Faltam alunos na sala. O Sol outonal doura, levemente, o ambiente interior. Uma suavidade na dureza dos dias. A calma, o receio e o entusiasmo do início do ensino secundário alargam o texto até à vila de Avis, aqui tão próxima, e levam, num voo rasante de pássaro deste Sul indomável, até ao silêncio pacífico e cheio do interior da Torre do Tombo, em Lisboa. Fernão Lopes é matéria dura para jovens de quinze anos pós-modernos!
M. não está presente, a irmã mais nova está com covid19 - ela e a turma inteira, confinaram-se. Outros três lugares estão vazios, na pequena sala em que vinte e sete alunos se amontoam atrás das máscaras azuladas. Em anos anteriores, essa prótese ainda tinha laivos de adereço e moda. Agora não! Luta-se pela assepsia, desesperadamente.
O conhecimento encolheu. A Gramática perdeu-se, mesmo se a História da Língua ainda fascina alguns deste alunos de Ciências e Tecnologias. Desdobro-me para cativá-los, como a Raposa no Principezinho de Antoine de Saint-Éxupéry.
Subitamente, J. que tem um interesse habitual por História, não resiste a perguntar-me se já estive dentro da Torre do Tombo. Digo-lhe que sim, que por força de quatro anos da minha vida de estudos lá entrei e estive muitas vezes. Então, olha-me em silêncio e remata entre a interrogação e uma ironia piedosa:- E quando vive, professora?
Todo o dia pensei na interrogação arremessada por esta menina sábia e frágil. Que lição!
Ana