Max Ernst |
Tanto é o sangue
que os rios desistem de seu ritmo,
e o oceano delira
e rejeita as espumas vermelhas.
Tanto é o sangue
que até a lua se levanta horrível,
e erra nos lugares serenos,
sonâmbula de auréolas rubras,
com o fogo do inferno em suas madeixas.
Tanta é a morte
que nem os rostos se conhecem, lado a lado,
e os pedaços de corpo estão por ali como tábuas sem uso.
Oh, os dedos com alianças perdidos na lama…
Os olhos que já não pestanejam com a poeira…
As bocas de recados perdidos…
O coração dado aos vermes, dentro dos densos uniformes…
Tanta é a morte
que só as almas formariam colunas,
as almas desprendidas… — e alcançariam as estrelas.
E as máquinas de entranhas abertas,
e os cadáveres ainda armados,
e a terra com suas flores ardendo,
e os rios espavoridos como tigres, com suas máculas,
e este mar desvairado de incêndios e náufragos,
e a lua alucinada de seu testemunho,
e nós e vós, imunes,
chorando, apenas, sobre fotografias,
— Tudo é um natural armar e desarmar de andaimes
entre tempos vagarosos,
sonhando arquiteturas.
Cecília Meireles, in Mar Absoluto
11 comentários:
Guerra, é a guerra
e nada mais se exige
à poeta
que assim construa poema
falando
d´O coração dado aos vermes, dentro dos densos uniformes
Mas, sabes?
O que seria mesmo útil
seria um poema de paz
Ao menos um abraço...
Aleluia, creio que estou a conseguir!
O Google-blogger anda louco!
A guerra é sempre um tema difícil em poesia. Guerra é sinónimo de morte destruição dor.
Gosto muito de Cecília Meireles, mas também prefiro os poemas de paz. A guerra a vida a mostra todos os dias.
Abraço, saúde e boa semana
Guerras sempre nos fazem mal...
beijos praianos, tudo de bom,chica
Tanta a guerra, tanto o sangue, tantos os mortos, tanta a injustiça, tanto o sofrimento.
Cecília Meireles parece que fez o poema para o tempo que vivemos.
Tudo a correr bem consigo, Ana.
Uma boa semana.
Um beijo.
Tantas guerras no planeta , tanta maldade, tantas lágrimas e tanto cinismo!
Minha amiga, te desejo serena semana e te deixo forte abraço
Fui lendo o poema ansiosamente, esperando
chegar ao fim para ver a sua autoria,
pela forte mensagem que nos transmite, dos
horrores que as guerras trazem que até a
própria natureza fugiria espavorida se
pudesse.
Cecília Meireles no seu melhor, usando as
palavras com propriedade e talento.
Desejo-te boa semana, querida Ana.
Beijinhos
Olinda
um belo e oportuno poema
abraço
Maldita guerra.
Excelente escolha poética.
Não conhecia, obrigado pela partilha.
Continuação de boa semana, amiga Ana.
Beijo.
Como um grito...
Será que este poema de Cecilia vai ser sempre atual e pertinente?!
Há os mortos físicos da frente e há os que ficam mortos por dentro,
como é o caso dos pais de tantos mancebos, das aldeias e das universidades.
Continuo com guerra no meu 'blog'. Creio que conhece a obra que citei...
Beijinhos, querida amiga.
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Fuerte y profundo poema. Te mando un beso.
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