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À espera dos bárbaros
O que esperamos na ágora reunidos?
É que os bárbaros chegam hoje.
Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam mais?
Os senadores não legislam mais?
É que os bárbaros chegam hoje.
Que leis hão de fazer os senadores?
Os bárbaros que chegam as farão.
Que leis hão de fazer os senadores?
Os bárbaros que chegam as farão.
Por que o imperador se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?
É que os bárbaros chegam hoje.
O nosso imperador conta saudar
o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
um pergaminho no qual estão escritos
muitos nomes e títulos.
O nosso imperador conta saudar
o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
um pergaminho no qual estão escritos
muitos nomes e títulos.
Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos
de ouro e prata finamente cravejados?
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos
de ouro e prata finamente cravejados?
É que os bárbaros chegam hoje,
tais coisas os deslumbram.
tais coisas os deslumbram.
Por que não vêm os dignos oradores
derramar o seu verbo como sempre?
derramar o seu verbo como sempre?
É que os bárbaros chegam hoje
e aborrecem arengas, eloqüências.
e aborrecem arengas, eloqüências.
Por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa preocupados?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa preocupados?
Porque é já noite, os bárbaros não vêm
e gente recém-chegada das fronteiras
diz que não há mais bárbaros.
e gente recém-chegada das fronteiras
diz que não há mais bárbaros.
Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução.
Ah! eles eram uma solução.
Constantino Kaváfis
(Tradução de José Paulo Paes)
12 comentários:
Querida Aninha
Um belo poema, na verdade
Actualmente já não usamos togas de púrpura, são outras as modas. E nós, povo, não usamos jóias, muito menos ametistas ou esmeraldas.
Mas eles, os bárbaros, já cá estão há muito tempo...e multiplicam-se.
Beijinhos de muita amizade. Até breve.
Poema prévio à barbárie
ou esperando o que é já chegado?
(100 poemas?
quero mais 99)
os bárbaros capturaram a cidade por dentro
sem se dar conta - excepto alguns visionários.
e agora, Europa? que farás sem inimigo?
beijo
Um poema mto inteligente e satírico, simultaneamente.
Beijinhos.
~~~
Por vezes, as soluções drásticas parecem as melhores,
especialmente quando o jugo é demasiado pesado...
Dias estivais muito agradáveis e felizes.
~~~ Beijinho, Ana. ~~~
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Excelente!
Grato abraço por no-lo ofereceres, amiga.
Desculpa perguntar, mas leste o meu post mais recente?
Abraço grande e bom final de semana :)
Ou será que já somos todos bárbaros, e não se nota a diferença?
Pobre de nós quando não conseguirmos separar o trigo do joio.
Um poema magistral, na verdade.
Obrigada, querida Ana.
Beijinhos
Olinda
os bárbaros...
sem o outro, nada somos...
valente povo :)
Sabes lá as vezes que leio este poema de Kaváfis. Cada vez o acho mais belo e actual...
Um beijo.
Eu penso que no mundo e em Portugal,
não precisamos de bárbaros nem de heróis
precisamos sim, é de justiça social...
Boa segunda-feira, amiga Ana, um abraço.
Eduardo.
Parece escrito ontem.
A sociedade só muda a "fachada", o miolo é o mesmo...
bj amg
OBRIGADO pelo seu comentário.
Bottom cbox da página.
Bom dia.
Beijos.
TEB.
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