Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165
quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
domingo, 13 de janeiro de 2013
Desassossego
Edgar Mueller |
Hoje, farta de notícias manipuladoras e de incúria, deu-me para reler excertos de Bernardo Soares, Livro do Desassossego. Retenho uma passagem, bem a condizer com os tempos que vivemos:
«Essas criaturas tinham todas vendido a alma a um diabo da plebe infernal, avarento de sordidezas e de relaxamentos.
Viviam a intoxicação da vaidade e do ócio, e morriam molemente, entre coxins de palavras, num amarfanhamento de lacraus de cuspo.
O mais extraordinário de toda essa gente era a nenhuma importância, em nenhum sentido, de toda ela. Uns eram redatores dos principais jornais, e conseguiam não existir; outros tinham lugares públicos em vista do anuário e conseguiam não figurar em nada da vida;[...]».
E, eu, que dizem ser eclética (ao ponto de usar o wok para saltear os meus cozinhados vegetarianos e para confeccionar as migas alentejanas), dou por mim a pensar que vivemos numa estranha ilusão óptica, ao jeito das composições de Edgar Mueller.
Vivemos o desassossego, essa estranha palavra de cinco «s» - nem precisamos de maiores simbologias...
Ana
quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
Relatório
Persepolis |
Enquanto o meu país definha e a Grécia agoniza, ocorre-me pensar em leituras antigas, daquelas que remontam ao séc. IV antes da era comum. Poderia ser Aristóteles, poderia ser Clearco e o seu De Somno...estaria em Delfos, na ilha de Chipre ou algures entre a Europa e a Ásia. Todavia, estou aqui. A fuga, o voo parecem-me apenas delírios. Hoje é impossível sonhar.
Ah, velhos impérios e novos declínios!
Ah, velhos e sábios e novos ignorantes!
Por onde andas, Clearco? Já não reescreves os ensinamentos do mestre, nem te exercitas com os pitagóricos?
Já não se reproduz, nas novas terras escravizadas, o velho ensinamento helénico?
Só a ruína perdurará no transcorrer dos dias?
Sibila não o serei, que só negros fumos saem destas piras, porém aqui te deixo - de memória - o basilar ensinamento:
Em criança, aprende as boas maneiras;
Em adolescente, controla as tuas paixões;
Em homem maduro, sê justo;
Quando envelheceres, dá bons conselhos;
Ao morreres, fá-lo sem remorsos.
Estranhos escritos agora te ocupam as jornadas.
texto integral |
Ana
quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
Arrebol
Vicente, Alentejo |
O sol espraia-se mesmo se a terra escurece. O arrebol leva consigo a promessa de outros dias por vir. E, na fria aragem do poente, uma solidão pesada mas tranquila acalenta ideais indestrutíveis. A Verdade e a Justiça erguer-se-ão na quieta linha do horizonte. Fraternos acolheremos a alvorada!
Ana
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