Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Tecnopopulismo ou tecnofascismo

 

Newyorker.com

    E lá se vai o mês de Agosto, respirou sobre a planície um bafo de dragão que a tudo assolou. Agora, o Verão quebrou, devastado pelas súbitas mudanças.
    Tanta leitura, tanta noite abafada, tanto caminhar sobre a velha passadeira eléctrica...resta uma tendinite no braço, uma dorzinha que rumina o dia todo e aquelas inefáveis visitas ao fisioterapeuta.
    Traga-vos uma sugestão de leitura, pouco usual em mim, mas que, na lassidão de uma revista semanal, encontrei e me inquietou.
    O autor, amigo de Elon Musk, é assim descrito no "site" da Wook:

    "Peter Thiel, o lendário fundador da PayPal, quando criou a empresa, em 1998, sabia que não havia concorrência à altura e quatro anos depois vendeu-a por 1,5 mil milhões de dólares. O princípio que o guiou então determinou todos os investimentos que viria a fazer. Foi o primeiro a entrar no capital do Facebook (tem hoje cerca de 10 por cento da empresa) e fundou ou financiou a LinkedIn, a Airbnb e a Palantir, só para citar as mais conhecidas. Em todos os casos, partiu do "0" (zero concorrência) para o "1" (número um no mercado). Apostando em tecnologias que permitiam acrescentar valor, onde antes não havia nada. O modo como repetiu os sucessos e a raiz da sua filosofia foram explicados num pequeno curso na Universidade de Stanford. Um dos seus alunos, Blake Masters, começou a tirar apontamentos e a publicá-los na Internet. O sucesso foi tal rápido (2,6 milhões de visualizações), que teve de pedir a Peter autorização para prosseguir. Nasceu assim De Zero a Um, uma versão refinada e trabalhada das aulas - o curso completo."
    




    Neste momento é apoiante e financiador de campanha do governo americano, suporte muito forte de J. D.Vance. Dir-me-ão: "E, daí?". Responderei: " Nada. O povo americano elegeu democraticamente o seu governo, seguindo as regras da sua Lei maior". Porém, lendo o livro e, segundo esta ideologia da "concorrência zero", o temor instala-se. Agora, que li uma entrevista dada por este homem quase tímido e de boa aparência, aqui vos deixo algumas ideias:
    "A sua empresa vai juntar numa só todas as bases de dados do governo americano - e ter acesso a elas" (Sábado, p.65, 13 de agosto). Defende um Estado  "pequeno como uma startup, num mundo em que são as tecnológicas a decidir livremente - mesmo que em monopólio". Acredita que só pela violência se instaura a ordem e defende a "teoria do caos" e a oligarquia dos "tecno bros", como forma de garantir que só as melhores mentes tecnocráticas poderão dirigir o mundo, culpando o Iluminismo de todos os males e propondo o "Iluminismo sombrio" (segundo Curtis Yarvin). Assim, teremos uma Nova Ordem e um novo Homem.
    E se isto não é assustador, meus amigos, poderão ler também The End of The Future, 2011.
    Perigosos são estes génios de Silicon Walley, postos ao serviço do  único deus a que servem:o dinheiro.
    O pior, a ideologia difunde-se rapidamente:


Talvez o Rara Avis seja banido, pois já foi muito atacado por estes ideólogos, como aqui documentei, mas que importa?! 

  

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Talvez as rosas

 

Cá de casa - Ana


    Talvez as rosas nos ensinem a lição mais simples. Quarenta e dois graus, de mais um dia que ferve, rondam a casa branca que, quase meninos, sonhámos construir. Formigas, paradoxalmente sonhadoras, ousámos o ciclópico labor. Moldámos, no esforço, aquilo que ainda somos.
    Lá fora, tu consegues trabalhar... eu refugio-me na "fresca" da casa, como por aqui se diz. Vou lendo, lendo, lendo. 
    Maria Zambrano, a filósofa espanhola, pareceu antever este tempo, desde os finais da Segunda Guerra Mundial



    
    "A objectividade, enquanto durar o império da máscara, eclipsa-se, como se o homem não estivesse nesse nível vital em que a luz havia sido de toda a cultura ocidental." (p. 123). 
    Desde a primeira página nos é dito que a Europa está em decadência. Hoje, parece uma redundância vir aqui dizê-lo! 
    Laboras, com infinda paciência na regeneração dos instrumentos, sob um calor abrasador, mas aquilo que fazes e me vens mostrar como menino que espera um elogio, recorda-me bem de quem és! Ainda bem.


