Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Estradas

CM Etremoz

Sentámo-nos numa esplanada da praça. Dezasseis horas. Trinta e seis graus, sol a pique e uma brisa doce. Estamos tão bem aqui. Comemos um «rainha santa»...e a praça em frente, empedrada com cores claras e traçada de quadrículas pretas, gera uma geometria de exactidões. Ao longe, um monumento bélico recorda a I.ª Guerra e uma frase aí inscrita martela-me intimamente: «Só aos fracos a morte intimida...». É o berço exigente da minha terra. Estive ali inúmeras vezes e dali partiu a minha amiga, no fulgor dos seus vinte e tantos anos, para trabalhar comigo. Não chegou. Nunca mais chegou. As estradas enganosas da minha planície a levaram. 
Estremoz é um lugar assim. Notas soltas na nostalgia doce de uma tarde calma, quente respirar fremente da vida ainda por viver.
- Vamos, traz-me uma água fresca, por favor.
Bênção serena da vida.

Ana

7 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Bem podia ser uma frase de paz
essa
«Só aos fracos a morte intimida...»
pois é o medo da morte
que nos torna fracos ao longo da estrada da vida

(também gosto do suão!)



Majo Dutra disse...

Querida amiga, 36º na esplanada, ainda que com brisa,
só para gente forte e bem resistente!

Dias alegres e bem vividos, neste Verão que teima em fugir...
Beijinhos.
~~~~~

Fê blue bird disse...

Palavras serenas num cenário que convida à descontracção mas que também traz triste lembranças de uma jovem vida perdida.

Um beijinho amiga Ana


alfacinha disse...

Lembro-me aquela estátua, foi um choque para ler que filhos de Portugal morreram tão longe da casa para libertar o meu país.

1914-1918
nos campos da Flandres

Quem morre pela pátria atinge a glória, pois revive nas páginas da história




Olinda Melo disse...


Recordações dolorosas.As estradas da vida colhem
flores viçosas no fulgor dos seus anos.
E eis que, num dia quente, reencontramos coisas
simples que preenchem momentos de convívio:
"Uma água fresca".

Bom fim de semana, querida Ana.

Beijinhos

Olinda

Bípede Implume disse...

Querida Aninha
Gosto tanto do que escreves, como escreves.
Sei que nem sempre nos queres dar paz... mas é o que sinto quando aqui entro.
Especialmente hoje. Um dia tremendo de horror.
A Micas tira amanhã o colar isabelino. O médico diz que está óptima. O Tico foi uma alegria que nos apareceu. É brincalhão e meigo e a Micas ficou com um companheiro.
Beijinhos e bem hajas pela paz que levo comigo.

AC disse...

Conheço essa praça, Ana, local de liberdade e apaziguamento. Mas não com 36 graus, nessas alturas prefiro o recolhimento de qualquer pátio.
(A tua escrita, para além de bela, é sempre vertical no que concerne à postura...)

Um beijinho :)