Alentejo, 2023 |
Estranho anda o mundo. Nem os poentes incendiados da minha terra plana conseguem esfumar tanta estranheza. Incapaz de indiferença, mergulho no trabalho e afundo-me em silêncio. A minha natureza alentejana sabe silenciar-se.
A imensa cacografia em que os dias mediáticos se tornaram extremaram o pensamento de muita gente. As pessoas entrincheiraram-se em opiniões fortificadas e, numa questão de algum tempo, os totalitarismos assomarão e instalar-se-ão. Basta ler os sinais.
As guerras alimentam-se dos ódios submersos e da miséria humana. À porta, as temos e, as mais demoradas e devastadoras, vão-se esmorecendo da actualidade televisiva. Escolas de crueldade, de corrupção, lugar emergente do caos e das ditaduras...
A nossa identidade pode ser, agora, olhada pela intolerância: a minha bastardia alentejana; o meu sangue impuro de cristã nova; a minha condição de professora e pária social; até as seis décadas de vida, numa sociedade espectáculo que privilegia o verniz que a juventude nos dá...por pouco tempo...
E por tudo isto, ir-vos-ei contando pequenos eventos subtis, dos tantos sítios por onde passei.
Ana
9 comentários:
Ana, adorei teus olhares pelos tempos que re4almente andam esquisitos demais. Tanto do que é valorizado, pra mim nem precisava existir. Mas, talvez seja já rabujentice de velha de 74 que sou,rs...
beijos, linda semana! chica (adorei o céu)
Querida Ana,
Vivemos tempos estranhos, disseminação do ódio, falta de empatia e sensibilidade, de amar o próximo e de bondade. O mundo segue de cabeça pra baixo e com valores invertidos e pessoas cada vez mais egoístas!
Um abraço
Las gente ya no analiza las cosas se va los extremos . Buena reflexion. Te mando un beso.
Excelente reflexão!
Pelo "andar da carruagem" não auguro nada bom. A ver vamos...
Uma semana feliz.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Ana, que texto tão cheio de inquietude. Também me afundo no silêncio. Não entendo nem o país nem o mundo. A natureza maravilha-nos mas isso não nos basta porque o ódio, a indiferença, os conflitos gritam tão alto que estremecemos de pavor e convocamos a esperança que nos resta.
Tudo de bom para si.
Uma boa semana.
Um beijo.
Olá Ana.
Gostei da tua análise e da forma serena e delicada como a colocaste.
É-me difícil falar ou escrever sobre estas questões, sem sentir como andamos a remar contra a maré e isso revolta.
O espetáculo demoníaco da terra queimada, do vale tudo, baseado na força e manutenção do poder pelos senhores da guerra, vai abrandando na televisão pois as audiências esgotam-se no cansaço de todos os dias, hora a hora, a novela do terror acaba por enfraquecer a sensibilidade e a estupefacção inicial, e tudo isso às nossas portas, sem que aparentemente se percebam do essencial, as pessoas comuns não querem, não desejam essa via.
Já dentro de portas, tanto à esquerda como à direita consolidam-se posições para a conquista e/ou manutenção do poder, e o que mais importa, vai descendo na lista das prioridades.
O ensino, a saúde, a precariedade, reformados e idosos, todos os que estão sentindo na pele a degradação das suas vidas, enquanto o sorriso cínico dos políticos é acompanhado das promessas que se esperam há décadas por cumprir no caminho para nos igualarmos aos restantes países desenvolvidos na europa e no mundo.
As pessoas aqui, como em qualquer parte do mundo merecem bem mais do que esta gente que nos governa e nos conduz para abismo dos extremos, um presente sem futuro, e entretanto a jovialidade e energia que parecia durar uma eternidade, esvaia-se num ápice e a esperança se não tivermos cuidado, esvazia-se também, sem que nossos sonhos passem a conquistas por direito.
Valha-nos a sanidade de alguns que vão mantendo a chama acesa.
Uma boa semana.
Beijinho e um kandando amiga Ana.
Sensível a esse céu
ele
dá forte claridade
ao retrato
que aqui fazes da realidade
Beijo, saudoso do montado
O estado do mundo também me silencia, até certo ponto...
De vez em quando, desabafo poetizando, como acontece no que publico hoje...
Internamente, vou ''olhando'' de longe...
A empolgação presente faz-me lembrar o Eça ironizando o parolismo português, mas do Eça aprecio o talento do escritor, mas não a sua peraltice... No entanto, dedicou páginas interessantes comentando o mau gosto dos lisboetas.
É democracia, que se fale e ainda bem... São bem pagos por esse mister. Eu é que não os ouço, tenho mais que fazer, vou lendo apenas o suficiente para estar minimamente informada das situações...
Beijinhos, querida amiga.
~~~~~~
Voltei pra te avisar que acaba de entrar céu teu por lá!
Obrigadão! Podes ver aqui:
https://ceuepalavras.blogspot.com/2023/02/oooooo-ooo.html
beijos, chica
Enviar um comentário