Cá de casa - Ana

    Talvez as rosas que sobrevivem no jardim, debaixo do estio, nos recordem aquilo que somos, apesar dos desatinos do mundo. Talvez ainda haja esperança.



sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Levantam, num voo rasante


                 Life on stump - Jacek Yerka




Levantam, num voo rasante,

pesados pássaros do Verão,

que o calor passado os impele

ao horizonte cinza do Levante...

Rodopiam, no chumbo matinal,

em círculos vagos, em diapasão,

aves majestosas astutas, sibilinas,

auguram um apocalipse constante!


Ana



sexta-feira, 25 de julho de 2025

44 anos

 


Story of love, Vladimir Kush

14
Brincas todo o dia com a luz do universo.
Subtil visitante, chegas na flor e na água.
És mais que este pequeno órgão claro que aperto
como um cacho em minhas mãos pelos dias.

A ninguém te pareces desde que te amo.
Deixa eu te deitar entre guirlandas amarelas.
Quem escreve teu nome com letras de fumo entre as estrelas do sul?
Ah deixa eu te lembrar como eras quando ainda nem existias.

De repente o vento uiva e golpeia minha janela fechada.
O céu é uma rede carregada de peixes sombrios.
Aqui vêm dar todos os ventos, todos.
Despe-se a chuva.

Passam fugindo os pássaros.
O vento. O vento.
Só posso lutar contra a força dos homens.
O temporal faz girar folhas escuras
e solta todas as barcas que à noite atracam no céu.

Estás aqui. Ah não me foges.
Responderás até o último grito.
Encolhe-te a meu lado como se tivesses medo.
Lépida uma vez uma sombra estranha percorreu teus olhos.

Agora, agora mesmo, pequena, trazes-me madressilvas,
e trazes ainda os seios perfumados.
Enquanto o vento triste galopa matando mariposas
eu te amo, e minha alegria morde tua boca de ameixa.

Quanto te doerá acostumares-te a mim,
à minha alma solitária e selvagem, ao meu nome que afastam.
Vimos tantas vezes a lamparina arder beijando nossos olhos
e sobre nossas cabeças desdobrarem-se os crepúsculos em leques gigantes.
Minhas palavras choveram em ti, acariciando-te.
Há tempos amei teu corpo de nácar ensolarado.
Até te vejo dona do universo.
Te trarei das montanhas flores alegres, campânulas,
avelãs escuras e cestas selvagens de beijos.

Quero fazer contigo
o que a primavera faz às cerejeiras.

Pablo NERUDA, Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada, 14, 1924



44 anos de casamento


domingo, 20 de julho de 2025

Calema

 

Fontana dei Quattro Fiumi (Fonte dos Quatro Rios) - Roma - José Alves

Hei-de enfrentar teimosamente o Futuro.

Defenderei até ao fim a Verdade,

Porque a Justiça é o meu ideal mais duro,

Porque o meu peito traz consigo a Vontade!

Serei a criança, sorrirei às estrelas,

Porque existem coisas belas, hei-de defendê-las.

Ainda que me apontem o dedo em riste...

Irei dizer que a Vida ainda existe!

Calema, sob o verde das águas, cresce...

Abril já partiu e os homens hoje oraram,

Mas secretamente Setembro decresce...

No fulgor dos impérios que naufragaram.


Ana


Calema - Ondulação forte do marnas costas de África que causa forte rebentação.

(https://dicionario.priberam.org/calema)


Fonte dos quatro rios (Roma) -quatro rios mais importantes de diferentes continentes: o Nilo (África), o Danúbio (Europa), o Ganges (Ásia) e o Rio da Prata (Américas

sábado, 12 de julho de 2025

Às vezes, a ternura...

