Jerusalém Oriental, Nablus Road - José Alves, 2019 |
Chegámos e sei que não poderei sorrir. Devo baixar o olhar, em sinal de respeito e de humildade. Todos os funcionários do hotel são homens. Este não é um mundo para as mulheres. Apesar da paixão que sempre tive pela Semiótica e leitura dos sinais, símbolos, gestos, ambientes...sinto um súbito desconforto. Em lugar nenhum me senti refém do meu género, porém o solo coberto pela carpete de tons vermelhos tornou-se a minha paisagem. Não contesto costumes alheios. A estrangeira, aqui, sou eu. Começo a entender exactamente onde estou.
O atendimento decorre através das vozes masculinas e a resiliência terá que me acompanhar por alguns dias, de forma a tornar-me a sombra. Não venho pelas religiões, venho pela História. Aqui, a tensão está latente e o ar tem um peso algo soturno. Só vivendo, conhecendo por dentro poderemos ajuizar. Eu não julgo, observo. Ajusto-me. A má descolonização britânica deixou uma herança de guerras e conflito sucessivo. Logo em 1948 este lugar foi dominado pela Jordânia e a criação do novo estado de Israel minou, até hoje, o sossego dos habitantes anónimos. Agora, a maioria da população é árabe e, aqui, estamos na Cisjordânia (uma parte da Palestina dependente da A.N.P.). Temos consciência de que assim é.
Jerusalém oriental - José Alves, 2019 |
Deste lado, temos a cidade velha muito acessível a pé e queremos conhecer os lugares, demoradamente. Nas viagens, o mais interessante é conhecer o espírito dos lugares! A porta de Herodes é logo ali...
Saímos para o trânsito caótico e a primeira mulher com que me cruzo usa hijabe, ensaio maquinalmente um sorriso e sou correspondida. Não se importou de ser fotografada, coisa que, por cuidado e respeito, não faremos a uma mulher muçulmana. Esse unanimismo singelo recordou-me a nossa Humanidade comum.
Ana
14 comentários:
Dizes
«A má descolonização britânica deixou uma herança de guerras e conflito sucessivo.»
Mas pergunto:
Houve alguma descolonização que não deixasse tal herança?
(teu texto é um documento)
Beijo
Lindas fotos e vale respeitar e conhecer o mais possível as cidades, tradições, costumes . Uma experiência maravilhosa, na certa! beijos, tudo de bom,chica
es un lindo lugar lastima que este rodeado de guerra. Te mando un beso.
Realmente, é-me totalmente impossível visitar um lugar assim, por muito que eu adore História!!!
Beijinho, bom Fevereiro
Um belíssimo documento histórico, este seu texto, Ana.
Um abraço!
Beautiful, very historical post!
Greetings from Poland!
Querida Ana
A nossa Humanidade comum!
E, contudo, tao diferentes em usos e costumes.
Em que momento nos desirmanámos e cada qual
seguiu o seu próprio caminho.
É importante conhecer a História. A História
das Religiões, a História das Mentalidades.
Bom domingo
Beijinhos
Olinda
A História não nos deixa esquecer, mesmo quando queremos que o pensamento nos absolva dos graves erros que foram e continuam a ser cometidos. O seu texto é magnífico e mostra bem a sensibilidade do seu olhar sobre as coisas.
Uma boa semana com muita saúde.
Um beijo.
Gostei de ler e ter uma ideia do que é viver ou visitar o país.
Abraço e saúde
A Cisjordânia foi realmente palco de lutas duríssimas e altamente mortíferas!...
Acrescento, por um direito pouco ético que jamais será resolvido... E faço silêncio em honra dos que pereceram...
Querida amiga, falta-lhe visitar a Jordânia... Lá cada um anda com ou sem véu, como entender...
Vamos vivendo este tempo singular e cruel, assistindo a um genocídio... Beijinhos
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Existem Países de usos e costumes muito estranhos. Fazer da mulher um ser inferior é da mais baixa sensibilidade humana. Como é possível ainda acontecer em pleno século xx1.
Belas imagens e texto. O meu elogio
Gostei do seu blogue. Fiquei seguidor
Feliz fim de semana… cumprimentos cordiais.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
Compreendo, Ana, a limitação de género atendendo ao lugar, mas, por mais que me esforce, não consigo aceitar. É que, por mais observadora que seja, fica sempre condicionada por essa situação. Ou não?
Um beijinho :)
Querida Ana, peço-lhe imensa desculpa mas eliminei o meu comentário anterior.
Sei que, por vezes abordo temas pessoais, que deveriam ser preservados, porém, uma coisa é falamos de nós, outra muito diferente é expormos assuntos melindrosos publicamente de outras pessoas sem o seu devido consentimento. Só quando li no meu espaço a sua referência ao Muro e, ao voltar aqui e ler o que havia revelado, me apercebi da enorme indiscrição que havia cometido.
Renovo as minhas desculpas e peço-lhe encarecidamente que, em hipótese alguma publique seja o que for referente ao que contei. Infelizmente, não só à Ana, mas a todas as pessoas que por aqui comentaram. Imperdoável! Fui muito além de um simples comentário. Revelei algo de foro pessoal e íntimo, que embora me afecte, não me dizia directamente respeito. Sinto-me tremendamente envergonhada.
Muito obrigada, Ana.
Um beijinho grato
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