José Alves |
O bafo quente, destes dias, acolhe-nos e anicha-nos contra o peito ancestral da Terra. O ritmo dos dias altera-se e as noites alongam-se, flácidas como as madrugadas que Cronos habita.
O amanhecer é suave, como sedas em países longínquos, com negro café em jardins do Mediterrâneo. Cada instante, perene de vida, enreda-nos e atira-nos para memórias velhas e sonhos de novos rumos.
Éramos tão jovens, quando, naquele Verão, nos casámos e, aqui estamos, tecendo os birlos do futuro.
Renda de bilros, Nisa - Alto Alentejo |
A boca,
onde o fogo
de um verão
muito antigo
cintila.
O que pode uma boca
esperar
senão outra boca?
onde o fogo
de um verão
muito antigo
cintila.
O que pode uma boca
esperar
senão outra boca?
Eugénio de ANDRADE, Obscuro Domínio, 1972.