 

Foto: Sara Monteiro, 2025

Às vezes, a ternura

rebenta no azul,

acaricia o tempo

e voga no silêncio.

Às vezes, a doçura

ausente nesse Sul,

arrasta-se neste vento

 e voga no silêncio...


Ana



terça-feira, 1 de julho de 2025

Quarenta graus

 


Rui Carapinha, 2025
Matemático e meu ex-aluno, que teve a gentileza de me oferecer esta bela aguarela.


Vinham de longe,

cansados do Tempo...

Traziam rumores,

no prumo do vento.

Vinham, de tão longe,

no suão do lamento...

Traziam ardores,

E sofrimento.


Ana





domingo, 29 de junho de 2025

Extremo

 


Bernardo Strozzi, "As três Parcas"




Oligarcas
Autocratas
Monarcas
Teocratas
Magnatas

E outros tiranos
Em horas parcas
Causam seus danos

Choram meninos
Clamam as Parcas
Os nossos Destinos

                           Ana


*Parcas - deusas da mitológicas. São também designadas fates, daí o termo fatalidade. São três deusas: "Nona" (Cloto), "Décima" (Láquesis) e "Morta" (Átropos). Nona tece o fio da vida, Décima cuida de sua extensão e caminho, Morta corta o fio.


segunda-feira, 23 de junho de 2025

Que estamos a fazer da Humanidade?

 

Cá de casa - Ana, 2025

   

É esta a hora perfeita em que se cala

O confuso murmurar das gentes

E dentro de nós finalmente fala

A voz grave dos sonhos indolentes.


É esta a hora em que as rosas são as rosas

Que floriram nos jardins persas

Onde Saadi e Hafiz as viram e as amaram.

É esta a hora das vozes misteriosas

Que os meus desejos preferiram e chamaram.

É esta a hora das longas conversas

Das folhas com as folhas unicamente.

É esta a hora em que o tempo é abolido

E nem sequer conheço a minha face.


Sophia de Mello Breyner Andresen, Dia do Mar, 1947 (Poema com referência aos poetas sufis da Pérsia, Saʿdī e Ḥāfiẓ)


    Os meus amigos, que por aqui andam há mais tempo, sabem que tive uma viagem planificada para o Irão/Iraque no Verão de 2020, tendo no ano de 2019 percorrido Israel, territórios disputados, Cisjordânia, com uma incursão nos montes Golã...

    O projecto por cumprir ficou aqui: "Um chá na Pérsia"

https://raraavisinterris.blogspot.com/2020/01/um-cha-na-persia.html

    Conservo esse sonho de um dia ir à velha Pérsia. Não visito países, corro atrás da História. Do resto, falaremos depois...

    Num relance à mais banal das fontes, percebemos o que a, dita, conquista islâmica fez aos velhos textos persas...eles, sim, repositórios dos antigos preceitos, mitos e lendas sobre os quais construímos o nosso saber de europeus do Sul.

Pois...os persas não são árabes.


Literatura persa clássica
Literatura persa pré-islâmica

Sobreviveram muito poucas obras do período Aqueménida, em parte devido à destruição da biblioteca de Persépolis.[3]A maior parte do que ficou consiste nas inscrições reais dos reis Aqueménidas, em particular de Dario I (522-486 a.C.) e do seu filho Xerxes I. Muitos documentos Zoroastrianos foram destruídos aquando da Conquista Islâmica do Irão no século VII. Os Parsis que fugiram para a Índia, no entanto, levaram com eles alguns dos livros do cânone Zoroástrico, incluindo partes da Avestá e antigos comentários (Zenda) a esta. Algumas das obras sobre Geografia e viagens da época Sassânida também sobreviveram, apesar de em traduções para Árabe. Nenhum texto de crítica literária do Irão pré-islâmico sobreviveu. Contudo, alguns ensaios em Persa Médio, tal como o "Ayin-e name nebextan" (Livro dos Princípios de Escrita) e o "Bab-e edteda 'I-ye" (Calila e Dimna), foram considerados como crítica literária (Zarrinkoub, 1959).[4] (WIKI)




terça-feira, 10 de junho de 2025

O Portugal Futuro

 

