José Alves, Benavila |
Tórrido, o sol cai a pique. São dias longos de muito trabalho e, quando contas aquelas anedotas sobre alentejanos, queria ver-te aqui comigo. Atravessamos o parque e as tílias ensombram os passos apressados. Sempre a hora. Sempre à hora. As salas irrespiráveis albergam vintenas de meninos que tremem e sabem que aquelas folhas lhes pautam o futuro.
Catorze horas. Exames e mais exames. Exames de mais. Catorze horas.
Pela torrina - vais dizer que esta palavra é só minha - caminhamos lado a lado. Tão verdinho que vieste do teu Minho e agora dizes-me que gostas deste calor. Catorze horas. Quarenta e três graus. Vamos segurando as garrafas de água. A escola espreita-nos. Ah o trabalho! O trabalho. Com ele esses sonhos futuros, dos nossos meninos, hão-de ser matéria concreta.
Logo, quando a sombra se esticar, iremos por ali, cavaleiros de agora, percorrendo a planície ondulada - nosso mar dourado, bafo materno e criador!
Ana
8 comentários:
As condições de vida são melhores do que eram outrora,
aqui em Portugal, muitos exames que não se realizaram
porque, naquele tempo, para todos não era a escola
devido à pobreza muitos meninos não a frequentaram
tinham que trabalhar, para receber uma mísera esmola!
Tenha uma boa noite amiga Ana, e que as suas férias sejam em conformidade com os seus desejos. Um beijo,
Eduardo.
Um texto muito bonito e muito real. Sei do que falas em relação ao Alentejo. Sei o que é não poder sair à rua depois da 9 da manhã porque o ar é irrespirável. Gostei da tua palavra "torrina".
Um ma boa semana.
Um beijo, Ana
E eu a pensar que se dizia torreira do sol, Ana! Pensando bem, talvez sirvam os dois vocábulos. Já vou "investigar".
Pois é, Sra. Professora, os meninos alentejanos já estão habituados a anedotas sobre eles e a temperaturas superiores a 40ºg, quer em exames ou fora deles, mas os do Minho, ah, "pobrezinhos morrem assados" (rs) e não têm, talvez, a naturalidade e o arcaboiço mental para ouvirem anedotas a respeito deles. Nós estamos habituados a elas e até as "fabricamos". Ora, no meio do teu natural, bonito e espontâneo texto, nada que a nossa planície dourada não resolva.
É verdade, a "nossa Leninha", da idade do teu filho, partiu no dia 10 deste mês para outra dimensão. Morreu anestesiada, e portanto, não sentiu nada, julgo. Ela sabia há algum tempo, k o tumor era maligno, mas escondeu esse facto até da Vera Lúcia, sua secretária e melhor amiga, para não fazer sofrer ninguém. Só ela e os médicos, que a seguiam, sabiam da gravidade da situação.
Beijos e bom fim de semana.
Céu,
Há vidas fugazes que são um exemplo. Brilhará.
(Torrina - é um termo do nordeste alentejano, regionalismo.)
Beijo
Querida Ana
Um belo texto, um desabafo.
Os meninos, os exames e o que eles poderão
significar no seu futuro. Poderiam passar
sem eles? Haveria outra forma de avaliação?
Talvez. Teria que ser muito bem pensada,
assim como outros aspectos do sistema de
ensino.
O Alentejo, a sua planura, o seu clima,
a sua magia. Uma região que nos arrebata
a alma.
Beijinhos
Olinda
O Alentejo é assim mesmo, muito quente.
Os alentejanos já estão habituados (eu adoro calor... nada de frio...), mas esse menino do verdejante Minho deve achá-lo demasiado...
Voltaremos a "ver-nos" em Setembro. Até lá, que tudo corra o melhor posível.
Votos de uma semana muito feliz.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Com esse calor não dá para fazer nada. Palavra de minhoto...
Se houvesse ar condicionado nas escolas, a torrina seria bem mais suportável.
Ainda assim, o Alentejo é interessante e único, não só na paisagem mas também nos usos e costumes das suas gentes.
Amiga Ana, um bom fim de semana.
Ou boas férias, se for o caso.
Beijo.
Querida Aninha
Como eu gosto dos teus textos.
Sorte a minha que cheguei aqui e senti até à alma o calor do Alentejo através das tuas palavras.
Diz-se que o nosso clima é temperado. Aqui, na Ericeira, de manhã ainda sentimos um pouco de frio. Só lá pelas 11 horas começa o sol a despontar do imenso nevoeiro.
Mas quando nos habituamos sentimo-nos bem.
Beijinhos de muita amizade.
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