Figueira da Foz, 2018 - José Alves |
Foi aqui que em 2015 - e de luto recente pelo meu pai - li a notícia da morte de Ana Hatherly. Chegara ao planeta a 8/5 e partia a 5/8...posso até imaginar algumas correspondências pitagóricas que faria a propósito destas datas. Leio um livro que comprei na feira vizinha e cujo título é, curiosamente, Grécia Mágica - o fogo secreto dos gregos - obra ligeira e especulativa, mas ainda assim, interessante e adequada à ligeireza destes dias.
Subitamente, a D. envia uma mensagem. Investiga o espólio da Autora e...lá está uma das minhas cartas. Mestra e amiga, Ana Hatherly guardou-a. Sinto uma nostalgia que o dia não dissipa. Também eu recebi cartas que guardo... Afinal, o segundo «post» deste blogue foi-lhe dedicado ( De Cuba a Bassorá). Eu conheci a professora e vislumbrei a pessoa por detrás do olhar límpido e azul. Soube, de viva voz, alguns dos seus dramas íntimos - perdas irreparáveis. Conheci-lhe aquela vaidade de quem tem consciência de estar acima do provincianismo bacoco. Soube-a resistente,multifacetada e inconformada.
Com um lápis na mão
Ontem
Estive pensando em ti
Com um lápis na mão.
Era um desafio
Uma maneira de enfrentar uma crise
Mas era um filtro
Queria escrever-te
Escrever-te veladamente
Escondendo o meu tormento
Atrás de um tecido sedoso de palavras.
Mas não consegui.
O lápis permaneceu imóvel.
Dentro de mim
Só se ouvia uma voz que dizia:
Cala-te! Cala-te!
Ana Hatherly, in Neo-Penélope, p.18
2 comentários:
«Conheci-lhe aquela vaidade de quem tem consciência de estar acima do provincianismo bacoco. Soube-a resistente,multifacetada e inconformada.»
Quando acontece conhecer gente assim
declaro-me ser seu irmão
e, já agora
que nunca te cales
mesmo que uma voz dentro de ti
te faça tal apelo
Gosto muito daquilo que Ana Hatherly escreve. Não conheço este livro "Neo-Penélope". Hei-de ver se o encontro, já que adorei o poema.
Uma boa semana.
Um beijo.
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