Lagos, 2024 - Ana


O Portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável
Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país
e chamem elas o que lhe chamarem
Portugal será e lá serei feliz
Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a Espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz
À sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão
Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o Portugal futuro

Ruy Belo

sexta-feira, 6 de junho de 2025

A guerra terá um fim


"Alegoria da Guerra", Brueghel




A guerra terá um fim.
Os líderes trocarão apertos de mãos.
A idosa continuará
esperando pelo filho martirizado.
Aquela moça vai esperar pelo
amado marido.
E essas crianças esperarão
por seu heróico pai.
Não sei quem vendeu nossas terras.
Mas eu vi quem pagou o preço.

Mahmoud Darwish (Tradução de Nelson Santander)

    Mahmoud Darwish (Al-Birweh, 13 de março de 1941 – Houston, 9 de agosto de 2008) - Nascido em Acre, na Galileia. É ele o autor da Declaração de Independência Palestina, escrita em 1988 e lida pelo líder palestiniano Iasser Arafat, quando declarou unilateralmente a criação do Estado Palestiniano. Darwish é considerado o poeta nacional da Palestina.


quinta-feira, 29 de maio de 2025

Florescer no deserto

 

Deserto do Neguev, 2019 


    Passaram-se os dias e o Rara Avis sempre assim foi - silencia-se quando o labor dos dias me solicita até ao excesso. Os meus amigos já conhecem o significado da minha ausência: é a vida a clamar por mim.
  Tanta coisa aconteceu, entretanto! Depois dos muito quilómetros, de tanta luz a ferir o meu olhar, cá estou de regresso.
  Resta-nos florescer no deserto! Talvez, naquele sentido da grande resiliência perante as tantas adversidades e tamanha aridez - a velha lição do Livro. 
  O sangue das guerras e o grito dos homens não parecem suficientes para calar o velho Deus - haverá, ainda, um Justo? 
 Quando, quase criança (culpa das bibliotecas itinerantes da Gulbenkian) lia Rousseau, estava longe de imaginar no que se transformaria a sociedade e a natureza humana de alguns líderes sociais. Esse velho suíço (antes da Suíça) bem nos avisou que, sem uma sociedade que não corrompa a natureza humana, o Estado deixa de sobreviver. Talvez, por isso, o perseguiram e chamaram de "impostor". Conhecemos os seus limites teóricos e não é disso que aqui falo, já se sabe...
    
     
    

domingo, 11 de maio de 2025

Abandonos

 

https://prehistoricportugal.com/megaliths/


    Andamos por aí, sempre foi assim. Somos andarilhos natos. Sê-lo-emos, decerto, enquanto as pernas o permitirem. Tu apaixonas-te pela História e eu inebrio-me com os sons, os odores, o silêncio, os encantamentos de uma luz coada sobre a planície. Depois, escuto-te e enriqueço.

    Lamentamos o abandono a  que vão sendo soltos os lugares: capelas caídas, sítios megalíticos empilhados depois das sucessivas lavouras e, mesmo quando anunciados em rotas turísticas, acessos que a invernia vai tornando inacessíveis. Como é possível? Como é possível que Évora não core de vergonha perante o estado a que chegou o acesso ao Cromeleque dos Almendres? Sete mil anos deixados ao acaso, repletos de turistas e de estudiosos...


Ana - Maio 2025

    A uma altura em que se digladiam retóricas ocas, fica bem claro como alguns aspectos são completamente esquecidos. Caminhemos, no entanto, como das tantas vezes em que aqui viemos. Hoje, foram cerca de três quilómetros  a pé para lá chegarmos. A quem interessa a História? A quem interessa que se esqueça a História?

Ana - Maio 2025

    Valha-nos a beleza do montado...

    

terça-feira, 6 de maio de 2025

Céu Plúmbeo

 

Bettina Baldassari

Olha, no céu plúmbeo, uma pomba

voa serena sobre o verde e as flores.

Anda, retira de tua alma as dores

e aspira o polén de vida que tomba.


