Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

«Traduzir-se», Ferreira Gullar

Alentejo, Google




Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
– que é uma questão
de vida ou morte –
será arte?

6 comentários:

Existe Sempre Um Lugar disse...

Boa tarde, uma grande parte de si é poesia e cultura.
Semana feliz,
AG

Graça Pires disse...

Mais um poeta que nos deixa. Gostei do poema, como gosto de toda a poesia de Ferreira Gullar. Ficará em mim sempre que o ler.
Uma boa semana, Ana.
Beijos.

Edum@nes disse...

Sem vida, a morte sem arte,
onde não haverá mais ambição
porque quem desde mundo parte
para sempre, mais não volta não!

Tenha uma boa tarde amiga Ana, um abraço,
Eduardo.

As Mulheres 4estacoes disse...

Somos mais que uma única parte.
Alguns deixam uma parte de si impressa em palavras antes de partir.
Abraço
Sônia

Majo Dutra disse...

E, assim, as duas partes se complementavam.
Partiu, mas não morreu...
Abraço, estimada Ana.
~~~~~~~~~~~~~

Manuel Veiga disse...

... valham-nos os poetas!
mas esses pouco podem - e morrem!

beijo