Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Um dos cem mais belos poemas...


Atenas, http://static.ci.com.br



À espera dos bárbaros


O que esperamos na ágora reunidos?
É que os bárbaros chegam hoje.
Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam mais?
É que os bárbaros chegam hoje.
Que leis hão de fazer os senadores?
Os bárbaros que chegam as farão.
Por que o imperador se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?
É que os bárbaros chegam hoje.
O nosso imperador conta saudar
o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
um pergaminho no qual estão escritos
muitos nomes e títulos.
Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos
de ouro e prata finamente cravejados?
É que os bárbaros chegam hoje,
tais coisas os deslumbram.
Por que não vêm os dignos oradores
derramar o seu verbo como sempre?
É que os bárbaros chegam hoje
e aborrecem arengas, eloqüências.
Por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa preocupados?
Porque é já noite, os bárbaros não vêm
e gente recém-chegada das fronteiras
diz que não há mais bárbaros.

Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução.
                                              Constantino Kaváfis 
(Tradução de José Paulo Paes)

12 comentários:

Bípede Implume disse...

Querida Aninha
Um belo poema, na verdade
Actualmente já não usamos togas de púrpura, são outras as modas. E nós, povo, não usamos jóias, muito menos ametistas ou esmeraldas.
Mas eles, os bárbaros, já cá estão há muito tempo...e multiplicam-se.
Beijinhos de muita amizade. Até breve.

Rogério G.V. Pereira disse...

Poema prévio à barbárie
ou esperando o que é já chegado?

(100 poemas?
quero mais 99)

Manuel Veiga disse...

os bárbaros capturaram a cidade por dentro
sem se dar conta - excepto alguns visionários.

e agora, Europa? que farás sem inimigo?

beijo

CÉU disse...

Um poema mto inteligente e satírico, simultaneamente.

Beijinhos.

Majo Dutra disse...

~~~
Por vezes, as soluções drásticas parecem as melhores,
especialmente quando o jugo é demasiado pesado...
Dias estivais muito agradáveis e felizes.
~~~ Beijinho, Ana. ~~~
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

São disse...

Excelente!


Grato abraço por no-lo ofereceres, amiga.

Desculpa perguntar, mas leste o meu post mais recente?

Abraço grande e bom final de semana :)

Olinda Melo disse...


Ou será que já somos todos bárbaros, e não se nota a diferença?
Pobre de nós quando não conseguirmos separar o trigo do joio.

Um poema magistral, na verdade.

Obrigada, querida Ana.

Beijinhos

Olinda

mixtu disse...

os bárbaros...
sem o outro, nada somos...
valente povo :)

Graça Pires disse...

Sabes lá as vezes que leio este poema de Kaváfis. Cada vez o acho mais belo e actual...
Um beijo.

Edum@nes disse...

Eu penso que no mundo e em Portugal,
não precisamos de bárbaros nem de heróis
precisamos sim, é de justiça social...

Boa segunda-feira, amiga Ana, um abraço.
Eduardo.

Unknown disse...

Parece escrito ontem.
A sociedade só muda a "fachada", o miolo é o mesmo...

bj amg

Tebinfea disse...

OBRIGADO pelo seu comentário.
Bottom cbox da página.
Bom dia.
Beijos.
TEB.