Que tomba da corola solene e bela

e perfuma o cinzento de silêncio e ar!

Leva doçura à alma eleita para amar,

traça, com tuas mãos, a felicidade singela.


Singela na beleza e o seu raio inunda

a alma triste onde a saudade dói...

com ecos de lonjura, fera e rotunda!


Plúmbeo o céu, o Sol, o cinzento destrói.

E não temas, tu és a razão profunda...

Ama! Pois, afinal, a vida se constrói.


                                 Ana Tapadas, Sul Sereno, editora Europa, 2024, p. 38





quinta-feira, 24 de abril de 2025

Estarei ali...algures! Teria dezasseis anos feitos há pouco.

 

Fernando Correia, Abrantes, 1974




"Parece que foi ontem... parece que foi nunca".

Eduardo Lourenço


Fernando Correia, Abrantes, 1974

Este dia é um canteiro
com flores todo o ano
e veleiros lá ao largo
navegando a todo o pano.
E assim se lembra outro dia febril
que em tempos mudou a história
numa madrugada de Abril,
quando os meninos de hoje
ainda não tinham nascido
e a nossa liberdade
era um fruto prometido,
tantas vezes proibido,
que tinha o sabor secreto
da esperança e do afecto
e dos amigos todos juntos
debaixo do mesmo tecto.

                   
José Jorge Letria


Nota: eram pretas as nossas batas de Liceu.

quarta-feira, 16 de abril de 2025

"Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio"

 

Alentejo, 2025


Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.

Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só dos Teus olhares me purifique e acabe.

Há muitas coisas que eu não quero ver.

Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o Teu reino antes do tempo venha
E se derrame sobre a terra
Em Primavera feroz precipitado.

                                               Sophia de Mello Breyner Andresen, Coral, 1950



Alentejo, 2025


    Que este tempo de passagem vos seja leve e doce, meus amigos!


Pessach/Páscoa


segunda-feira, 31 de março de 2025

Cyclamen de Alepo

 

cyclamen cá de casa, 2025

Cantos para o amor
1
um eco de ti me disse:
“o segredo que fala de ti e de mim
não tem idade”
2
sabemos como podem amar as estações
sabemos que línguas falaram
no desconhecimento do vento e do espaço
3
não tenho medo
devo inventar o testemunho que
te corresponde

Entre teus olhos e eu
quando penetro meus olhos nos teus
vejo a alvorada profunda
vejo o antigo ontem
vejo isso que ignoro
e sinto que passa o universo
entre os teus olhos e eu

Unidade
o universo uniu-se a mim
suas pálpebras cobrem com as minhas
o universo ligou-se à minha liberdade,
qual dos dois criou o outro?

Não possuo edição portuguesa



    Pseudónimo de Ali Ahamed Said Esber, poeta conhecido por combater o sionismo e as ditaduras árabes, defende uma poesia livre das amarras das instituições políticas e das obrigações religiosas.

(Enquanto desviamos o olhar.)

domingo, 16 de março de 2025

Por Decreto...ou as "soft girls"

 

Serra de São Mamede, Portalegre - 2025

    Corro na paisagem e no tempo húmido desta inefável respiração da Terra, corro nos dias de Março. Já foi "dia das mulheres" e eu, por aí, vou pensando em como me viram...ou me imaginam. Foi-me concedida a afirmação social, pela qual outras mulheres tanto lutaram.

    Não serei sempre inefável, especialmente como agora, deslizando por este Alentejo brumoso. Serei engendrada dessa diferença granítica que se esconde e às vezes se assoma na paisagem, ao redor. Com atenção redobrada, vou guiando sem gosto - sob a chuva ameaçadora - veículo avantajado, cabelos desgrenhados e botas pesadas. Alentejana sou.


