Arte Barroca, estilo laudatório*
Mulheres que Escrevem
Mulheres Que Lêem
(Repensar a Lieratura Pelo Género)
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Este é o título de uma obra organizada por Catarina EDFELDT e Anabela GALHARDO. Trata-se de uma antologia com dupla face: literária e crítica. No plano literário reencontramos: Nélida Piñon; Soror Violante do Céu, Clarice Lispector e Agustina Bessa-Luís; no plano crítico encontramos interessantes abordagens da autoria de: Chatarina Edfeldt, Anabela Galhardo Couto, Fátima Silva, Ana Maria Ferreira e Teresa Joaquim.
Encontro magnífico entre o passado e o presente, dando voz a alguns silêncios que o registo literário insiste em manter - esse, de uma linguagem das mulheres.
Eu, que o fado fez nascer no Ocidente e que pertenço a uma geração que se afirma sem estigmas, bem recordo que, mesmo de Agustina, se disse que: escreve como um homem. Não que possa contestar o douto letrado que o afirmou ou que veja nisso uma menoridade, mas que, sem feminismos balofos, todas e todos sabemos que a nossa riqueza é a diversidade dos discursos. Já o sabia, no século XVII, Soror Violante do Céu:« Contradizer a um Doutor / bem sei que é temeridade».
Soneto
Violante do Céu
Que suspensão, que enleio, que cuidado
É este meu, tirano Cupido?
Pois tirando-me enfim todo o sentido
Me deixa o sentimento duplicado.
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Absorta no rigor de um duro fado,
Tanto de meus sentidos me divido,
Que tenho só de vida o bem sentido
E tenho já de morte o mal logrado.
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Enlevo-me no dano que me ofende,
Suspendo-me na causa de meu pranto
Mas meu mal (ai de mim!) não se suspende.
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Ó cesse, cesse, amor, tão raro encanto
Que para que de ti não se defende
Basta menos rigor, não rigor tanto.
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(Antologia da Poesia do Período Barroco, Moraes Editores, 1982 - Lisboa, Portugal)
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CARAVAGGIO, Baco Adolescente
*Obrigada professora Anna Hatherly, por me ajudar a conhecer algumas «sorores» e obrigada marido, porque me fizeste conhecer o trabalho desse grupo de investigadoras e de investigadores que se ocupa das «mulheres».