(Antonio MACHADO)

o.c., pág. 15



Ana

domingo, 26 de agosto de 2012

Ocultos...

Viana do Castelo,  Senhora da Agonia,  2012


Caminhaste, assim, oculto pela multidão.
Chegará uma mentira difusa, velada, festiva...
Troará, fora do mundo, o ribombar, o trovão
Iminente, inclemente, hipócrita e fugitiva...

Tua alma mentirá no sonho inacabado...
E serás, ainda, a página branca de uma fuga
No claro dia de um ninho abandonado...
Ave incerta que voa, se atormenta e madruga.

A turba não esconde nem o silêncio te oculta.
Podes correr, mariposa confusa, para a luz,
Na secreta erosão de antigos laços...

O cortejo é a massa ritmada e resoluta
E tu vacilas carregando na vida a cruz
E erguendo o Mundo com teus braços!

Ana



Viana do Castelo, Senhora da Agonia, 2012



quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Norte

Fonte Santa, Ponte da Barca


Frágil, o verde assoma.
Sob os pés, o lodo antigo.
Ágil, o vento assombra,
A busca do porto de abrigo...

Ana



Ecovia, Rio Lima

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Ainda antes de chegar...

Astúrias

Chegarei ainda antes de lá estar.




 Levo o sol e levo o sonho, alguma espera no olhar...


Llanes, Buelna, Astúrias (google)


Há muito li o que agora me leva lá...



Até breve, meus amigos.



quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Lupis...




«Em A Montanha da Água Lilás, fábula para todas as idades, o escritor angolano Pepetela conta a estória de uns seres cor de laranja, os Lupis, que pensavam, falavam e trabalhavam como os homens. Mas «não são homens, porque se chamam Lupis». Certo dia, os Lupis descobrem uma fonte de onde jorra um misterioso líquido, cujo perfume é inebriante - a água lilás. E deixaram de viver em perfeita harmonia ... Este livro, não é apenas uma fábula para todas as idades, tal como o subtítulo parece indicar, é um retrato intemporal da sociedade humana e da crescente desigualdade social».

Poderia ter começado assim uma das minhas aulas e, muito provavelmente, comecei. Poderia vir aqui sugerir a leitura desta maravilhosa obra intemporal de Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, esse estudante da Casa Do Império, que depois se tornou conhecido como Pepetela - pestana, na sua língua umbundo. Nem mesmo de Angola vos venho falar.
O calor, a timidez de um Verão em crise, a monótona modorra destes lugares e as férias que chegaram, finalmente, levam-nos a curtas fugas por cidades vizinhas - Lisboa, Badojoz, Évora ou Cáceres...um pequeno mundo que nos fica próximo. Hoje foi um desses dias.
José, menino homem, sempre em ternuras delicadas, tenta presentear-me. Resisto. Abomino o consumismo e o excesso. Trinta anos de caminho conjunto já o ensinaram que só não saberei como negar-me a um perfume. Sempre fui de odores, não por algum resquício de vaidade, mas pelo poder evocatório que detêm. Eles são a água lilás da minha memória, têm nomes banais, mas escrevem a minha história: Bien Être, sobre as rendas brancas de menina; Lavanda Inglesa, sobre o meu duche de atleta juvenil; Nau, de adolescente inquiridora; Anaïs do tempo de trabalho e Éden, quando o sol assoma diariamente e o calor aperta, levando-me a outras paragens. Assim será.

A meu lado, uma avó paga o seu perfume. São 145 €, diz-lhe a lojista. 
- Passe-me tax free, se faz favor.
A menina pergunta - lhe:
- Para que país?
A resposta surge, pronta:
- Moçambique.

 A Montanha Da Água Lilás acaba de se ilustrar na minha presença.


                                                                                               Ana


sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Incertos

Mértola, José Alves


Chegou devagar
cansado da viragem
das ondas do mar
de Outono e folhagem.
Chegou devagar
caminhando na cor
pisando verdura
convidando ao Amor
anunciando a ternura.
Chegou devagar
e frugal, o Verão
falou de desertos
frágil na emoção
dos sonhos incertos.

                                                                                         Ana