Ana Maria, 2025

    Na telefonia, vou ouvindo notícias do mundo que, nos confins da planície, me parecem distantes e estranhas...guerras, conflitos, ruínas civilizacionais, líderes ocos de humanidade, deuses económicos...um futuro estranho para ser legado aos vindouros e, muito especialmente, às vindouras!
    Penso que bastará um decreto de Lei para que as mulheres futuras regressem aos seus lugares silenciosos. Como se não nos bastassem os populismos, os ditadores, as religiões, temos agora em grande expansão (especialmente na desenvolvida Suécia) o movimento das "soft girls".
    Vou escutando notícias e penso naquilo que nos está a desconstruir o caminho que percorremos. E penso na condição das mulheres e na regressão que vivem no presente. Com extremismo religioso, ou com retrocessos civilizacionais, interrogo-me: para onde caminhamos?


Irão, 2025 - BBC


Irão/Pérsia, anos 80 - BBC


    Vivi os meus vinte anos na década de oitenta e não posso deixar de pensar nas palavras de um velho livro, muito em voga na época, aqui fica a sugestão de leitura, especialmente para as mais jovens.

ESCUTA A MINHA DIFERENÇA

Mariella Righini: "De ma féminité," dit-elle, " je n'ai jamais fait de complexes. Ni d'infériorité, ni de supériorité. Surtout pas d'égalité."

("Sobre a minha feminilidade”, disse ela, “nunca tive complexos nem inferioridade nem superioridade. E muito menos de igualdade.")

sexta-feira, 7 de março de 2025

Pequena entrevista à CONOSCERE TV, a propósito de "Sul Sereno"

(Conoscere TV-Itália)


Continuamos ...obrigada, pelos incentivos!







segunda-feira, 3 de março de 2025

"flood the zone"

 

Alto Alentejo - 2025

    Um título em inglês não seria expectável, por estes lados. Gosto da nossa Língua, pois ela abraça o mundo, na sua diversidade e variação geográfica. Nisto não se leia o passado colonial, culpa que não posso assumir, mas reconheço na memória histórica do meu país e que não saberia reescrever, pois a História não se reescreve, mesmo se nestes tempos de desorientação tudo parece possível.
    Leio, José Gil, o filósofo português num largo artigo de jornal e destaco a afirmação, "Como todos os fascismos, o actual precisa de um pólo negativo para se afirmar enquanto pólo positivo, puro e absoluto(...)"-Público, 9 de fevereiro. E, fico a pensar no momento que estamos a viver no país e no mundo.
    Por me assumir sonhadora inveterada, cidadã do mundo e frágil como todos os humanos, gosto de estar informada e, de forma livre, analisar contextos. Ocorre-me, então, esse título em inglês, essa nefasta prática do inteligente e perigoso estratega que está na sombra do actual presidente dos U.S.A (e não América, que é um imenso e belo continente) - Steve Bannon e a sua assustadora "flood the zone" que em tradução literal, seria “inundação”. Ou seja, criar polémicas diárias para desorientar a opinião pública no mundo, de modo a gerar uma teoria do caos que permite a desumanidade e a ascensão dos novos líderes de extrema direita.
    A inundação populista é algo de muito sério e estrategicamente elaborado. Não é risível, nem fruto de falta de conhecimento. Essa intencionalidade é devastadora.

Lembram-se disto? 


O mosteiro de Trisulti, sede da Academia do Ocidente judaico-cristão.A. Nusca

    Agora, que o Papa Francisco agoniza, talvez a ideia se venha a concretizar. 

domingo, 23 de fevereiro de 2025

Estamos à beira de mais um colapso de civilizações?

 

Atenas - José Alves


    "Grandes civilizações não são exterminadas, mas acabam com a própria existência."

    Essa é a conclusão do historiador britânico Arnold Toynbee na sua principal obra, Um Estudo da História, dividida em 12 volumes. Ele explorou a ascensão e a queda de 28 civilizações diferentes.


    
Mais informação, no link:



sábado, 8 de fevereiro de 2025

Ao Amor, em PALAVRAS ALADAS

 





Ana Tapadas, SUL SERENO, Europa editora, Lisboa, 2024, p. 18


    Não sendo eu de dias marcados ou santificados, o Amor é o númen que nos poderá salvar. Por esse motivo, aceitei o convite do nosso amigo Juvenal Nunes - exímio conhecedor da nossa Literatura - para com ele celebrar o dia de S. Valentim. 

Saúde!


José e Ana Maria (Mónaco)